Para entendermos isso, acredito que dois pontos devem ser
analisados. Primeiro: Quem exerceu maior influência? Os missionários
escandinavos ou os norte-americanos? Segundo: Havia alguma divergência
doutrinária entre a Teologia pentecostal escandinava e a norte-americana?
QUEM EXERCEU MAIOR INFLUÊNCIA? Como sabemos, a Assembléia
de Deus no Brasil foi fundada por missionários escandinavos, porém sua Teologia sofreu igualmente influência da
igreja pentecostal escandinava e das Assembléias de Deus norte-americanas. A
diferença é quanto ao tempo de influência dos dois grupos. O primeiro exerceu
sua influência teológica nas primeiras cinco décadas do Movimento Pentecostal
brasileiro. Os norte-americanos estão exercendo sua influência teológica no
Brasil pentecostal já há 40 anos. Se na liturgia e em alguns costumes podemos
afirmar que ainda somos herdeiros dos primeiros missionários suecos (se bem
que, nos últimos 15 anos, a influência norte-americana na nossa liturgia e
costumes aumentou), pode-se dizer que teologicamente fomos influenciados mais
pelos missionários norte-americanos do que pelos escandinavos. Excetuando a
influência na Assembléia de Deus do missionário escandinavo Eurico Bergstén,
falecido em 1999, são os norte-americanos que mais influenciaram a Teologia
Pentecostal brasileira na quatro últimas décadas. Ao lermos a história da
Assembléia de Deus brasileira em seus primeiros anos, percebemos que, da década
de 10 até os anos 40, os missionários suecos eram soberanos na orientação
doutrinária. Nos primeiros anos, a voz da Teologia assembleiana eram os artigos
dos suecos nos jornais Boa Semente, Som Alegre e Mensageiro da Paz, e na série
Lições Bíblicas, com comentários exclusivamente dos missionários escandinavos
nas primeiras décadas. Há artigos de brasileiros nesses periódicos, mas só eram
publicados aqueles que passavam pelo crivo teológico dos missionários
escandinavos. Além disso, os artigos de articulistas norte-americanos ou
britânicos (notadamente Donald Gee, cujos estudos sobre dons espirituais foram
preciosos para a nascente igreja no Brasil) eram escolhidos e traduzidos pelos
missionários suecos antes de serem publicados nos periódicos. Um detalhe dos
anos 10, 20 e 30 é que havia certa igualdade entre os missionários escandinavos
quanto à influência teológica. Gunnar Vingren, Samuel Nyström, Nils Kastberg,
Otto Nelson, Nels Nelson e Joel Carlson se dividiam nessa tarefa, ora por meio
de artigos, ora pelas ministrações de estudos bíblicos nas igrejas sob sua
responsabilidade. Porém, de meados dos 30 até o início dos 40 (isto é, depois
da partida de Vingren, ocorrida em 1932), o missionário Samuel Nyström passou a
se destacar como o grande nome da Teologia Pentecostal no Brasil. Em muitos
casos, questões doutrinárias eram dirimidas, até em reuniões de Convenção Geral
das Assembléias de Deus, depois de ser ouvido Nyström. Nyström foi o quarto missionário escandinavo pentecostal a
aportar em solo brasileiro. Conhecido como o grande pregador e ensinador,
sua vinda foi uma grande conquista para a obra no Brasil. Além do sueco, sua
língua natal, falava o português e o inglês fluentemente, e tinha noções de
grego e hebraico. Antes de liderar a Assembléia de Deus em São Cristóvão, no
Rio, ele pastoreou a igreja-mãe em Belém do Pará, tendo inaugurado o primeiro
templo assembleiano na capital paraense. Foi ele quem deu início ao movimento
beneficente em favor das viúvas de pastores e é até hoje o líder que mais vezes
foi eleito presidente da CGADB. Foram nove vezes (1933, 1934, 1936, 1938, 1939,
1941, 1943, 1946 e 1948). Sua influência era tão grande que a vinda de Nyström
para a cidade do Rio de Janeiro, então capital federal, substituindo o pioneiro
Gunnar Vingren, fez com que a Assembléia de Deus de São Cristóvão se tornasse
uma espécie de centro da obra no Brasil, o que durou por muito tempo. Lendo as
páginas do jornal Mensageiro da Paz no final dos anos 30 e início dos 40, vemos
que o nome de Nyström era quase onipresente nas escolas bíblicas de obreiros
nos país. Intensamente requisitado, viajava o Brasil inteiro para ministrar
estudos bíblicos concorridos, especialmente sobre Dispensacionalismo, os
efeitos da obra de Cristo, o Corpo de Cristo e doutrinas bíblicas fundamentais.
