Se confrontarmos os fatores que iluminavam
e davam projeção à igreja primitiva com a mesma classificação de fatores de
nossos dias, descobriremos a causa predominante do brilho inconfundível da
igreja dos primeiros dias do cristianismo.
Na igreja primitiva, os cristãos eram
cuidadosamente instruídos acerca do caminho, em contraste com o abandono em
que vivem os neo-convertidos nas igrejas de nosso tempo.
Naqueles dias, os neófitos aprendiam como
dar razão de sua fé; um príncipe ou um nobre não conhecia melhor a doutrina
cristã do que o homem do povo ou o marítimo que se convertera numa de suas
viagens em um porto qualquer. O conhecimento de uns era o conhecimento de
todos.
Na igreja primitiva, a admissão como
membro era mais difícil do que hoje: o candidato devia ser realmente
convertido e tinha de demonstrar seu desejo de pertencer à igreja, através de
uma série de fatos que faziam recuar os medrosos e todos os incapazes de
fazerem brilhar a luz de Cristo. A admissão era precedida de exames que exigiam
renúncia à vida passada: requeriam provas de que a nova vida era vivida no
Espírito de Cristo. Enquanto o pretendente não estivesse desligado dos laços
que o prendiam ao mundo e seus aliados, quer dizer, ao Diabo e à carne, não
estava apto para o Reino: sua luz não honraria a igreja, não podia ser membro
do corpo de Cristo.
Na igreja primitiva o batismo nas águas
só era concedido àqueles que o mundo considerava "mortos" para si,
por terem sido achados por Cristo, e iluminados pela graça; enquanto o
candidato ao batismo estivesse "vivo" para os homens, não conseguiria
descer às águas. O batismo era o testemunho público de renúncia e morte ao
pecado e significava o desejo de viver em novidade de vida.
Qualquer que fosse batizado, conhecia o
significado desse ato, pois antes de o realizar, passara pela experiência do
novo nascimento; estava pronto a abdicar todas as vantagens, por amor a Cristo;
estava disposto a brilhar por amor ao Evangelho.
Na igreja primitiva a admissão de
obreiros não era obra de homens nem da vontade humana. O escolhido era apontado
por Deus. Se alguém se apresentasse à igreja, a fim de ser eleito para algum
cargo, certamente seria reprovado, senão houvesse provas de ter sido chamado
pelo Espírito Santo (At 13.1).
Quando olhamos para o passado e deparamos
com esse clarão inextinguível que foi o testemunho da Igreja de Cristo, sentimos
desejo de clamar, clamar, clamar até conseguir despertar as igrejas de nossos
dias e dizer-lhes que voltem a viver nos passos de Jesus, que voltem a buscar o
brilho e o testemunho inconfundível de povo adquirido.
Entre outros motivos que congregavam os
cristãos da igreja primitiva, um havia que exercia grande influência na vida da
comunidade: eles reuniam-se com o fim de partirem o pão, na celebração da Ceia
do Senhor. Era esse um ato de alta reverência e um motivo de amor fraternal que
envolvia a esperança da volta de Cristo. Na celebração da Ceia, não faltava a
exortação mútua, em que era mencionada a vinda de Jesus. A promessa dos anjos,
quando Jesus subiu ao Céu, de que Ele voltaria para os seus, era tato recente:
era um elo de esperança que unia todos os corações.
Uma igreja cujo alvo tenha uma definição
e um motivo tão elevado como é o propósito de honrar a Deus, é uma igreja cujo
brilho os inimigos não conseguem apagar, porque o testemunho da fé não se
extingue com calúnias ou perseguições.
A igreja existiu e viveu nos dias distantes
do primeiro século, porque a vida social de então reclamava esse organismo vivo,
para manifestar sua gratidão a Deus e ao mesmo tempo receber o Pão do Céu; seus
membros, como elementos vivos, requeriam ambiente fraterno no qual pudessem
cultivar a comunhão uns com os outros e participar da mesma revelação divina.
A igreja era o lugar desejado pela alma
sequiosa; ali podiam sentir com toda a intensidade a proclamação da revelação
divina, e dos assuntos concernentes à salvação; ali a alma recebia o conforto
e a inspiração das verdades eternas reveladas na Palavra de Deus.
Quem dava relevo e brilho à igreja não
era a inteligência ou a cultura dos homens que Deus usava para anunciarem suas
verdades; a capacidade intelectual desses homens era quase nula; suas
palavras não tinham o verbo fascinante dos oradores gregos. O fulgor da
igreja brotava das verdades recebidas de Deus e fielmente anunciadas aos
homens, como sendo obra do Céu, e não trabalho humano. A única luz que brilhava
na igreja era a luz do Espírito Santo, porque o combustível que ardia era
tão-somente a revelação da graça a orientar todas as vontades.
Em nossos dias há maior número de igrejas
do que nos dias dos apóstolos; há igrejas maiores, templos mais vistosos e mais
amplos. Entretanto, a grande questão é saber se há, hoje, igrejas com o mesmo
reflexo da verdade e da revelação de Deus, como havia então.
Já demonstramos qual era o brilho da
igreja primitiva; a luz que lhe deu tanto fulgor é a mesma luz prometida à
Igreja e aos cristãos de todas as idades. Se as igrejas e as comunidades
cristãs de nossos dias vibrarem dos mesmos desejos e sentimentos que operavam
na igreja e nos corações dos santos de então, é lógico que o mesmo clarão de fé
despertará os homens do século vinte a aceitarem a salvação.
Se as igrejas, hoje, orarem com o mesmo
fervor do Pentecoste, a mesma revelação que atraiu as multidões a ouvirem a
mensagem do Evangelho, atrairá também os famintos espirituais que vagueiam sem
rumo. .
Se a igreja e os cristãos do tempo presente
aceitam o mesmo nome que distinguiu a igreja e os cristãos primitivos, é claro
que estão na obrigação de crer nas mesmas verdades, observar os mesmos princípios
e deixar que a mesma luz as ilumine e lhes dê vida.
O brilho da igreja primitiva pode e deve
ser a luz das igrejas atuais.
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