Cicero
Canuto de Lima, mais que um líder, foi uma legenda dentro das Assembleias de
Deus no Brasil. Ao lado de Paulo Leivas Macalão, é um dos nomes mais
emblemáticos da denominação. Tal como o pastor Macalão, é impossível contar a
história das ADs sem se referir ao saudoso obreiro. Mas como muitos pioneiros
das ADs, muito se fala em Cícero Canuto de Lima, porém pouco se sabe sobre ele
de fato. Quem foi esse senhor e líder?
Segundo
fontes oficiais, Cícero nasceu em Mossoró/RN no dia 19 de janeiro de 1893. Converteu-se
ao pentecostalismo em 1918 na cidade de Timboteua, Pará. Em 1923 foi separado
ao ministério pastoral por Gunnar Vingren. Cooperou nas igrejas do Pará, mas
logo seguiu para João Pessoa capital da Paraíba (na época a capital do Estado
da PB se chamava Cidade da Paraíba). Por 15 anos liderou essa igreja, rumando
para o sul em 1939 onde cooperou na AD em São Cristóvão, até que em 1946,
depois de pastorear a AD em Santos, assumiu a AD Missão em SP. Em SP foram 34
anos de pastorado, o qual cessou somente em 1980 ao ser sucedido por José
Wellington Bezerra da Costa.
Fora
algumas informações mais edificantes (como em toda biografia oficial), como a
sua experiência de conversão, perseguições religiosas e o Batismo com o
Espírito Santo, pouco se comenta sobre sua personalidade, ou sobre seu método
de trabalho. Mas como todo grande líder e homem que foi, Cícero teve suas
ambiguidades e decifrá-lo ainda é um desafio para os estudiosos das ADs.
Uma
coisa é certa: Macalão passou à história oficial, e ao imaginário assembleiano
como o líder doutrinador e de grande conservadorismo. Porém, ao longo da vida e
ministério, Paulo Leivas foi flexibilizando. Como Cícero, Macalão foi contra
institutos bíblicos, congressos de jovens e era famoso por sua "proverbial
rigidez" na conduta moral dos membros do seu ministério. Contudo, com o
tempo, se percebe certa abertura a muitas iniciativas antes condenadas por ele
mesmo, ou por outros líderes assembleianos.
Cícero,
ao contrário, não teve a mesma flexibilidade de Macalão. Até o fim de sua
carreira, condenou todas as mudanças, que ao seu ver desvirtuavam a igreja.
Enquanto a AD ministério de Madureira já fazia congressos de jovens, tinha
instituto bíblicos e círculo de oração de senhoras, a AD no Belenzinho
permanecia engessada. O engessamento do ministério e sua avançada idade, ao que
tudo indica, precipitaram à uma sucessão que fugiu do seu controle.
Talvez
o motivo dessa inflexibilidade, fosse uma fixação, um reconhecimento contínuo,
alimentado por si mesmo e por outros admiradores seus ao longo da vida, de
pertencer ao "troco principal", ou seja, de ser herdeiro legitimo dos
ensinamentos dos míticos missionários suecos. Assim, sentindo-se como grande
fiador da "doutrina", Cícero desprezava qualquer inovação aos métodos
à ele confiados pelos pioneiros.
Ao
ser entrevistado pelo Mensageiro da Paz (nº6 de 1974), por ocasião do 50 anos de seu
ministério, o velho pioneiro expressou seu desejo de "...continuar como
comecei, na doutrina que aprendi. Nos costumes dos primeiros missionários,
daqueles homens de Deus", e termina a entrevista afirmando
categoricamente que "nestas bases estou trabalhando e pretendo
seguir até que Deus nos permita!".
Anos depois, já aposentado, sentindo-se esquecido dos irmãos, em declaração
à Folha de São Paulo (18 de janeiro de 1982), o velho
pioneiro, além de reclamar das mudanças realizadas por seu sucessor, ainda
mantém o discurso da legitimidade: "Foi
triste constatar o fato, é triste sempre quando vemos irmãos nossos
separando-se do tronco principal da Igreja. Eu, hoje, represento e faço parte do tronco
principal".
Soma-se
a isso ainda, a escrita empregada nas matérias do Mensageiro
da Paz, (principalmente dos anos 60) onde a
AD do Belenzinho sempre se declara e intitula a "pioneira" e
"Igreja Mãe" em oposição a outros ministérios tidos como ilegítimos e
espúrios. Há sempre um tom de guerra velada contra outros ministérios da AD
implantados na Pauliceia.
Porém,
temos algo de contraditório em sua biografia. Apesar de se declarar do
"tronco" principal, pastor da "Igreja Mãe", e herdeiro
legitimo dos primeiros missionários, pastor Cícero, juntamente com outros
obreiros da região Norte/Nordeste, idealizou em Natal/RN a 1ª Convenção Geral a
ser realizada na mesma cidade em setembro de 1930. E é notório, que além de ser
seu primeiro presidente, ele e os demais pastores nativos, contestaram os
missionários suecos, pois sentiam "necessidade de terem maior liberdade na
condução dos trabalhos" e deles exigiram um novo rumo para as ADs no
Brasil.
Fontes:
ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
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