Nessa época, devido ao estrondoso sucesso de seus estudos, um deles virou livro,
publicado pela CPAD: Jesus Cristo, Nossa Glória. Esta obra traz uma exposição
sobre as doutrinas da Redenção, Santificação e Justificação. É impressionante o
fato de que tenha vendido cerca de 5 mil exemplares em sua primeira tiragem nos
anos 30, em uma época em que boa parte dos assembleianos não era afeita à
leitura. A obra só seria reeditada nos anos 80. Porém, a partir especialmente
do final dos anos 30, começaram a aportar no país missionários da Assembléia de
Deus dos EUA que, aos poucos, se notabilizaram na orientação teológica dos
primeiros obreiros brasileiros. No final dos anos 40 e início dos 50, despontam
notadamente nas escolas bíblicas pelo país os nomes do missionários
norte-americanos. Podemos dizer que inicia aqui o processo de cristalização da
Teologia Pentecostal no Brasil, pois só com os missionários norte-americanos
houve uma sistematização maior das doutrinas bíblicas na Assembléia de Deus.
Pesquisando as páginas do Mensageiro da Paz nos anos 40 e 50, notamos que os
destaques nas escolas bíblicas agora eram os missionários norte-americanos
Lawrence Olson, Leonard Pettersen, Teodoro Stohr e John Peter Kolenda, mais
conhecido como JP Kolenda. Nesse período, do lado escandinavo, impõe-se apenas
os nomes dos missionários Nels Nelson e Lars Erik Bergstén, e que aportou em
plagas brasileiras no final da década do 40. Nesse período, Nyström já saíra de
cena, de volta à Suécia. Nels Nelson era presença constante nas escolas
bíblicas de obreiros pelo país, mas, sem dúvida, Bergstén foi muito mais
influente na formação da Teologia Pentecostal. Enquanto Nelson ministrava mais
sobre Prática e Teologia Pastoral, Bergstén era mais sistemático e seus estudos
abordavam todas as doutrinas bíblicas. Isso não significa dizer que Bergstén
era rebuscado em seu discurso. Uma de suas marcas era a simplicidade com que
ele abordava os pontos doutrinários, além do largo uso de citações bíblicas
para explicar e reforçar o que estava ensinando. Sua biblicidade e a forma
apaixonada como falava sobre a necessidade de os obreiros amarem a Bíblia para
crescerem espiritualmente foram imensamente importantes para formações de
gerações de obreiros assembleianos. Vale lembrar ainda que se Nels Nelson não
exercia uma grande influência teológica na Assembléia de Deus brasileira, tal
qual Bergstén, sua influência como líder, porém, era muito forte. Nels Nelson
foi o último grande líder sueco da Assembléia de Deus brasileira. Assim, Nelson
e Bergstén foram os nomes que ainda mantiveram a influência escandinava em
nosso país. Nelson faleceu nos anos 60. A partir daí, a liderança da Assembléia
de Deus brasileira tornou-se quase que totalmente autóctone. Excetuando os
missionários Nils Taranger, no Rio Grande do Sul (falecido nos anos 90),
Gustavo Arn Johansson, em Maceió (que liderou de 1963-1965) e alguns
missionários noruegueses no Sul, não havia mais missionários escandinavos
liderando igrejas. É verdade que alguns missionários norte-americanos chegaram
a liderar igrejas em nosso país, mas por pouco tempo e sem exercer influência na
liderança nacional, como exerciam Nelson e os demais escandinavos antes dele.
A influência norte-americana passou a ser mesmo só na área teológica. No
período pós Nels Nelson, Eurico Bergstén passou a ser a única referência
teológica escandinava. E que influência! Basta lembrar que é, até hoje, o maior
comentarista de Lições Bíblicas da história da Assembléia de Deus brasileira.
