Aula de Técnica Vocal
O
canto é composto por partes: Respiração,
articulação, percepção, técnica e interpretação. Antes de entrarmos
detalhadamente em cada uma delas, vamos a algumas considerações gerais que
são importantes e também fazem parte do ato de cantar:
POSTURA
CORPORAL - Temos
que sempre ter em mente que quando cantamos estamos utilizando um instrumento
musical um pouco mais complexo que os demais: nosso corpo. Você nunca obterá
grandes resultados se desconsiderar este fato, pois o mecanismo do ato de
cantar está intimamente ligado a diversas partes do corpo, e uma desarmonia
em alguma dessas partes prejudica consideravelmente sue rendimento como um
todo. Preste atenção no dia-a-dia e veja que nossa voz não mantém uma
constância, ela se altera de acordo com situações e circunstâncias que
vivemos, principalmente relacionadas as emoções. Portanto as considerações feitas
a respeito da parte física do nosso corpo são também reflexo de uma tentativa
de harmonizar as emoções e ansiedades que sentimos, fruto de uma rotina
estressante, carregada de responsabilidades, compromissos e obrigações. A
postura corporal é muito importante neste ponto, pois quando cantamos
precisamos sentir segurança, apoio, que não vêm, desta vez, de fontes
externas, como um diploma ou uma conta bancária farta, e sim do nosso próprio
corpo. Distribuindo o peso do nosso corpo entre os dois pés, observando em
seguida um encaixe perfeito da cintura pélvica (quadril), em equilíbrio com
os ombros e mantendo um ângulo de 90 graus para o queixo, podemos
aproximar-nos de uma figura em equilíbrio. Mantenha ainda os joelhos
levemente flexionados, e tenha certeza que a velha postura militar de peito
para frente, barriga para dentro, joelhos para trás e calcanhares afundados
no chão é extremamente desconfortável, falsa e prejudicial à saúde, pelas
altas tensões musculares proporcionadas.
O PESCOÇO - A postura do pescoço está
determinada pelos pés, joelhos, eixo corporal e pelo equilíbrio da cintura
com os ombros. O pescoço necessita estar alinhado com a coluna, sem estar
caído para a frente e muito menos para trás, mas sim perfeitamente
equilibrado dentro do eixo corporal. Se o pescoço estiver alongado para cima,
o trato laríngeo também estará alongado, passando a trabalhar em condições
precárias; se estiver enterrado no peito, igualmente o trato vocal se vê
aprisionado e sem possibilidade de realizar seus movimentos específicos.
ARTICULAÇÕES - Se as articulações estiverem
muito tensas, no máximo de seu estiramento, é bem provável que o cantor tenha
problemas na emissão das palavras e na produção da voz, portanto o
relaxamento das articulações e músculos é fundamental estar presente na
rotina de nossa vida.
RELAXAMENTO
- A produção
sonora do ser humano está ligada orgânicamente como um todo; desde a postura
corporal ao funcionamento íntimo de órgãos e sistemas biológicos, ao
desempenho do padrão de pensamento de cada um, ao tipo de cultura que envolve
o indivíduo, bem como o seu potencial econômico, enfim, todos esses fatores
estão envolvidos no ato da fala. Um indivíduo tenso está sempre muito próximo
dos problemas da voz. As tensões musculares são responsáveis por dificuldades
respiratórias, articulatórias e demais envolvimentos da produção da voz e da
fala. Existem vários tipos de relaxamento, dependendo do nível de tensão que
podemos estar sofrendo, e em se tratando de corpo e emoções é recomendável
que se cuide de cada caso individualmente.
Um
tipo de exercício que pode ser feito independente de análise é a soltura das
articulações com movimentos giratórios lentos, indo do pescoço, ombros,
braços até a cintura, joelhos e tornozelos. A energia psíquica flui melhor
por um corpo relaxado, facilitando o contato com as emoções e a comunicação
do cantor com o público.
RESPIRAÇÃO - A respiração é a base de toda a
técnica de canto. A ela estão diretamente ligadas a afinação, colocação e
volume da voz e resistência do cantor. Vejamos como funciona:
AQUECIMENTO
- O ar, ao entrar
no nariz, sofre um processo de aquecimento em virtude de uma grande
concentração de vasos sangüíneos ali localizados e que se modificam segundo a
alteração climática externa. Os vasos sangüíneos que irrigam a região
contraem-se, segurando a circulação sangüínea por mais tempo quando a
temperatura ambiente está baixa, dando a sensação que o nariz ficou gordo por
dentro. Com este procedimento, a cavidade nasal fica muito mais aquecida,
como uma estufa que vai favorecendo assim o ar que, na sua passagem pelo
nariz, vai recebendo o aquecimento necessário ao bom funcionamento orgânico.
No entanto, se o dia estiver quente, os vasos sangüíneos permitem uma
circulação mais ativa, como se o nariz estivesse muito amplo. Essa regulagem
calórica trabalha muito a favor do cantor, que só deve permitira entrada
buco-nasal do ar em ambientes cobertos. Quando estiver ao ar livre, a entrada
de ar deve ser feita pelo nariz, principalmente se estiver frio, evitando sempre
que possível, que o ar gelado perturbe a mucosa da faringe ou mesmo da
laringe, de onde poderia advir uma rouquidão indesejada.
FARINGE
- É um tubo
musculo membranoso que se inicia na base do crânio e segue até a Sexta
vértebra cervical, onde tem continuidade com o esôfago e com a laringe,
ocorrendo neste ponto o cruzamento dos sistemas digestivo e respiratório.
