O professor cristão é, em sentido lato, um profeta, um propagador ou
lembrador das verdades de Deus; e, por assim ser, ele tem uma tripla
responsabilidade: Uma responsabilidade em relação a Deus, a quem devemos
de prestar contas (Hb 4.13; IPe 4.5); responsabilidade em relação a si
mesmo e, por fim, mas não menos importante, uma responsabilidade em
relação aos seus alunos, que é o objeto último do seu ensino.
Aquilo que chamamos em outra oportunidade de “sua responsabilidade em
relação ao seu semelhante” que é, como diz as Escrituras, imagem de Deus
(Gn 1.26). O ambiente da sala de aula é um lugar de relações humanas e,
no caso cristão, um lugar de maturação, de crescimento. Esse é o
ambiente de “trabalho” do professor. Trabalho esse que é exercido com
oração, amor e dedicação ao chamado que Deus, em sua graça, entregou a
cada um que exerce o magistério cristão. Uma vez que “a relação entre
professor e aluno ganha contornos de relevância como parte integrante”
no processo de ensino e aprendizagem, cabe então pensar quais são as
responsabilidades do professor cristão em relação ao seu aluno em
sentido global.
Deve conhecer o conteúdo base do seu ensino
A Bíblia é a Palavra revelada de Deus e, por isso, a base de todo o
ensino cristão. De outro modo poderíamos dizer que todo o ensino cristão
que não tem a Bíblia como sua bússola a indicar a direção a ser
seguida, não é digno de ser chamado por esse nome; nada mais é do que
fábulas e retóricas persuasivas para conduzir ao engano, como bem disse o
apóstolo (Tt 1.14). Quando o professor cristão se volta para as
Escrituras, faz com que o seu aluno seja santificado pela verdade e
tenha uma “firme consolação” (Hb 6.18, Jo 17.17). A não centralidade da
Palavra no ensino cristão certamente acarretará, entre outras coisas, em
nanismo espiritual, ou seja, “pequenez anormal do tamanho com relação à
média dos indivíduos da mesma idade”, em nosso caso, espiritual; isso
acontece “porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do
que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do
espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos
e intenções do coração” (Hb 4.12). Assim cabe ao professor encharcar o
seu aluno da “boa Palavra de Deus”(Hb 6.5). Isso, porém, só será
possível se o professor for conhecedor e estudante das Escrituras. Como
disse Paulo a Timóteo, seu filho na fé, o professor deve ter cuidado de
si “mesmo e da doutrina [...] porque, fazendo isto” ele salvara tanto a
ele mesmo como aqueles que o ouve (ITm 4.16). No antigo Testamento temos
a exortação que o próprio Deus faz ao líder Josué:
Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo, para teres o cuidado de
fazer conforme a toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te
desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que prudentemente
te conduzas por onde quer que andares. Não se aparte da tua boca o
livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado
de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás
prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido. (Josué 1.7-8)
Tais palavras devem servir ao educador que professa e ensina a fé
baseada na revelação de Deus como uma espécie de exortação confortante. O
pastor e teólogo cristão John Stott entendeu bem a importância da
Palavra para o povo de Deus. Disse ele:
A Igreja depende da Bíblia em muitos aspectos [...] o Criador sempre
sustenta aquilo que ele cria; e, desde que deu vida a Igreja, ele mantém
sua existência. E mais, tendo-a criado através da sua Palavra, ele a
sustenta e nutre pela sua Palavra. Sem ela as Igrejas não podem
florescer. As igrejas precisam ouvir a Palavra de Deus constantemente
[...] A comunidade cristã cresce rumo à maturidade em Jesus Cristo
apenas quando ouve e recebe a Palavra de Deus, crê nela, a absorve e lhe
obedece. (Stott, 1993, pp. 70, 72-73)
Compreender a centralidade da Bíblia para o ensino cristão é de suma
importância para aqueles que querem exercer o seu ministério para com a
Igreja de Deus. Isso não significa, contudo, que o professor deve
desprezar qualquer outra ferramenta na prática educativa; pelo
contrário, o educador cristão deve ser sensível àqueles instrumentos
metodológico que proporcione aos alunos “uma situação que os induza a um
esforço intencional, a uma atividade visando a certos resultados
queridos e compreendidos” (Nérici, 1992, p. 168); no contexto cristão,
esse resultado pretendido e que o educando (o aluno) cresça “em tudo
naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4.15). O conteúdo base do ensino
cristão é a Bíblia, voz de Deus aos homens de todos os lugares e em todo
o tempo.