Foram mais de 30 revistas de Escola Dominical escritas em quase 40 anos. Era
quase uma revista por ano, todas abordando variadas doutrinas bíblicas. Até sua
morte, em 1999, a presença de Bergstén era constante em estudos bíblicos e
conferências pelo país. Ao lado de Lawrence Olson, Bergstén foi, consciente ou
inconscientemente, um dos grandes moldadores da Teologia Pentecostal no Brasil.
Ao falarmos isso, é importante dizer que não estamos dizendo que havia uma
relatividade entre missionários suecos e norte-americanos na formação teológica
dos obreiros brasileiros. Apenas reconhecemos que, ao lermos a história da
Assembléia de Deus brasileira, percebemos que é nítida a aceitação natural
desses nomes, por parte dos obreiros brasileiros, como formadores de sua
identidade teológica. SISTEMATIZAÇÃO DA TEOLOGIA É também a partir dos anos 50
que são traduzidos para o português, pelos missionários norte-americanos,
muitos livros de cunho teológico pentecostal vindos da outra América e que por
muito tempo se tornaram a referência teológica dos obreiros brasileiros, sem
contar os bons livros produzidos pelos próprios missionários norte-americanos
aqui no Brasil. Destaque para Conhecendo as doutrinas da Bíblia e Através da
Bíblia, de Myer Pearlman, traduzidos por Lawrence Olson. Essas duas obras
tiveram grande sucesso e aceitação, principalmente a primeira, que vendeu mais
de 100 mil exemplares e foi, durante muito tempo, a Teologia Sistemática dos
obreiros pentecostais brasileiros. Olson ainda produziria clássicos como O
Plano Divino Através dos Séculos, que vendeu mais de 100 mil exemplares. Esse
livro popularizaria no Brasil o Dispensacionalismo, adotado pela maioria dos
obreiros brasileiros até hoje. Quem não se lembra daquele quadro colorido e
retangular que ilustrava a história da humanidade segundo a Bíblia, de antes da
criação do mundo até o final dos tempos? O quadro O Plano Divino Através dos
Séculos pode ser encontrado em muitas casas de obreiros pelo Brasil até hoje.
Outro importante nome, tanto na tradução de obras em inglês como na produção de
livros teológicos, é Orland Spencer Boyer (também missionário dos EUA), que
além de escrever livros inspirativos, produziu a série Espada Cortante, que
marcou época, instruindo muitos. Porém, o maior destaque, ao lado de Conhecendo
as doutrinas da Bíblia, é de iniciativa escandinava. Uma série de estudos
bíblicos de Eurico Bergstén, que por muito tempo serviram como livro-texto da
Escola Teológica das Assembléia de Deus no Brasil (Esteadeb), foi transformada
posteriormente em livro: Teologia Sistemática (CPAD). Está é a única obra de
Teologia Sistemática pentecostal produzida pela Assembléia de Deus no Brasil
até a presente data. Apesar de sintética, foi a mais aprofundada e sólida
tentativa de organizar e sistematizar a Teologia pentecostal em um único
compêndio. Nos anos 90, a CPAD publicaria Teologia Sistemática, uma perspectiva
pentecostal, editada por Stanley Horton (maior expoente da Teologia Pentecostal
nos EUA) e escrita por 18 teólogos da Assembléia de Deus norte-americana. Em
seguida também foi lançado Doutrinas Bíblicas, do teólogo William Menzies,
também dos EUA. Porém, a de Bergstén e a editada por Horton são as grandes
referências teológicas da Assembléia de Deus brasileira hoje. Depois dessas
duas obras, a de Pearlman ficou um pouco esquecida. Finalmente, completando a
tríade literária que serve hoje de referência para a Teologia da Assembléia de
Deus brasileira, foi lançada, também nos anos 90, a Bíblia de Estudo
Pentecostal (CPAD), com quase um milhão de exemplares vendidos só no Brasil. As
notas são de autoria do pastor Donald Stamps, missionário norte-americano em
nossa país. Mas, novas boas notícias chegarão em breve. Depois de 95 anos de
Assembléia de Deus, a CPAD começa o projeto de elaboração da primeira Teologia
Sistemática Pentecostal genuinamente brasileira, escrita por teólogos da
Assembléia de Deus em nosso país. Desejamos uma boa recepção para essa obra!