LARINGE E
CORDAS VOCAIS - A
laringe abre-se na base da língua. Situa-se na parte mediana do pescoço,
comunicando-se com a traquéia na parte inferior e com a faringe na parte
superior. Na laringe encontramos as cordas vocais, responsáveis pela produção
do som. O treino da técnica vocal (vocalizes) irá atuar nas cordas vocais
como exercícios de alongamento, fazendo elas irem de sua posição dilatada
(sons graves) para a alongada (sons agudos) várias vezes, buscando aos poucos
uma maior elasticidade que se refletirá em aumento da tessitura vocal e maior
precisão na afinação das notas.
DIAFRAGMA
E PULMÕES - O
diafragma é um grande músculo em forma de cúpula, de concavidade inferior,
que separa a cavidade torácica da abdominal. Ele fica abaixo dos pulmões, que
são a principal área de ressonância das notas médio-graves.
Quando
inspiramos, o diafragma desloca-se para baixo, deslocando a cavidade abdominal
e ampliando a cavidade torácica, enquanto os músculos inter-costais dilatam
as costelas, promovendo uma pressão negativa em relação ao meio ambiente,
induzindo-se o ar para dentro dos pulmões, como se fosse uma máquina de sugar
instalada na base pulmonar. Teremos então a região abdominal e inter-costal
dilatadas, o que não deve acontecer com a parte alta do peito, que
permanecerá relaxada para facilitar a liberação do ar na expiração. Nesta
etapa, os músculos dilatados agora se contraem, empurrando a parte baixa dos
pulmões, expulsando o ar para cima. Durante o ato de cantar, estes músculos
devem ficar rígidos, mantendo a pressão nos pulmões para que tenhamos o apoio
necessário para manter a voz corretamente colocada, sem ter que buscar força
adicional na região da garganta. Enquanto cantamos, mantemos sempre uma
reserva de ar na parte baixa dos pulmões, repondo apenas o ar gasto para a
emissão das notas, o que nos dá condições de fazer inspirações curtas entre
as frases cantadas. Óbvio que em frases ou notas longas podemos utilizar todo
o ar armazenado.
ÁREAS DE
RESSONÂNCIA - São
as regiões ocas do nosso corpo onde o som se amplifica. As principais são:
pulmões (ressoa notas graves e médias) e cabeça (ressoa notas agudas). Na
cabeça temos a região nasal, que pode ser usada para realçar os timbres
médios e metálicos da nossa voz. É importante lembrar que todo o aparelho
respiratório serve como ressonância para os sons, e para manter uma voz
sempre brilhante e jovem deve-se buscar as ressonâncias da face.
ARTICULAÇÃO - Para aproveitar da melhor
maneira possível as áreas de ressonância (principalmente da face), devemos
trabalhar a articulação dos sons. A musculatura da face combinada com o
movimento dos lábios e maxilar ajudará a projetar o som para fora, dando mais
volume e precisão na dicção das palavras. Além dos exercícios musculares para
a face, que vão melhorar a dicção, devemos dar atenção especial ao trato da
articulação das vogais, pois este ponto é de vital importância para a boa
colocação da voz, explorando as áreas de ressonância e não deixando o som
destimbrado e opaco.
A
- É - Ó - Sons claros e abertos. Na posição da fala não se pode cantar. Para
vencer a extensão das escalas com a emissão perfeita destas vogais, temos que
ovalar a boca. Com esta posição o som recua para o fundo da garganta e vibra
no palato mole, entrando para a ressonância alta, e projetando-se timbrado.
Ô
- Ê - I - U - Sons escuros e fechados. O movimento labial faz com que eles se
projetem para frente. Nas notas agudas o maxilar cai deixando a boca ovalada.
Ê
- I - Estas duas vogais merecem atenção pois são horizontais, e para se
projetarem usamos o sorriso, que os mantém vibrando no mordente até o centro
da voz. Para atingir notas agudas, o sorriso permanece, porém a boca vai se
ovalando em busca de um som arredondado e bem timbrado.
EXERCÍCIOS
1)
Mastigar o m... com som nasal
2)
Fazer TRRR... e BRRRR.... até acabar o ar.
3)
TRRR... com modulação de som e movimento de lábio
4)
Mastigar o m... e soltar as vogais abertas e fechadas - Ex. m... muá ,
m....muô
5)
ECO : muámuámuámuá , muémuémuémué, etc.; com todas as vogais
6)
Morder uma caneta ou rolha e contar até 100 articulando bem
7)
Fazer com e sem rolha:
a) BDG b) PTK c) FSCH d) GDB e) KTP
f) CHSF
PERCEPÇÃO
- Esta é a área mais intimamente ligada com a afinação, pois diz respeito ao
desenvolvimento do ouvido musical. Qualquer som emitido na natureza é uma
vibração, portanto uma freqüência. Notas musicais nada mais são do que
freqüências, emitidas de maneira ordenada dentro da faixa de percepção do
ouvido humano. Se o ouvido musical não for treinado, o ato de cantar estará
seriamente comprometido. Neste caso, vale ressaltar que percepção é
basicamente sinônimo de concentração. Nós trabalhamos com dois tipos de
memória: memória fotográfica e memória motor. A memória fotográfica registra
os fatos, enquanto a motor simplesmente repete aquilo que registramos. Quanto
mais concentrados estivermos no fato, mais facilmente este será incorporado,
e mais rapidamente a memória motor estará atuando. Por isso é importantíssimo
que na hora de se trabalhar a memória fotográfica o objeto de estudo seja
registrado sem erros. Isto vale não só na percepção, mas também na
incorporação da respiração, articulações e técnicas de canto, que devem ser
estudadas em períodos curtos e várias vezes ao dia, sempre com regularidade e
disciplina, para que surtam efeito. No caso da percepção, os exercícios serão
elaborados em cima dos intervalos musicais, dentro da tessitura vocal do
aluno. Os vocalizes também ajudam muito nesse processo.
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