Deve conhecer métodos de ensino
Compreender e conhecer as Escrituras são exigências sem a qual não há
um verdadeiro ensino cristão; contudo, tão importante quanto conhecer a
Palavra de Deus é conhecer métodos que sirvam de ferramentas para o
claro e objetivo ensino dos oráculos de Deus. O resultado desse
conhecimento é que, quando dominamos os métodos de ensino, esses métodos
trazem uma boa impressão à mente e ao coração do aluno, para levá-lo a
expressar-se educativamente, e, consequentemente, ao amadurecimento
cristão. Para o teólogo cristão Antônio Gilberto, “método é um caminho
na ministração do ensino pelo professor, para este atingir um
determinado alvo na aprendizagem do aluno. Portanto, o método não é um
fim em si mesmo. O professor deve conhecer a fundo não só aquilo que vai
ensinar, mas também como ensiná-lo. É aqui que os métodos e os
acessórios de ensino são de grande utilidade” (Gilberto, 2011). De modo
simples, poderíamos dizer que: ensinar requer domínio do assunto ao qual
se ensina e de técnicas para expor aquele conteúdo. Para isso é preciso
que o professor cristão tenha um conhecimento, ainda que mínimo, de
Didática, que é a área teórica que “investiga os fundamentos, condições e
modos de realização da instrução e do ensino.” (Lebâneo, 1992). No
nosso caso, de ensino religioso. Temos, então, que o professor precisa
conhecer os instrumentos didáticos para corroborar o seu ensino da
Palavra revelada de Deus; tal conhecimento nos é fornecido pela pesquisa
e leitura de materiais de apoio para o aperfeiçoamento do ato docente.
Há aqui uma questão fundamental:
Como motivar professores que, durante anos e anos vêm avalizando um
modelo retrógrado e decadente de ensino na Escola Dominical, onde impera
o famoso "faz-de-conta": Ele faz-de-conta que ensina e o aluno que
aprende; a igreja faz-de-conta que tudo está bem, quando, de fato, nada,
está bem. Se um professor está há anos envolvido neste "faz-de-conta"
terrível, vai precisar de muita paciência e atenção por parte dos
líderes e do pastor para ter resgatado seu potencial de educador [...]
Washington Roberto Nascimento identificou o profeta com o jequitibá,
árvore forte e milenar; quanto ao sacerdote, comparou-o ao eucalipto,
planta frágil e fugaz. Disse que um eucalipto nunca se transformará em
jequitibá, a menos que dentro dele haja um jequitibá adormecido. O mesmo
podemos dizer do professor acomodado a um sistema retrógrado: se houver
nele um educador adormecido, poderá se transformar num professor
dinâmico e criativo. (Dornas, 2002, p. 41)
A transformação do professor de um eucalipto em um jequitibá, portanto,
se dará quando dois requisitos fundamentais forem alcançados, a saber:
1) quando houver uma pré-disposição docente para o aperfeiçoamento no
ministério do ensino da Palavra, para o crescimento e aperfeiçoamento
dos santos e 2) quando houver condições intrínsecas, uma chamada
especial de Deus, para que aquele indivíduo desempenhe o ministério de
mestre, de ensinador (Ef 4.11; ICo 12.29). Aqueles que foram dados à
Igreja como mestres, devem desenvolver em si um “senso de dever” que os
levem “a orientar a aprendizagem de outrem para que alcance objetivos
que sejam úteis à sua pessoa [à Igreja] ou à sociedade ou mesmo ambos”
(Nérici, 1992).
Deve conhecer o seu tempo
Umas das ilustrações mais usadas para representar o educador, e
principalmente o educador cristão, é um guia (Rm 2.19). Como guia, o
professor é alguém que oriente, que conduz outros mostrando a eles o
caminho a ser seguido, um modelo; mas para ser um condutor o professor
precisa, como a própria ilustração deixa transparecer, conhecer a
realidade do caminho, o que os teóricos tem chamado de “contextualização
do ensino”, ou seja, levar o aluno a refletir e encontrar a sua
realidade para nela agir de maneira consciente, eficiente e responsável.
