E havia em Jope uma discípula chamada Tabita, que traduzido se diz Dorcas.
Esta estava cheia de boas obras e esmolas que fazia".(At 9:36)
Dorcas foi chamada por Lucas de discípula, o que significa que ela era uma
seguidora de Jesus Cristo. O seu amor pelo Mestre era demonstrado pelo amor e
pela dedicação aos seus semelhantes, e, para isto, usou seu talento natural de
costureira, auxiliando os outros na confecção de peças de vestuário. Desta
maneira, ela praticava obras de caridade em favor da comunidade em que vivia.
Era o tipo de mulher que qualquer pessoa gostaria de ter como vizinha e amiga.
Sensível às necessidades das pessoas, estava cheia de boas obras e esmolas que
fazia (At 9:36b). Uma mulher assim faria muita falta a essa comunidade,
acostumada com seus benefícios; então, Deus usou o apóstolo Pedro para que
Dorcas continuasse servindo.
I
– O que a Bíblia diz sobre Dorcas
Dorcas tinha não só um nome grego, mas, também, um nome semítico. Talvez um
deles fosse uma espécie de nome carinhoso para indicar especial afeição. Tabita,
em aramaico, e Dorcas, em grego, significavam “corça”, um animal
que anda pelas alturas, protegendo o rebanho e estando alerta para adverti-lo
dos perigos. Assim era comparada a solicitude daquela mulher: sempre pronta a
proteger alguém, do alto de sua alma nobre. Dorcas poderia ser chamada pelos
dois nomes, porque a cidade de Jope, onde morava, sendo um porto marítimo, era
habitada por judeus e gentios.
Assim, era comum que tivessem um nome hebraico e um nome grego ou latino. Jope
ficava na fronteira do território original de Dã, embora não fizesse,
necessariamente, parte dele (cf. Js 19: 40-41,46). Pode-se dizer que Jope era
antigo porto marítimo, situado a uns 55 km de Jerusalém, e, atualmente, é a
cidade Yafo, com o nome árabe Jaffa, que foi fundida com Tel Aviv, em 1950, e
se chama, agora, Tel Aviv-Yafo. Seu porto, o único porto natural entre o monte
Carmelo e a fronteira do Egito, é formado por um recife baixo a uns 100m da
costa. Em Jz 5:17, Dã é associado a navios, o que pode indicar que os danitas
controlavam o porto marítimo de Jope. Essa cidade lembra-nos do profeta Jonas,
que, querendo fugir do mandado do Senhor, tomou um navio em Jope para ir a
Tarsis (Jn 1:3). Após o exílio babilônico, Jope, de novo, serviu como porto
para receber os cedros do Líbano, empregados na reconstrução do templo (Ed
3:7).
Havia uma congregação cristã em Jope, no primeiro século da Era Cristã. Nessa
congregação, servia Dorcas, que é a única mulher mencionada na Bíblia a quem se
aplica a forma feminina da palavra discípulo. Não se faz nenhuma menção
sugerindo que ela fosse casada, ou que tivesse alguma família. Portanto,
deduzimos que ela morava sozinha e que era costureira (At 9:36-39). Dorcas
usava o seu talento e suas mãos para fazer roupas para os pobres,
principalmente para as viúvas. Ela confortava os tristes, ajudava os pobres e
levava alegria a muitas pessoas. Ela era amada por muitos em Jope. Suas boas
ações a tornaram grandemente amada. Era uma digna discípula de Jesus e estava
repleta de atos de bondade. Sabia quem carecia de roupa confortável e quem
necessitava de simpatia, e, liberalmente, supria essas pessoas. Esta discípula
tinha um ministério incrível, o ministério da vida. Era uma construtora de uma
sociedade de amizades, uma arquiteta de comunidades fraternais. Quando a vida
das pessoas transborda de amor em ação é porque elas se tornaram mais
eficientes em retratar o caráter de Deus. O mundo aprende a confiar no que os
cristãos fazem, através de fortes exemplos que causam grandes impactos no viver
diário, mais do que nas palavras que dizem. Dorcas exercia um serviço cristão
poderoso, a favor da reputação de Deus, por toda a cidade de Jope. Vidas como a
dela acrescentam valores espirituais àqueles que as cercam. Pessoas como Dorcas
são raras, pois vivem para construir vida em vidas. Ela cumpria muito bem o
propósito existencial do seu nome, pois sabia viver em conjunto, ser agregadora
de vidas.
Isto fica explícito quando ela ficou enferma e veio a falecer. Após a
confirmação da sua morte, suas amigas lavaram-na e colocaram-na em um quarto
alto (cf. At 9:37). Um sofrimento indescritível atingiu os que foram
beneficiados por suas mãos. Desta maneira, podemos ver que aquelas viúvas não
eram meras carpideiras (senhoras que eram contratadas para prantear em
velórios), mas amigas que construíam algo em conjunto. Dorcas era conhecida
pelos valores que construía, assim como por esmolas e ofertas que oferecia.