INSTITUTOS BÍBLICOS O passo mais
significativo dos missionários norte-americanos para a formação teológica dos
obreiros brasileiros foi, sem dúvida, a polêmica criação de institutos
bíblicos. Polêmica por não ter sido aceita inicialmente pelo obreiros
brasileiros, satisfeitos apenas com o modelo das escolas bíblicas de curta
duração, implantado pelos suecos. Anuais, as escolas bíblicas de obreiros
duravam de duas semanas a um mês, estudavam temas diferentes a cada ano e até hoje
fazem parte da tradição assembleiana no Brasil. A principal crítica que se
fazia aos institutos bíblicos é a de que eram “fábricas de pastores”. Apesar de
todas as críticas, os norte-americanos levaram adiante seu projeto. Em 1959,
com o apoio de JP Kolenda, o jovem pastor João Kolenda Lemos e sua esposa, a
missionária norte-americana Ruth Dorris Lemos, fundariam o Instituto Bíblico da
Assembléia de Deus (Ibad) em Pindamonhangaba (SP). Em seguida, em 1962,
Lawrence Olson funda o Instituto Bíblico Pentecostal (IBP) no Rio de Janeiro.
Olson e Orland Boyer ainda municiaram os obreiros brasileiros com belas obras
teológicas de suas lavras a partir desse período. Olson ainda tinha a seu favor
o programa Voz da Assembléia de Deus, com mensagens bíblicas enriquecidas de
informações e curiosidades que despertavam nos ouvintes o desejo de se
aprofundarem no conhecimento bíblico. Vale lembrar que porque esses dois
institutos foram fundados sem o apoio da maioria dos obreiros brasileiros, isso
fez deles um grande desafio. Foi só nos anos 70 que iniciou-se um processo de
aceitação dos institutos. O Ibad e o IBP só foram reconhecidos oficialmente
pela Convenção Geral das Assembléia de Deus no Brasil em 1973 e 1975,
respectivamente. É nesse período que nascem várias outras escolas teológicas
(em forma de instituto) fundadas por obreiros brasileiros, e a Escola de Ensino
Teológico das Assembléias de Deus (Eetad), fundada pelo missionário
norte-americano Bernhard Johnson, em Campinas (SP). Hoje, vivemos uma
conseqüência clara disso. É interessante notar que os grandes teólogos
nacionais da Assembléia de Deus brasileira só começaram a despontar mais a
partir dos anos 70. Não que antes dos anos 70 não tenham havido nomes de
destaque na Teologia da Assembléia de Deus entre os nacionais. Basta lembrar
que é nos anos 60 que começa a aparecer o pastor e teólogo Antonio Gilberto,
que veio a notabilizar a partir de 1974, com a criação do Curso de
Aperfeiçoamento de Escola Dominical (Caped). É dele muitos best-sellers, como o
Manual de Escola Dominical, lançado em 1974 e que já vendeu cerca de 150 mil
exemplares. E que dizer do pastor Estevam Ângelo de Souza? É também outro
grande exemplo. Porém, notadamente, só a partir dos anos 70 é que o leque
aumenta. Atualmente, há vários nomes, e isso tem muito a ver com a mudança de
visão em relação à importância dos seminários e institutos bíblicos, ocorrida à
pouco mais de 30 anos
. DIFERENÇAS ENTRE O ESTILO ESCANDINAVO E O NORTE-AMERICANO
Não há muita diferença entre a Teologia pentecostal escandinava e a
norte-americana. A diferença está mesmo nos estilos do que no conteúdo. Os
escandinavos preferiam mais o sistema de escolas bíblicas informais e anuais de
curta duração (daí a inspiração para criar as tradicionais escolas bíblicas de
obreiros no Brasil). Os norte-americanos preferiam os institutos bíblicos, com
