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sábado, 13 de setembro de 2014

Os entraves para a estratégia de Obama contra o Estado Islâmico

Aviões militares dos Estados Unidos / Crédito: Reuters

Obama prometeu ofensiva com ataques aéreos na Síria e no Iraque para combater EI
O presidente americano, Barack Obama, foi claro: o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) representa uma ameaça não só aos aliados de Washington e seus interesses no Oriente Médio. Pode se tornar, em breve, uma ameaça também para o próprio território americano.
Obama quer uma ação conjunta e já obteve o apoio de vários países no combate ao EI, grupo extremista que já domina partes do Iraque e da Síria.

Para Obama, acusado por muitos de ter evitado um protagonismo na guerra da Líbia, isso representa oportunidade de reafirmar um papel de liderança dos EUA.Aliás, a ameaça do EI já aproxima nações com diferenças históricas, como o Irã e a Arábia Saudita – redutos de xiitas e sunitas, respectivamente –, ambos dispostos a ajudar o governo iraquiano.

"Como americanos, nós agradecemos e aceitamos a responsabilidade de liderar", disse.

Estratégia

A ofensiva de Obama será bem recebida em alguns países-chave do Oriente Médio, onde a inação americana - em especial no que diz respeito à guerra na Síria - prejudicou a posição do país.

EUA oferecem ajuda a sírios afetados pela guerra e buscam apoio turco

O secretário de Estado americano, John Kerry, disse nesta sexta-feira que os EUA oferecerão quase US$ 500 milhões em ajuda humanitária para pessoas afetadas pela guerra na Síria.
O anúncio foi feito na Turquia, na última etapa de sua turnê pelo Oriente Médio para angariar apoio para uma ofensiva americana contra o grupo Estado Islâmico (EI).
Dez países árabes concordaram em ajudar os EUA, mas a Turquia - único membro da Otan (aliança militar ocidental) na região - resiste a dar assistência militar à causa, em parte por preocupação com reféns turcos nas mãos do EI.
Os EUA querem que a Turquia aumente o controle de suas fronteiras para conter o fluxo de estrangeiros que estão se juntando ao EI.
Longe de não ter uma estratégia, como parecia ser pouco tempo atrás, o plano de quatro pontos de Obama - incluindo ataques aéreos, fornecimento de equipamento para combates em terra, ações antiterrorismo e assistência médica e humanitária - se sustenta nas políticas adotadas até agora no Iraque.
Se a preocupação dos Estados Unidos inicialmente parecia ser apenas impedir o avanço dos combatentes do EI, agora Obama quer ir mais longe: a retirada total do Estado Islâmico dos territórios ocupados. Para isso, conta com apoio interno e em vários países do Oriente Médio.
Mas essa grande aliança com países da região pode funcionar de fato?
Isso depende do esforço da coalizão. Arábia Saudita e Catar – aliados de Washington – têm que fazer mais para limitar o financiamento local para o Estado Islâmico.
A Turquia terá de evitar que combatentes atravessem as fronteiras com a Síria para lutar pelo Estado Islâmico.
E, acima de tudo, será que as diferenças entre os países serão superadas a médio prazo para que essa estratégia tenha tempo de colher frutos? Ou as velhas inimizades virão à tona assim que os primeiros ataques aéreos tiveram algum tipo de sucesso?
Estado Islâmico / Crédito: AP
Estado Islâmico conseguiu dominar territórios na Síria e no Iraque
Vale lembrar que as negociações sobre o programa nuclear do Irã também podem, a qualquer momento, prejudicar o objetivo da aliança estratégica entre Washington e Teerã.

Riscos militares

Mas o grande teste para a coalizão virá do Iraque e da Síria. O novo governo iraquiano abriu caminho para uma ação militar ampla dos Estados Unidos no país. Só que os desafios continuam, tanto na esfera política quanto na militar.
O processo de reforma política no Iraque ainda está no começo. O novo governo não está completamente formado e tem muito a fazer para acalmar a minoria sunita.
Alguns regimentos-chave do Iraque treinados pelos Estados Unidos simplesmente se desmantelaram diante dos ataques do EI. Obama fala em reconstruir essa força militar. Outros 475 homens – entre treinadores e conselheiros – serão enviados para o Iraque.
Mas será preciso tempo, tanto para estabelecer um governo mais equilibrado quanto para formar um Exército mais efetivo.
Ao propor ampliar os ataques aéreos até a Síria, Obama está se curvando ao inevitável – não faz sentido permitir que o Estado Islâmico tenha, ali, uma espécie de santuário.
Mas essa estratégia envolve riscos militares. É verdade que, considerando as defesas aéreas da Síria, as vantagens técnicas dos Estados Unidos e o fato de o regime sírio também ser ameaçado pelo EI, o risco para os pilotos americanos é reduzido (caso sejam usados aviões tripulados, em vez de drones).
Obama / Crédito: AP
Obama já tem apoio de 10 países do Oriente Médio; mas quanto tempo vai durar o apoio?
É verdade que, ao combater um inimigo do presidente sírio, Bashar al-Assad, o perigo é de o plano americano ajudar a perpetuar o ditador no poder.
É aí que entra o treinamento americano para o Exército Livre da Síria - o principal grupo de oposição no país. Mas essa é uma oportunidade que pode já estar perdida. Não há dúvidas de que essa organização rebelde pode se tornar uma ameaça real a Assad, mas se isso acontecer, também vai demorar.

Bons amigos, velhos desconhecidos

Há também uma curiosa falta de visão estratégica quanto à Síria.
Muitos analistas temem que uma eventual saída de Assad mergulhe o país no caos, com potenciais massacres da minoria alauíta e com a intensificação de lutas entre grupos inimigos competindo pelo poder.
O que é necessário mais do que nunca é uma visão clara do que seria a Síria pós-Assad, envolvendo Washington e os principais líderes regionais.
E há ainda outra questão crucial que a atual coalizão não deve responder: a ascensão do Estado Islâmico e seu domínio em parte da Síria e no Iraque deriva das revoltas motivadas pela chamada Primavera Árabe – enquanto se renova o controle militar no Egito, muitos ainda nutrem esperanças de mudanças e sociedades mais abertas e democráticas no mundo árabe.
O Estado Islâmico, neste sentido, é um sintoma dos problemas da região e ameaça países e governos - muitos dos quais estão longe de se democratizarem.
Esta é a coalizão com a qual Obama tem de trabalhar. Juntando antigos inimigos por um futuro incerto.

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