Isto causava tamanho impacto no coração de seus amigos que eles diziam: “Uma
pessoa destas não pode ficar morta!” E, inconformados, mandaram chamar
Pedro, que estava em Lida, distante de Jope uns 18 km, a sudeste. Lucas narra o
incrível episódio com estas palavras:
"E, como Lida era perto de
Jope, ouvindo os discípulos que Pedro estava ali, lhe mandaram dois varões,
rogando-lhe que não demorasse em vir ter com eles. E, levantando-se Pedro, foi
com eles; e quando chegou o levaram ao quarto alto, e todas as viúvas o
rodearam, chorando e mostrando as túnicas e vestidos que Dorcas fizera quando
estava com elas. Mas Pedro, fazendo-as sair a todas, pôs-se de joelhos e orou;
e, voltando-se para o corpo, disse: Tabita, levanta-te. E ela abriu os olhos,
e, vendo a Pedro, assentou-se E ele, dando-lhe a mão, a levantou, e, chamando
os santos e as viúvas, apresentou-lha viva" (At 9:38-41 ).
O milagre da ressurreição de Dorcas não objetivou apenas o
retorno de uma pessoa, mas a preservação de vidas que dependiam dela. Pedro
também não estava trabalhando sozinho; estava recebendo instruções de Deus. E
Deus vê coisas que, muitas vezes, não vemos ou que omitimos. Talvez os crentes
de Jope necessitassem de alguma poderosa evidência da solícita atividade de
Deus em seu meio. Restituir a vida a Dorcas, para que seu testemunho pudesse
continuar a favorecer aquela igreja, era a maneira de Deus dizer o quão vital
era o dom de Dorcas em favor de seu reino, de sua causa na terra. Sem dúvida, a
Dorcas ressurreta continuou a oferecer, generosamente, seus préstimos a quem
necessitasse.
Dizem que custa entre 250.000 e 500.000 dólares substituir um administrador
executivo- chave que se aposentou ou ficou doente. Isto explica por que grandes
empresas estão dando tanta ênfase à conservação da saúde dos seus homens que
ocupam os cargos mais altos. Isto tem bom sentido financeiro. Por motivos muito
maiores do que financeiros, a igreja primitiva mantinha suas pessoas de
importância trabalhando para o Senhor o mais longo tempo possível. Como
poderiam substituir um apóstolo Paulo, ou João, o discípulo amado, mesmo que se
tivessem grandes somas de dinheiro? Sua sabedoria, sua maturidade espiritual,
seus dons seriam insubstituíveis!
Assim era aquela humilde discípula naquela comunidade: insubstituível, pelo
menos por aquele tempo. Isto deveria comunicar-nos uma nova apreciação
daqueles bondosos e, muitas vezes, desconhecidos santos, cujo falecimento
talvez nunca se constitua manchete de jornal, mas leve os pobres e necessitados
a chorar. Estão ensinando verdades essenciais acerca de Deus. Alguém que
vive a fé através das boas obras é verdadeiro cristão (Tg 2:14 -18 . A vida de
Dorcas é um perfeito exemplo de alguém cujos talentos foram usados para
beneficiar os semelhantes. Por suas obras, ela glorificava a Deus e propagava o
seu reino. O relato de sua vida é uma admoestação para nós. Se usarmos
nossos dons e talentos para servirmos as outras pessoas, elas começarão a
crescer. Deus nos incentiva a nos lançarmos a isto com fé. Aceitemos ser
incentivados a usar nossos talentos com sabedoria. Se assim fizermos, seremos
recompensados.
Devemos notar, também, que o ministério de Pedro foi especialmente marcado por
milagres. Em Lida, ele curou um homem chamado Enéias (At 9:32-35). Em Jope,
Deus o usou para ressuscitar Dorcas (At 9:36-42). Por fim, recebeu de Deus uma
visão que o convocava para Cesaréia, onde apresentou o evangelho aos gentios
(At 10:9-48). Ele foi o líder maior dos apóstolos, e seu ministério reanimou o
entusiasmo da igreja primitiva. Apóstolo era uma pessoa a quem Cristo havia
escolhido para um treinamento especial no ministério (Gl 1:12). Os
apóstolos lançaram o alicerce da igreja, mediante a pregação do evangelho de
Cristo (I Co 3:10-11; Ef 2:20; Jd 3-21). Assim, Deus usou Pedro para abrir
a porta da salvação aos gentios, através da manifestação do seu poder, em
milagres e prodígios, sendo que foi isso notório em toda a Jope, e muitos
creram no Senhor (At 9:42).