o ensino formal das Escrituras e cursos de longa duração como as igrejas
evangélicas tradicionais já faziam há muito tempo. Nos EUA, era comum o
obreiro, antes de ser ordenado ao ministério, passar, em média, quatro anos em
um instituto bíblico. Já na Suécia, só havia, na época, as escolas bíblicas de
verão em Nyem (cidade sueca), uma espécie de curso intensivo de três meses para
missionários e obreiros. Os alunos recebiam certificados, mas o curso era mais
informal. Porém, ninguém era ordenado ao ministério ou enviado ao campo
missionário pela Igreja Filadélfia, liderada pelo pastor Lewi havaianas Pethrus, sem antes passar por esse
curso. Com exceção de Daniel Berg e Gunnar Vingren, que foram pioneiros e se
filiaram à Igreja Filadélfia depois de iniciada a obra no Brasil, todos os
outros missionários escandinavos que aportaram em nosso país passaram por esse
curso. Berg não estudou Teologia formalmente. Vingren, antes de vir ao Brasil,
fora ordenado pastor pela Convenção Batista dos Estados Unidos. Para isso,
formou-se em Teologia em um instituto bíblico e estagiou pastoreando uma Igreja
Batista Sueca nos EUA. Quando estava pleiteando ser enviado como missionário à
Índia, foi batizado no Espírito Santo, encontrou-se com Berg e Deus mudou os
seus planos. Ainda bem! Devido às diferenças entre a preparação teológica dos
missionários escandinavos e norte-americanos, o estilo de ensino adotado por
eles no Brasil era diferente. Analisando, por exemplo, os artigos doutrinários
de um e de outro grupo no jornal Mensageiro da Paz, notamos que os suecos eram
mais práticos, enquanto os norte-americanos eram mais sistemáticos. E, ao que
parece, os obreiros brasileiros gostavam mais da simplicidade escandinava do
que do estilo norte-americano. Só a partir dos anos 50 é que os brasileiros
passaram a simpatizar mais com os doutrinadores norte-americanos, especialmente
pelas ministrações bíblicas saborosas de nomes como Olson, JP, Stohr e
Pettersen. Outro detalhe: tanto os escandinavos quanto os norte-americanos
aplicavam bem a hermenêutica, mas os norte-americanos eram um pouco mais
voltados a exegese de textos bíblicos. O único missionário escandinavo que se
aplicava no uso da exegese era Samuel Nyström. Aliás, Nyström era considerado
pelos brasileiros como “o maior ensinador das Escrituras” no nascente Movimento
Pentecostal em nosso país. Interessante que os missionários escandinavos não
ensinavam o Dispensacionalismo, que era a “moda” teológica da época, uma
maneira mais prática de os teólogos interpretarem os fatos bíblicos. A única
exceção foi Nyström. Até onde se sabe, ele foi o primeiro a ensinar o
Dispensacionalismo para a Assembléia de Deus brasileira antes mesmo dos
norte-americanos. Porém, coube a Lawrence Olson popularizar o
Dispensacionalismo no Brasil, principalmente por meio de seus livros e do
Instituto Bíblico Pentecostal. É curioso ver que o Dispensacionalismo não está
mais em voga nos Estados Unidos. A maior parte da Assembléia de Deus
norte-americana não mais usa esse sistema de interpretação das Escrituras, que,
é preciso dizer, no caso assembleiano, tinha uma pequena diferença do
Dispensacionalismo clássico: os assembleianos sempre deixaram de lado a
separação entre a Igreja e Israel, o que era o ponto-chave do
Dispensacionalismo. Hoje, a Assembléia de Deus norte-americana está mais
voltada para “o estudo das aplicações teológicas e missiológicas do Reino de Deus”.
