: Jason Trbovich
A
caminho das águas amargas
É muito impressionante passear pelo deserto de ônibus com ar
condicionado, ou mesmo fazer uma caminhada de algumas horas no deserto. Mas foi
algo bem diferente quando um povo de vários milhões de pessoas, com suas
crianças, seus animais e seus utensílios domésticos, andou pelo deserto durante
três dias, padecendo com o calor, os perigos, a fome, a sede, o cansaço e a
exaustão. É verdade que eles conseguiram escapar dos patrões egípcios que os
mantinham como escravos e o exército egípcio foi "tragado de todo"
pelo mar, como diz Hebreus 11.29. Em Êxodo 15.1 está escrito: "Então,
entoou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao Senhor, e disseram:
Cantarei ao Senhor, porque triunfou gloriosamente; lançou no mar o cavalo e o
seu cavaleiro." Que grande livramento foi esse milagre de Deus!
Por detrás de Israel estava a poderosa e protetora mão de Deus, que afugentava
os inimigos; sobre o povo de Israel estava a nuvem da glória que dirigia,
conduzia e indicava a presença de Deus; diante dele estava a Terra Prometida
que oferecia leite e mel – mas debaixo de seus pés só havia areia quente e
pedras! Assim eles vaguearam pelo deserto de Sur e não encontraram água. As
gargantas estavam secas, as crianças choravam, os animais berravam. Então,
depois de três dias – e não foi uma miragem! – eles viram muita água. Com
alegria e expectativa eles correram depressa para lá. Água! Água! Mas, que
horror! Ela era muito amarga, um líquido intragável e venenoso. Todos gritaram:
"Mara! Mara!" (= amargor!). Que dolorosa e amarga decepção!
"Moisés, o que é isso? Tu nos guiaste até aqui para que morramos de
sede?", gritaram as pessoas indignadas. "E o povo murmurou
contra Moisés, dizendo: Que havemos de beber?" (Êx 15.24). Agora
reinava a indignação e a raiva no meio daquela grande multidão sedenta. Até
mesmo uma multidão disciplinada pode fugir ao controle quando é exigida além de
suas capacidades. Mas nem ao povo escolhido de Deus, nem a nós é permitido
fazer-Lhe a pergunta repreensiva: "Por que permites que teus filhos
experimentem tanta frustração e amargura?!"
Nós cristãos também passamos por decepções de vez em quando, decepções
por parte de pessoas ou de circunstâncias adversas. Como conseguimos nos
arranjar com essas amargas frustrações? Como reagimos quando somos sacudidos e
perdemos o rumo por falta de vigilância interior? Reagimos segundo a natureza
do Cordeiro, de Jesus, que deveria ser também a nossa natureza, ou ficamos
indignados? A amargura é uma erva daninha que procura nos sufocar, uma raiz que
sempre procura se alastrar em nossas vidas. Mas em nós não deve acumular-se
muita "água de amargura", pois quando ela fica represada em nosso
íntimo, Satanás prontamente estará a postos transformando essa amargura em
rebelião e ira. Ele, porém, não deve alcançar esse objetivo! "Atentando,
diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus;
nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela,
muitos sejam contaminados", adverte-nos o Senhor em Hebreus
12.15. Quando falamos com amargura sobre outras pessoas, contaminamos os que
estão ao nosso redor e nos tornamos culpados, pois pecamos. Jesus quer
libertar-nos desse pecado! Quem não quer vencer ou abandonar a amargura em nome
de Jesus, não precisa admirar-se quando fica melancólico e triste. Conheci
pessoas que se afogaram no "lago da amargura". Mas na cruz de Jesus
há poder para a vitória! Quem afirma que ao seguirmos a Jesus estamos livres de
temores e decepções, está mentindo. Jesus disse: "No mundo passais
por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo" (Jo 16.33). Devemos
reivindicar para nós essa vitória sobre a amargura em nome de Jesus, devemos
tomar posse dela pela fé. O apóstolo Paulo, aprovado no discipulado de Jesus,
testemunha: "...que, através de muitas tribulações, nos importa
entrar no reino de Deus" (At 14.22).Andar no caminho estreito e penoso
tem valor eterno, pois ele conduz ao alvo celestial: "Porque para
mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser
comparados com a glória a ser revelada em nós" (Rm 8.18), garante-nos
Paulo. Um poeta lírico escreveu uma oração muito bonita, que também deve ser a
nossa: "Faze com que eu me aquiete, meu Senhor e Deus. Que eu ouça somente
a Tua voz na felicidade e na aflição. Estende Tuas mãos caridosas sobre meu
caminhar, faze com que minha vista e meus pensamentos estejam direcionados
somente para Ti".
Os
caminhos de Deus não são os nossos caminhos
Por que Deus levou Seu povo pelo deserto, ao invés de conduzi-lo pelo
caminho direto, plano e cômodo junto ao litoral, em direção à Terra Prometida?
