Um país com mais de 300 milhões de habitantes, uma imensa população de origem latina e uma vasta cultura de prática e consumo do esporte. Parecia questão de tempo até que os Estados Unidos levassem o futebol a sério – e tudo leva a crer que a hora chegou. Para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, 154.412 ingressos foram comprados por torcedores americanos, atrás apenas dos brasileiros, que adquiriram 1.041.418 até agora.
A terceira nação com mais compradores é a Austrália, bem atrás dos Estados Unidos, com 40.681 bilhetes, seguida da Inglaterra, com 38.043, e a Colômbia, com 33.126. Do total de ingressos vendidos para residentes fora do Brasil, 27,5% foram para os americanos.
FãsOs números não surpreendem Dan Courtemanche, vice-presidente executivo de comunicações da MLS (Major League Soccer, a Liga Profissional de Futebol dos Estados Unidos). "O número só confirma o que se viu na África do Sul, em 2010, quando 40 mil ingressos foram comprados por americanos, já o maior grupo de estrangeiros."
A Liga calcula que o país tenha aproximadamente 70 milhões de fãs de futebol e 20 milhões de praticantes. A final da última Copa, entre Espanha e Holanda, foi vista por mais de 24 milhões de pessoas pela TV.
Dentro dos estádios, os números impressionam. A MLS tem uma média de 19.035 torcedores por jogo, uma das dez maiores ligas do mundo e a terceira entre os esportes coletivos do país, atrás apenas do futebol americano e do beisebol.
O Seattle Sounders tem números de time grande europeu, com 44 mil lugares ocupados a cada jogo em seu estádio. O Portland teve uma sequência de 54 jogos com lotação total e tem lista de espera com 10 mil pessoas para carnês de ingressos para toda da temporada.
E a paixão não é apenas pelo clube, garante Courtemanche. "Se você for ao estádio aqui nos Estados Unidos, vai ver os torcedores com bandeiras, de pé e cantando o tempo todo, como se fosse uma partida do Boca Juniors, do Liverpool ou do Flamengo."
Arrancada
Segundo os dirigentes, a arrancada começou com a chegada de David Beckham ao Los Angeles Galaxy, em 2007. Outras estrelas foram importadas na sequência, ainda que não estivessem no melhor momento da carreira, casos de Thierry Henry, Tim Cahill, Jermaine Defoe e do goleiro da seleção brasileira, Júlio César - esses dois últimos jogam no time canadense Toronto, que compete na MLS.
Aos poucos, começou a aumentar o número de jogadores da seleção dos Estados Unidos que atuam na liga americana. Eram apenas quatro na Copa da África do Sul. No Brasil, já serão mais da metade dos convocados.
Nos últimos anos, atletas importantes escolheram atuar no país, como Clint Dempsey, que deixou o Tottenham para jogar no Seattle Sounders, Bradley, que saiu da Roma para reforçar o Toronto, além de Donovan e Omar González, que rejeitaram propostas de clubes europeus para seguirem no LA Galaxy.
Para o futuro, a Liga e a seleção apostam em um grande projeto de formação de jogadores fora dos padrões do esporte americano. Ao invés de escolas e universidades, o trabalho é dos próprios times, o que segue o modelo europeu, com mais de 1 milhão de jovens atletas nas academias, de acordo com Courtemanche. Produto das escolinhas do Seattle, DeAndre Yedlin briga por uma vaga para jogar a Copa no Brasil.
Maioria
Americanos costumam ser maioria em grandes eventos esportivos internacionais, confirma John Martin, diretor executivo da Great Atlantic Sports, que desde 1994 tem sido a agência de turismo oficial para a Copa do Mundo nos Estados Unidos. E já estão acostumados com os contratempos.
"Esse tipo de turista já sabe que, em um lugar com muita gente, alguns problemas vão acontecer. A língua será uma barreira, já que poucas pessoas falam inglês. Em geral, há pouca oferta de hotéis. Aeroportos e táxis devem ser particularmente complicados. Mas as pessoas são simpáticas no Brasil e a experiência será inesquecível."
"A maior parte dos torcedores vai querer passar pelo Rio, seja antes ou depois das partidas", garante Martin, que também lembra que é possível chegar ao país com voos diretos de cinco horas entre Miami e Manaus, mas alerta para a dificuldade para encontrar lugares nos aviões tão perto da Copa, apesar da grande quantidade de voos entre os dois países.
Seleção
A seleção dos Estados Unidos ficará hospedada em São Paulo e jogará em Natal, dia 16 de junho, contra Gana, em Manaus, no dia 22, contra Portugal, e em Recife, dia 26, contra a Alemanha. Sem os ingressos, um pacote pode ser encontrado a partir de US$ 1,9 mil.
Somados, os três estádios que terão partidas dos Estados Unidos na primeira fase têm capacidade para menos de 130 mil torcedores, o que indica que os turistas americanos (já que mais de 154 mil ingressos foram comprados por americanos) estarão na Copa para muito mais do que os três primeiros jogos.
Quem não puder sair do país, vai poder ver 13 das 32 seleções classificadas para a Copa a partir de maio. A seleção americana fará três amistosos: contra o Azerbaijão, dia 27 de maio, em San Francisco, contra a Turquia, dia 1º de junho, em Nova Jersey, e contra a Nigéria, dia 7 de junho, em Jacksonville.
Outras 12 seleções farão jogos pelo país como preparação para o Mundial: México, Portugal, Espanha, Inglaterra, Costa do Marfim, Bósnia, Grécia, Nigéria, Honduras, Costa Rica, Equador e Japão.
Em solo brasileiro, a chance de ver as estrelas mundiais será mesmo restrita à Copa. Com a exceção do próprio Brasil, que confirmou amistosos em Goiânia (contra Panamá, em 3 de junho) e São Paulo (contra a Sérvia, dia 6 de junho), nenhum outro jogo envolvendo seleções da Copa foi marcado oficialmente antes do torneio.
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