A necessidade de conhecer a realidade em que está inserido é
fundamental no homem, principalmente naquele que tem como chamado
ensinar a outros. Não havendo essa consciência de realidade o homem
andará como que em um quarto escuro sem saber para onde ir; isso para o
professor cristão seria uma verdadeira catástrofe, pois ele “precisa ter
percepção clara e bem definida do propósito do seu ensino. Só assim
poderá ter êxito em seu trabalho.” (Pearlman, 1995). Cada época traz
consigo suas peculiaridades, por isso é tão importante uma leitura
consciente da realidade cultural da qual fazemos parte. Como bem disse
Veith, Jr.:
Para aproveitar as oportunidades e evitar armadilhas, os cristãos devem
empreender um processo contínuo de ‘conhecer o tempo’ (Rm 13.11). A
Igreja sempre teve de confrontar sua cultura e existir em tensão com o
mundo. Ignorar a cultura é arriscar-se à irrelevância; aceitar a cultura
sem críticas é arriscar-se ao sincretismo e à infidelidade. (1999, p.
6)
Quando se propõe a olhar cuidadosamente o seu tempo, o professor tem a
oportunidade de fazer do seu aluno um cristão consciente das
dificuldades que sua fé enfrenta e enfrentarão diante das idéias,
crenças e filosofias contemporâneas (do nosso tempo); fugindo, assim, da
tentação de praticar um ensino “para as nuvens” que não atenda às
necessidades do educando. A educação cristã “deve levar o indivíduo a
atuar na realidade porque é dela e nela que ele vive” (Nérici, 1992).
Esse encontro com a realidade deve instar o educador cristão a cumprir o
seu ministério, isto é, pregar a Palavra, repreender, exortar e falar
das verdades eternas em todo o tempo; “porque virá tempo em que não
suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão
para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão
os ouvidos da verdade, voltando às fábulas”(II Tm 4.3-4). O esforço do
professor para examinar a sua realidade será, sem dúvida, de grande
ajuda para o seu aluno e para ele próprio como um agente de Deus para
transformação e amadurecimento cristão.
O educador cristão precisa ter como exemplo maior em sua prática
educativa o Senhor Jesus que é o mestre por excelência; Ele não apenas
ensinava com palavras, mas com ações e exemplos (IPe 2.21). O professor
cristão tem que fazer do seu trabalho docente uma necessidade e uma
missão (Jo 4.34); pois só assim conseguirá dar “frutos bons”. John Dewey
(1859-1952), filósofo, psicólogo e educador, em seu livro “Como
Pensamos” (1910 traduzido para o português em 1959), faz uma comparação
entre ensinar e vender. Diz ele: “Ridicularizaríamos um negociante que
dissesse ter vendido grande quantidade de mercadorias, embora ninguém
houvesse comprado coisa alguma. Entretanto, há professores que pensam
ter realizado um bom dia de trabalho educacional sem levar em conta o
que seus alunos aprenderam”. O professor, principalmente o cristão, não
deve se conformar em passar conteúdos aos seus alunos; antes, assim como
seu mestre Jesus, deve ele esforçar-se em oração e aconselhamento para
que seus alunos coloquem em prática aquilo que aprenderam, melhorando
assim a suas vidas em relação a Deus, à família, à Igreja e à sociedade.
Referencias Bibliográficas
A BÍBLIA ONLINE <http://www.bibliaonline.com.br> Acesso em novembro de 2011.
DORNAS, Lécio. Socorro! Sou Professor da Escola Dominical. São Paulo: Hagnos, 2002.
GILBERTO, Antônio. Métodos e Acessórios de Ensino. Disponível em < http://www.cpad.com.br/escoladominical/posts.php?s=50&i=655> Acesso em agosto de 2011.
LIBÂNEO, José C. Didática. São Paulo: Cortez, 1992.
NÉRICI, Imídio G. Didática Geral Dinâmica. São Paulo: Atlas, 1992.
PEARLMAN, Myer. Ensinando com Êxito na Escola Dominical. São Paulo: Vida, 1995.
VEITH, Jr. Gene Edward. Tempos Pós-Modernos. São Paulo: Cultura Cristã, 1999.
STOTT, John R. W. A Bíblia: O Livro para Hoje. São Paulo: ABU, 1993.
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