II
– Lições da vida de Dorcas
1.
Aprendamos a usar nossos dons na ajuda ao próximo
Embora não tenhamos todos os dons de Pedro e Dorcas, nós também podemos servir
aos outros. Podemos levar alegria às pessoas que nos rodeiam, por simples atos
de bondade e amor. Portanto, nossa vida pode ser uma bênção aos outros, se
pegarmos o pouco que temos e começarmos a usá-lo para servir outras pessoas.
Somos incentivados a ser generosos com o que Deus nos deu. Devemos estar
dispostos a emprestar aos pobres (Êx 23:11; Dt 15:7-8). Também nos é dito que
devemos ser ávidos para compartilhar e dar aos outros (At 4:34-35; I Co 16:2;
Gl 2:10). Leia II Coríntios 9:6-11 e veja o quanto Deus ama ao que dá com
alegria, e nós ceifaremos o que semearmos.
2.
Aprendamos a testemunhar de Cristo, através das boas obras.
É necessário que nós todos, enquanto igreja, tenhamos consciência do que seja
uma igreja que realmente testemunha o senhorio de Cristo. Para isso, precisamos
definir o que é testemunho. Testemunho é a marca distinta que cada cristão
mostra ao mundo, através de atos sacrificiais que mostrem Jesus Cristo como
Senhor da sua vida. Testemunho é o compromisso diante de Deus em expressar
o que ele faz, o que ele quer e o que ele é; é mostrar a obra de Deus na nossa
vida; é viver de tal forma que a pessoa de Cristo seja vista em nossa vida; são
atos de sacrifício praticados pela fé e por amor a Jesus. Isso traz algumas
implicações na nossa maneira de viver; mostra que o testemunho envolve ética e
caráter, isto é, a forma pela qual vivemos o nosso dia-a-dia, a nossa boa
conduta diante da sociedade. Também mostra que, enquanto a proclamação aponta,
verbalmente, para Cristo, o testemunho aponta, silenciosamente, para Cristo,
especialmente através das boas obras que realizamos aos nossos semelhantes.
3.
Aprendamos a usar os milagres divinos para atrair os pecadores a Cristo.
No princípio de seu ministério, Jesus adquiriu a estima e a admiração do povo,
porque, na região do mar da Galiléia, ele foi a uma festa de casamento e
transformou água em vinho. Este foi o primeiro de seus milagres que a Bíblia
menciona. Este milagre, da mesma forma que os últimos, confirmou que ele era
verdadeiramente Deus. Quando João Batista começou a pregar e atrair grandes
multidões na Judéia, Jesus voltou para a Galiléia, onde operou muitos milagres
e grandes multidões o cercavam. Antes de subir aos céus, ele deixou a ordem
para que os apóstolos evangelizassem e garantiu o poder para efetuarem sinais e
maravilhas (Mc 16 :15 -19 ). Pedro falou à igreja no dia de Pentecostes,
revelando a importância de Cristo como Senhor da salvação (At 2:14 -40), e o
Espírito Santo revestiu a igreja de poder para operar sinais e maravilhas que
confirmavam a veracidade dessa mensagem (At 2:43). A ressurreição de Dorcas foi
uma prova significativa de que a igreja deve buscar os milagres de Deus, não
como um fim em si mesmo, mas como uma forma santa de atrair os incrédulos, a
fim de lhes mostrar a salvação em Cristo Jesus.
Conclusão
Aprendemos muito através da vida simples de uma verdadeira discípula de Cristo.
Agora, devemos aplicar estes princípios em nossa vida. De que maneira nossa
generosidade poderia ser expressa? Estamos escutando o clamor dos pobres? Como
poderíamos fazer mais pelos pobres e necessitados, tanto dentro quanto fora da
nossa igreja? Se semearmos o amor, a benevolência e a paz, Deus multiplicará
nossos talentos também! Mostraremos, então, ao mundo, através de atos
praticados, que amamos ao Senhor Jesus, pois os nossos atos falam mais que
nossas palavras. Isto significa que, quando testemunhamos de Cristo ao mundo,
estamos sendo continuadores da sua obra, e, nesse sentido, podemos dizer que a
nossa atuação, como cristãos, envolve sacrifício em benefício do outro e prova
que não somos omissos, uma vez que "Aquele (...) que sabe fazer o bem e
o não faz, comete pecado" (Tg 4:17 ). Além disso, a cura divina é algo
sobrenatural que Deus disponibiliza para a sua igreja. Esperamos que esta
capacidade espiritual em nossa vida, possamos beneficiar aos de fora e aos de
dentro da igreja.
Que Deus nos abençoe!
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