"Senhores passageiros, sejam bem-vindos a São Paulo! Acabamos de pousar no Aeroporto Internacional de Guarulhos, são 19h em ponto, a temperatura externa é de 20°C." Após ouvirem essa mensagem no alto-falante, os passageiros do voo recém-chegado de Curitiba na sexta-feira à noite, 9 de maio, começaram a se preparar para descer do avião.
Alguns minutos depois, porém, veio o aviso que os manteria sentados na poltrona da aeronave por mais uma hora. "Senhores passageiros, pedimos um pouco de paciência a vocês. Estou vendo aqui pelo menos oito aeronaves aguardando vaga para estacionar, então teremos que aguardar a autorização para o desembarque", disse o comandante.
A reportagem da BBC Brasil estava neste voo e acompanhou a mudança de humor dos passageiros, que foram ficando impacientes com a demora para sair do avião. Somente às 20h05, a aeronave foi liberada e eles puderam pegar o ônibus para a área de desembarque. Para quem precisou pegar táxi para casa, no entanto, a espera continuou na fila do lado de fora do aeroporto, onde centenas de pessoas aguardavam uma corrida.
Segundo a GRU Airport, concessionária que gere o aeroporto de Guarulhos, o problema lá foi "pontual". Sobre a espera pelo táxi, a empresa explicou que está em negociação com a Prefeitura de Guarulhos (que regulamenta o serviço) para aumentar a capacidade de atendimento.
Mas a experiência desagradável em Guarulhos, principal porta de entrada para turistas no país, não foi a única vivida pela BBC Brasil em recentes viagens para seis das 12 cidades-sede da Copa do Mundo.
Segundo o Ministério da Aviação Civil, ela faz parte do processo de "transição dos aeroportos brasileiros para o século 21" - um processo que incluiu reformas e grandes reformulações nos principais aeroportos do Brasil visando atender à demanda não só do Mundial, mas do próprio país, que tem se tornado um destino mais procurado no turismo internacional.
"Nós vamos entrar em um novo patamar da estrutura aeroportuária brasileira. O esforço que estamos fazendo é no sentido de colocar os aeroportos brasileiros no século 21, do ponto de vista de operação, de tecnologia, de gestão", explicou o Ministro da Aviação Civil, Moreira Franco, em entrevista exclusiva à BBC Brasil.
Atraso de mais de três horas em Porto Alegre, um barulho ensurdecedor de obras em Belo Horizonte, tapumes por todos os lugares no Galeão (Rio de Janeiro), espera de horas por um táxi no Santos Dumont (também no Rio), mais obras em Curitiba e em Salvador, foram alguns dos problemas constatados pela reportagem em visitas recentes a essas cinco cidades-sede do Mundial.
Na segunda-feira, uma forte chuva que caiu em Manaus derrubou parte do teto do aeroporto Eduardo Gomes causando vários pontos de alagamento.
"Nossos aeroportos ficaram muitos anos sem nenhuma intervenção física e agora nós estamos correndo contra o tempo para colocá-los de novo na lista dos melhores aeroportos do mundo", disse Moreira Franco.
As intervenções físicas mencionadas pelo ministro começaram a ocorrer nos últimos anos como parte da preparação do Brasil para a Copa do Mundo. A menos de um mês do início do Mundial, porém, a maioria delas ainda não foi entregue, e alguns problemas expostos na infraestrutura aeroportuária das cidades-sede do torneio levantam novamente a questão: os aeroportos brasileiros estão prontos para receber o Mundial?
O Ministro da Aviação Civil garante que o país atenderá tranquilamente os 600 mil turistas estrangeiros esperados durante a Copa do Mundo - além da demanda nacional.
"Vamos estar preparados para atender à demanda, essa é a garantia que eu tenho", disse. "Nós teremos condições de garantir um atendimento, não o ideal, mas um atendimento adequado para os turistas que vierem ver os jogos."