Uma análise precisa dessa mudança de foco está em Teologia Sistemática, uma
perspectiva pentecostal, nas páginas 32 e 36. Outro ponto a ser frisado é que
os missionários escandinavos, por chegarem aqui primeiro, gastaram mais tempo
procurando estabelecer as bases teológicas da igreja brasileira e reforçando as
doutrinas bíblicas distintivas do pentecostalismo, muito atacadas pelas igrejas
tradicionais nas primeiras décadas. A maior parte dos textos doutrinários dos
primeiros 30 anos do Movimento Pentecostal brasileiro era de caráter
apologético, de defesa das doutrinas bíblicas pentecostais. O restante era
apenas sobre pontos doutrinários básicos: Salvação, Santificação e Vinda de
Jesus. Por isso, quando os missionários norte-americanos vieram, corroboraram
essas bases, mas, sobretudo, erigiram um edifício sobre elas, aprofundando
esses pontos doutrinários (especialmente a Escatologia Bíblica) e salientando
outros, menos abordados até então (como, por exemplo, a Doutrina da Trindade,
do Pecado Original e dos Anjos). O missionário Eurico Bergstén se destaca nesse
período justamente porque também foi além das bases. Por exemplo: ao falar da
Salvação, Bergstén expunha e destrinchava as doutrinas bíblicas da expiação,
justificação, adoção e glorificação (o que Nyström, nos anos 40, começou a
fazer timidamente), e a questão da perseverança dos santos, da segurança da
Salvação. Aliás, o mal entendimento desse último ponto foi o que levou a uma
das primeiras cisões da história da Assembléia de Deus. No início dos anos 30,
nasceu no Nordeste do Brasil a Assembléia de Cristo, formada por obreiros
nacionais, entre eles Manoel Higino de Souza, que passaram a crer que “uma vez
salvo, salvo para sempre”. É que os missionários suecos não se preocupavam em
falar da Doutrina da Predestinação e da Segurança da Salvação, até que um
obreiro nacional leu um panfleto calvinista sobre esse assunto e começou a
ensinar que aqueles que aceitam a Cristo não têm possibilidade de perder a
Salvação. Ora, os escandinavos eram arminianos (os missionários da Assembléia
de Deus norte-americana, que chegariam depois, também). O que foi que
aconteceu? Tentaram convencer Higino do contrário, mas em vão. Por nunca terem
ensinado sobre esse assunto, quando a divergência teológica surgiu, não puderam
saná-la eficientemente. A maioria esmagadora apoiou os missionários suecos, mas
a cisão aconteceu. Se houvesse um ensino preventivo sobre esse ponto
doutrinário, talvez essa cisão nunca tivesse ocorrido. É só a partir dos 50 que
os estudos bíblicos ganham mais densidade e profundidade. A criação de
institutos bíblicos foi a conseqüência direta disso. Os obreiros brasileiros
precisavam se aprofundar mais no conhecimento bíblico. Se os escandinavos
fizeram um bom trabalho de base e de estabelecimento da identidade pentecostal,
os norte-americanos fizeram um bom trabalho preventivo em relação a modismos.
Antes que determinadas doutrinas que já eram populares nos EUA ganhassem força
no Brasil, eles preveniam os obreiros sobre elas. Por exemplo, na Convenção
Geral de 1962, em Recife, são o missionário Lawrence Olson e o pastor Raymond
Carlson, então presidente do Instituto Bíblico da Assembléia de Deus em
Minessota (e que depois seria líder do Concílio Geral das Assembléias de Deus
nos EUA) que previnem os obreiros, em estudo bíblico, sobre os perigos do
ecumenismo, uma onda nova na época. Ao final daquela convenção, Olson, Bergstén
e o pastor Alcebíades Vasconcelos, representando os obreiros brasileiros,
assinam um documento, em nome da CGADB, contra o ecumenismo. Ainda havia os
estudos dos norte-americanos sobre os erros do evolucionismo, o liberalismo
teológico, a Teologia da Libertação etc. Como reflexo desse ensino, surgiram
muitos bons livros de autores nacionais sobre esses assuntos nos anos
seguintes. O pastor Abraão de Almeida, por exemplo, escreve nos anos 80 sua
Teologia Contemporânea (CPAD), com prefácio de Lawrence Olson. Nascia a
reflexão teológica, estimulada pelos norte-americanos. Outro exemplo: a febre
pela Escatologia Bíblica no Brasil foi encetada pelos norte-americanos e
incentivada pela conjuntura internacional - a Guerra Fria. Nesse período,
depois da reedição de O Plano Divino Através dos Séculos nos anos 70 e do
lançamento do polêmico Alinhamento dos planetas (1980), ambas obras de Olson,