Encontramos uma primeira explicação em Êxodo 13.17: "Tendo Faraó
deixado ir o povo, Deus não o levou pelo caminho da terra dos filisteus, posto
que mais perto, pois disse: Para que, porventura, o povo não se arrependa,
vendo a guerra, e torne ao Egito." Naturalmente Deus, que sonda
os corações, conhecia Seu povo e sabia das suas limitações. Oxalá nós mesmos
conheçamos nossas limitações! No deserto eles não tinham outra alternativa do
que seguir a nuvem que ia adiante deles. Mas existem ainda duas explicações
mais profundas porque o povo de Israel foi conduzido exatamente nesse caminho
em sua jornada para a Terra Prometida. Encontramos uma delas em Isaías
60.16: "...saberás que eu sou o Senhor, o teu Salvador, o teu
Redentor, o Poderoso de Jacó." Agora, nessa situação, o alvo de
Deus era levá-los a conhecer esse Salvador e Redentor. Eles deveriam aprender a
confiar nEle! Será que nós também conseguimos ver e reconhecer a ação de Deus
em nossas vidas, ensinando-nos e levando-nos a reconhecer Sua intenção mais
elevada para conosco? Até o dia de hoje é assim, pois Deus não deixa Seus
filhos seguirem sempre por caminho cômodos e sem obstáculos. Cantamos em um
hino: "Ele apenas quer que sejamos aprovados em meio ao temor e à
aflição". Jesus nos diz: "Entrai pela porta estreita (larga é
a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que
entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz
para a vida, e são poucos os que acertam com ela" (Mt 7.13-14). São
os caminhos de morte, os caminhos estreitos, que conduzem para a vida!
O próprio Deus dá também a segunda explicação: "Recordar-te-ás
de todo o caminho pelo qual o Senhor, teu Deus, te guiou no deserto estes
quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu
coração, se guardarias ou não os seus mandamentos" (Dt 8.2). "Para
saber o que há no seu coração!", esse é o alvo mais profundo quando Ele
conduz você por provações! Para ilustrar, encha um copo de água, coloque um
pouco de terra nele, e deixe-o assim por algum tempo. Ao agitar o copo, o
sedimento sobe. Às vezes, Deus sacode Seus filhos e os submete à prova de fé.
Então, quando sobe o sedimento escuro em nosso coração, podemos reconhecer o
que há em nós. A fé precisa ser provada pela obediência. Está escrito
claramente em Êxodo 15.25, que o Senhor provou Seu povo. Quando o Senhor nos
prova, não precisamos ficar com medo, pois então Ele também assume plena
responsabilidade por nós. Ele não abandona nenhum de Seus filhos. "Não
vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá
que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a
tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar" (1 Co
10.13). E o desfecho da provação foi maravilhoso para Israel! O
importante é aprendermos as lições através de algum problema pelo qual
estejamos passando no momento, o essencial é que cresçamos e
amadureçamos: "...para que, uma vez confirmado o valor da vossa
fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo,
redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo" (1 Pe 1.7). Esse
também é o tema central do apóstolo Paulo, que nos adverte
insistentemente: "Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em
tudo naquele que é a cabeça, Cristo" (Ef 4.15). Se não quisermos
passar por provações, tornar-nos-emos superficiais e indiferentes e perderemos
as maiores bênçãos.
Uma
lição divina
Deus apresenta Israel diante dos nossos olhos como um espelho! Aliás,
enxergamos muito melhor as fraquezas e os defeitos na vida dos outros do que em
nossa própria vida. Israel ainda conhecia muito pouco a seu Deus quando passou
por essa situação de angústia. Mas a ajuda do Senhor não estava longe. Temos um
Deus clemente e misericordioso, que gosta de ajudar no tempo oportuno. Ele
também nos anima a vir a Ele: "Acheguemo-nos, portanto,
confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e
acharmos graça para socorro em ocasião oportuna" (Hb 4.16). Em
relação a Israel está escrito: "Na verdade, amas os povos; todos
os teus santos estão na tua mão; eles se colocam a teus pés e aprendem das tuas
palavras!" (Dt 33.3). Também Jeremias conhecia e sabia da
benevolência de Deus. Ele pôde anunciar em nome do Senhor: "Alegrar-me-ei
por causa deles e lhes farei bem" (Jr 32.41).
O socorro no deserto estava preparado: "Então, Moisés
clamou ao Senhor, e o Senhor lhe mostrou uma árvore; lançou-a Moisés nas águas,
e as águas se tornaram doces" (Êx 15.25). Será que conseguimos
entender isso? Não era truque, não era mágica! Deus queria mostrar de onde vem
o socorro. Um exemplo: quando acontece alguma coisa grave a uma criança e ela
fica caída imóvel no chão, a amorosa mão do pai levanta sua cabecinha e diz:
"Olhe para mim, não se preocupe, eu ajudo você". Deus, nesse caso, realizou
um trabalho didático, educando Seu povo, dizendo-lhe: "Não o esqueçam:
voltem-se para Mim, eu ajudo vocês. Não murmurem! Não reclamem!"
O que significa essa árvore que transformou a água amarga em água doce?