Problemas
Entre os aeroportos visitados pela reportagem - São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro e Brasília -, o caso mais crítico foi o da capital mineira. Lá a obra de ampliação do saguão do aeroporto acontece no mesmo ambiente em que os passageiros chegam para fazer o check-in e despachar as malas. O barulho da construção é tamanho que é difícil entender as orientações dos próprios funcionários do aeroporto.
Em entrevista à BBC, o secretário da Copa de Minas Gerais, Tiago Lacerda, reconheceu que a situação do aeroporto de Confins não causará boa impressão a quem desembarcar na cidade.
"Claro que no primeiro momento, a impressão do turista não vai ser boa. Ele tinha que ser recebido com tapete vermelho. Mas a nossa intenção é reverter esse quadro na hora que ele pisar para fora do aeroporto", disse o secretário, que citou a "ineficiência de gestão" por parte da Infraero como principal motivo do atraso.
Não foi somente o aeroporto de Confins, administrado pela Infraero, que teve problemas para entregar as obras planejadas para a Copa do Mundo dentro do prazo. Dos aeroportos que estão sob responsabilidade da estatal, nenhum ficará completamente pronto antes do Mundial.
A principal justificativa para o atraso foram as dificuldades com a burocracia das obras.
"Como estatal, a Infraero precisa passar por uma série de etapas para executar esses empreendimentos – planejamento, licitação de projetos, licenças ambientais, licitação de obras, avaliação por parte dos órgãos de controle etc.. Em algumas dessas etapas, ocorreram alguns percalços que atrasaram a efetiva realização do empreendimento", explicou o presidente da Infraero, Gustavo do Vale, à BBC Brasil.
Além das obras, outro problema constatado pela reportagem foram os atrasos. Um voo de São Paulo para Porto Alegre marcado para segunda-feira, dia 5 de maio, logo pela manhã, por exemplo, atrasou mais de três horas. O motivo? A neblina que fechou o aeroporto Salgado Filho das 7h às 10h para pousos e decolagens.
O problema é recorrente na capital gaúcha, onde o aeroporto foi construído em uma área baixa, bem suscetível à neblina. A solução encontrada foi providenciar um equipamento chamado ILS (Instrument Landing System) que permite pousos e decolagens mesmo em condições climáticas adversas. Até aquele dia, o aparelho ainda estava em fase de testes e os pilotos não tinham autorização para utilizá-lo. Segundo a Infraero e a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), porém, o uso do ILS está garantido durante a Copa.
"A instalação do equipamento já foi concluída e aprovada pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo do Comando da Aeronáutica (Decea). No momento, a Infraero está providenciando os documentos necessários para que a Anac possa concluir o processo de homologação nos próximos dias", reiterou Do Vale.
Pronto para a Copa
Apesar dos problemas, o governo federal garante que os aeroportos brasileiros estão preparados para receber a Copa do Mundo da melhor maneira possível.
Para a presidente Dilma Rousseff, que inaugura o terminal 3 do aeroporto de Guarulhos nesta terça-feira, os turistas encontrarão uma excelente infraestrutura quando desembarcarem por aqui em junho.
"Garanto que os nossos aeroportos estão preparados para a Copa do Mundo. Vamos receber todos muito bem. E os brasileiros poderão ficar orgulhosos do Brasil que estamos construindo", disse ao programa Café com a Presidenta, da Rádio Nacional.
Entre os aeroportos das cidades-sede com melhor avaliação pelo Ministério da Aviação Civil estão os de Guarulhos, Recife, Manaus, Brasília e Natal. Os casos mais preocupantes estão em Cuiabá, em Fortaleza - onde, por conta do atraso da obra, será utilizado um terminal provisório construído para a Copa - e em Belo Horizonte.
"Mesmo nesses dois casos, nós garantimos que eles estarão preparados para a demanda. Está tudo planejado, tudo organizado. Problemas ocorrem, é normal em grandes eventos, mas temos convicção de que tudo ocorrerá bem", concluiu Moreira Franco.
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