surgiu uma demanda decorrente do interesse despertado dos crentes por
Escatologia. É quando surgem muitas obras teológicas em profusão sobre o
assunto, como as dos pastores Antonio Gilberto, Abraão de Almeida e Severino
Pedro. O detalhe é que a visão escatológica de muitas dessas obras era
importada da visão escatológica norte-americana. A significativa obra Israel,
Gogue e o Anticristo (CPAD), de Abraão de Almeida, que marcou época e vendeu
mais de 50 mil exemplares, é um exemplo. As interpretações sobre a profecia
contra Gogue (Ezequiel 38), vista como uma referência à Rússia e à China, são
uma influência clara da Escatologia norte-americana. Os escandinavos não se
preocupavam com esses pormenores. Sua Escatologia era menos detalhista e pouco
especulativa. Preocupava-se mais com o entendimento do essencial. ÚNICO E
RELATIVO CASO DE DIVERGÊNCIA E quanto às discrepâncias de conteúdo entre a
Teologia pentecostal escandinava e a norte-americana? Como já ressaltei, foi só
depois dos anos 50 que o estudo das doutrinas bíblicas foi mais aprofundado na
Assembléia de Deus brasileira. Assim, se houvesse alguma discrepância teológica
entre os escandinavos e norte-americanos, ela surgiria a partir de esse
período, pois é na exposição dos detalhes que surgem as diferenças. Porém, o
que se via era uma concordância mútua. A única diferença encontrada, mas não
muito explorada, foi quanto à Doutrina da Criação do Universo. Aqui, sim,
encontramos a única divergência teológica concreta entre escandinavos e
norte-americanos. Mesmo assim, relativa. Eurico Bergstén, em sua Teologia
Sistemática, ensinava a Teoria da Recriação da Terra (também chamada de Teoria
da Lacuna), que diz que entre Gênesis 1.1 e 1.2 há um interregno de tempo, onde
teriam ocorrido a queda de Satanás e o caos no Universos. A Terra, que teria
sido criada perfeita antes de Lúcifer cair, teria ficado, após a queda do ser
angelical, sem forma e vazia. Logo, o relato que vai de Gênesis 1.2 em diante
seria não o da criação da Terra, mas da recriação. Isso pode ser visto nas
páginas 49 e 52 de sua obra. “A Terra foi restaurada em seis dias”, assevera
Bergstén. Ao que parece, nem todos os missionários norte-americanos
simpatizavam muito com essa teoria. Lawrence Olson, porém, seria uma grande
exceção, o que relativiza essa discrepância. Ele ensinava o mesmo, como pode
ser visto nas primeiras páginas de O Plano Divino Através dos Séculos. Mas, a
obra Teologia Sistemática, uma perspectiva pentecostal, escrita pelos Teólogos
da Assembléia de Deus norte-americana, rechaça essa teoria, como pode ser visto
nas páginas 232 a 235. “A Teoria da Lacuna apresenta várias fraquezas”,
arremata conclusivamente os pastor e teólogo Timothy Munyon. Como vimos, as
diferenças eram muito pequenas. A Teologia era praticamente a mesma em todos os
pontos. E isso foi muito bom, porque fortes divergências teológicas criariam
cismas. Se hoje a Assembléia de Deus é minimamente unida e consolidada em sua
identidade teológica, deve isso à influência desses nobres missionários
escandinavos e norte-americanos, que deram as suas vidas pela evangelização e
estabelecimento da obra de Deus em nosso país. Por, Silas Daniel - Ministro do
Evangelho, jornalista, conferencista e autor dos livros A Sedução das Novas
Teologias, Habacuque - a vitória da fé em meio ao caos e História da Convenção
Geral das Assembléias de Deus no Brasil. Todos pela CPAD
Governo Eclesiástico Janeiro 14, 2008
Sempre, na história das controvérsias cristãs, houve um luta para saber qual
era o modelo de governo eclesiástico mais bíblico. O fato é que todos os
modelos de governos eclesiásticos (congregacional, episcopal e presbiteriano)
se baseiam no Novo Testamento. O episcopal concede o poder para o seu pastor ou
bispo, o presbiteriano concede poder aos presbitério da igreja e o congregacional
concede poder aos seus membros ou a um conselho de irmãos reunidos. Há
tentações em todos os modelos. O episcopal pode concentrar um poder tão grande
na mão do pastor, que ele se torna uma pessoa acima da crítica e não prestas
contas a igreja. O presbiteriano pode criar uma elite dentro da congregação ou
denominação, pois um pequeno grupo decide sobre os demais. O congregacional
pode minar a autoridade do pastor local. Portanto, não temos como definir um
modelo eclesiástico mais bíblico, pois todos tem pontos fortes e fracos. A