A ação realizada por Moisés tem por base um significado profético muito
profundo. Já naquele tempo muito remoto da história de Deus com a humanidade, a
árvore foi uma forte referência àquele madeiro do Calvário, onde nosso Salvador
nos tirou da miséria do pecado e da perdição. Mais tarde o cajado de Moisés teve
o mesmo significado. Vamos continuar lembrando desse fato, pois ele levou a
Israel e a nós ao acontecimento central da salvação, ele nos conduz à cruz.
Para Israel, a árvore que Moisés lançou nas águas foi a salvação! Qualquer um
que, em sua angústia e aflição, vier até a cruz, experimentará ajuda abundante.
No madeiro maldito aconteceu nossa salvação, a libertação dos laços do pecado e
da morte. Nosso louvado Senhor e Salvador, que na cruz consumou o ato mais
difícil e grandioso, também é capaz de solucionar a nossa miséria e as
perturbações pelas quais estivermos passando no momento. Nossas dificuldades
são Suas oportunidades. Acheguemo-nos à cruz com elas! A água amarga tornou-se
doce em um instante, no momento em que entrou em contato com a árvore. Esse é
um convite insistente para que nos abriguemos debaixo da cruz! Jesus transforma
aquilo que é amargo em doce.
Jesus também ofereceu essa água doce à mulher samaritana no poço de
Jacó. Creia-me, essa água viva também jorra para você. Beba abundantemente
dela!
O
médico celestial
Nesse primeiro estágio da peregrinação de Israel encontramos também a
conhecida e incompreendida, e muitas vezes citada declaração: "...eu
sou o Senhor que te sara" (Êx 15.26). Gostamos de reivindicar
essa maravilhosa promessa para nós ou consolamos a outros com ela, sem avaliar
toda a sua profundidade. Evidentemente é maravilhoso conhecer o médico
celestial. Mas, de modo superficial, freqüentemente a interpretamos assim:
"Esse médico está disponível para consultas a qualquer hora, ele sempre
apresenta o diagnóstico correto, cura qualquer enfermidade com certeza
absoluta, não onera a previdência social nem o nosso bolso, pois não cobra honorários".
De fato, temos um glorioso médico celestial. Mas quão pouco atentamos para as
condições ao marcarmos a nossa consulta! Devemos ler todo o versículo e tomá-lo
em consideração! Deus disse: "Se ouvires atento a
voz do Senhor, teu Deus, e fizeres o que é reto diante dos
seus olhos, e deres ouvido aos seus mandamentos, e guardares todos
os seus estatutos, nenhuma enfermidade virá sobre ti, das que enviei sobre os
egípcios; pois eu sou o Senhor, que te sara" (Êx 15.26). Esse é o
nosso maior problema. Obedecer, ou não obedecer. Desejamos a cura, mas será que
obedecemos ao Senhor? Entretanto, não queremos sustentar nenhuma teoria
antibíblica barata, que diz: aquele que teme a Deus vai bem, e só o pecador
fica doente. A questão não é tão simples assim! Pois nós não conhecemos os
desígnios e planos de Deus com cada pessoa individualmente. "Bem-aventurado
é o homem a quem Deus disciplina; não desprezes, pois, a disciplina do
Todo-Poderoso. Porque ele faz a ferida e ele mesmo a ata; ele fere, e as suas
mãos curam. De seis angústias te livrará, e na sétima o mal te não tocará"
(Jó 5.17-19). "Quão insondáveis são os seus juízos, e quão
inescrutáveis, os seus caminhos!" (Rm 11.33).Elias não adoeceu – ele
subiu ao céu num redemoinho. Mas Eliseu morreu de uma enfermidade. Na verdade,
Deus quer um povo sadio, mas Ele também quer obediência. Caso Ele nos conduza
por um caminho de sofrimentos, bem-aventurados somos se pudermos dizer:
"Senhor, seja feita a Tua vontade!" E bem-aventurados somos se soubermos
que temos uma igreja que intercede por nós. Quando Jesus ouviu que Seu querido
amigo Lázaro estava enfermo, Ele fez uma declaração muito importante, que
também é muito significativa para nós: "Ao receber a notícia,
disse Jesus: Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus, a
fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado" (Jo 11.4). Isso
também vale para nós! Em caso de enfermidade podemos pedir sinceramente a cura,
mas devemos deixar por conta do Senhor o Seu proceder, seja curando-nos pela
fé, seja ajudando-nos por meio de tratamento médico, ou seja até tomando-nos
para Si. De qualquer maneira, tudo deve ser para a honra de Deus, para que o
Filho de Deus seja glorificado em nossas vidas! Infelizmente, muitos filhos de
Deus estão fixados apenas na cura física e não pensam que na enfermidade Deus
também pretende dizer e ensinar-nos muitas coisas que servem para o nosso bem.
Assim como Deus conduziu Seu povo com mão segura através do deserto para a
Terra Prometida, Ele também quer preparar-nos para o lar celestial, tanto em
dias de saúde como em dias de enfermidade. Confiemos nEle em obediência à Sua
Palavra! (Burkhard Vetsch)
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