Assembléia de Deus começou com um modelo congregacional bem definido, aja vista
a herança eclesiológica batista, que é congregacional. O modelo congregacional
fica bem claro nas palavras do pastor assembleiano Alcebiades Pereira dos
Vasconcelos, no Mensageiro da Paz, nº 10, de 1959: No nosso entender, a igreja
cristã biblicamente entendida, governa-se a si mesma, mediante o sistema
democrático em que todos os seus membros livremente podem e devem ouvir e ser
ouvidos e ser ouvidos, votar e ser votados, conforme a sua capacidade pessoal
de servir(…) A igreja cristã, à luz do Novo Testamento, é uma democracia
perfeita, em qual o pastor e seus auxiliares de administração (tenham as
categorias ou denominações que tiverem) não dominam, pois quem domina sobre ela
é Jesus, por mediação do Espírito Santo, sendo o pastor apenas um servo que
lidera os trabalhadores sob guia do mesmo Espírito Santo; e, neste caso, é
expressa e taxativamente proibido ter domínio sobre a igreja. I Pedro 5.2,3. [1]
Os pentecostais clássicos sempre tiveram uma tendência para a democracia na
igreja, um modelo em que a congregação tinha voz, o teólogo Myer Pearlman deixa
bem claro essa posição: As primeiras igrejas eram democráticas em seu governo-
circunstância natural em uma comunidade onde o dom do Espírito Santo estava
disponível a todos , e onde toda e qualquer pessoa podia ser dotada de dons
para um ministério especial. É verdade que os apóstolos e anciãos presidiam às
reuniões de negócios e à seleção dos oficiais; mas tudo se fez em cooperação
com a igreja (Atos 6.3-6; 15.22, I Co 16.3, II Co 8.19, Fp 2.25). E Pearlman
completa: Nos dias primitivos não havia nenhum governo centralizado abrangendo
toda a igreja. Cada igreja local era autônoma e administrava seus próprios
negócios com liberdade. [2] No decorrer do tempo, a Assembléia de Deus, não
deixando de ser congregacional, passou a mesclar com o modelo episcopal e
presbiteriano. Hoje, é comum a figura o pastor-presidente, um verdadeiro bispo
regional. Nas Assembléias de Deus há traços do modelo presbiteriano, com as
convenções ou concílios regionais e nacionais (CGADB e Conamad). A Assembléia
de Deus, portanto, não tem um modelo eclesiástico puro. O Rev. Antônio Gouvêa
Mendonça, comenta em relação a Assembléia de Deus: Seu sistema de governo
eclesiástico está mais próximo do congregacionalismo dos batistas por causa da
liberdade das Igrejas locais e da limitação de poderes da Convenção Nacional.
Todavia, a divisão em ministérios regionais semi-autônomos lembra um pouco o
sistema presbiteriano.[3] Alguns fatos interessantes: em cidades do interior,
as Assembléias de Deus são bem congregacionais, pois a igreja em constantes
assembléias, decidem o rumo da congregação juntamente com o pastor. As igrejas
AD da capital são normalmente divididas em setores, com a figura presente do
pastor-presidente, sendo mais um modelo episcopal. Mas as congregações das
cidades interioranas e da metrópole estão sujeitas a convenção estadual e
nacional, semelhante aos supremos concílios presbiterianos. A Assembléia de
Deus foi influenciada por várias denominações, desde de sua eclesiologia até a
sua teologia. Exemplo dessa mistura esteve nas palavras do pastor Thomas B.
Barrat, de Oslo, Noruega em 1914, que disse: “Com respeito à salvação, somos
luteranos. Na forma do batismo pelas águas, somos batistas. Com respeito à
santificação, somos metodistas. Em evangelismo agressivo, somos como o Exército
da Salvação. Porém, com respeito ao batismo com o Espírito Santo, somos
pentecostais!” O lamentável é o fato de muitas igrejas Assembléia de Deus
aderindo a um modelo episcopal, abandonado a tradição congregacional. Mais o
modelo episcopal, hoje adotado não é o mesmo dos metodistas ou anglicanos, mas
sim das igrejas neopentecostais, onde a figura do líder é centralizadora, um
modelo episcopal levado ao extremo. Referências Bibliográficas: 01.ARAÚJO,
Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD,
2007. p 338. 02. PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. 8 ed. São
Paulo: Vida, 1984. p 225. 03. MENDONÇA, Antônio Gouvêa e FILHO, Prócoro
Velasques. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Edições Loyola,
1990. p 51 Autor: Gutierres Siqueira, publicado no Blog Logos
News.(www.logosnews.blogspot.com) . Manual do Obreiro (CPAD) - 2006.