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sábado, 22 de junho de 2013

A Importância das Relações Pais e Filhos na Construção da Identidade Cristã


Introdução

O presente trabalho pretende fazer uma revisão de literatura com o objetivo de investigar as relações estabelecidas entre pais e filhos e sua influência na construção de uma identidade cristã, buscando compreender como estas relações contribuem ou interferem na formação dessa identidade, refletindo sobre as dificuldades, os medos, as ansiedades, as dúvidas, as fantasias e expectativas dos pais quando se fala em uma criação voltada para a Bíblia, e quais conflitos podem gerar. 
A idéia para essa análise teve início a partir da observação das dificuldades de comunicação entre os pais cristãos e seus filhos as quais trazem, geralmente, um crescente distanciamento entre eles. Frente a formas de tratamento e ensinamento imposto em detrimento às escolhas dos filhos o relacionamento acaba por gerar muitos conflitos, ficando prejudicadas as relações. Assim, esse texto pretende discorrer sobre o que pode definir a qualidade das relações entre pais e filhos para a construção da identidade cristã.

A família como principal agente no desenvolvimento humano

Desde os primórdios os seres humanos têm sido foco de estudo. Procura-se saber como eles nascem, crescem e se desenvolvem, considerando as mudanças que são próprias do desenvolvimento.
Todo indivíduo, desde o nascimento necessita ser cuidado, e isso acontece geralmente dentro de uma família. É dentro da família que ele se sentirá cuidado, amado, querido, por mais conflitos que enfrentem uma determinada família,é ali que começará seu desenvolvimento.
Soifer (1982, p. 23), define a família como:
[...] estrutura social básica, com entrejogo diferenciado de papéis, integrada por pessoas que convivem por tempo prolongado, em uma inter-relação recíproca com a cultura e a sociedade, dentro da qual se vai desenvolvendo a criatura humana, premida pela necessidade de limitar a situação narcísica e transformar-se em um adulto capaz [...]
A família é a responsável pela estruturação de cada indivíduo, onde ele nasce, cresce e se desenvolve psíquica e emocionalmente, formando sua identidade e personalidade, portanto, o objetivo da família é educar os filhos para a vida. Soifer (1982) ainda salienta que à medida que o desenvolvimento acontece, a criança aprende a respeitar, amar e ser solidária, em contraponto aprende a lidar com os sentimentos de ódio, inveja, rivalidades e ciúmes originados dos conflitos infantis, consolidando-se a identidade da família na sociedade. Durante o desenvolvimento são observadas algumas influências que podem definir a maneira de ser de cada indivíduo, construindo assim, sua identidade enquanto ser humano.
Segundo Winnicott (1988), um indivíduo começa a existir quando é concebido mentalmente, ou seja, quando os pais manifestam o desejo, não apenas consciente de conceber. A partir desse desejo pode-se dizer que a identidade começa a formar-se. A mãe é a primeira a introduzir a criança no mundo e através das sensações essa criança vai conhecendo o que a rodeia, tendo a possibilidade de relacionamento com os outros.
A partir do nascimento do bebê a ligação necessária ao desenvolvimento deste, pode ativar nos pais fantasias e desejos narcísicos advindos de conflitos não elaborados do passado destes. Muitas vezes as dificuldades na interação da mãe e seu bebê, podem ser indicativos destes problemas não elaborados. Quando estes conflitos inconscientes invadem o bebê ainda em formação, pode vir a comprometê-lo ou até mesmo impedi-lo de desenvolver-se para se tornar um indivíduo autônomo.
Dessa forma percebe-se o quanto a relação pais e filhos é importante, já no momento em que se deseja formar uma família. O bebê que é desejado e amado mesmo antes de ser concebido têm a possibilidade de construir sua identidade alicerçada numa relação de amor, proteção e compreensão. A proteção da família, o modo como o bebê é inserido no mundo pode revelar a qualidade dos relacionamentos estabelecidos dentro dessa família que podem ou não influenciar na formação da identidade cristã.
A identidade está ligada às características que compõem ou que são próprias de um indivíduo, é o que diferencia um indivíduo do outro, esta se baseia na construção do autoconhecimento e da relação com o mundo que o rodeia. A vida social é vivida de trocas que possibilita a constituição da identidade da criança e, à medida que ela se desenvolve vai se identificando com o meio para tornar-se uma pessoa. No primeiro momento a criança é pura sensação e se identifica com o seio da mãe, conforme cresce passa a reconhecer o ambiente e a mãe como alguém à parte dela.
Assim a noção de identidade sugere que o sujeito precisa de outro para se desenvolver, para adquirir atitudes, valores e princípios que vão norteá-lo em sua vida adulta e social e à medida que a criança cresce e se desenvolve ela vai se tornado uma pessoa diferenciada dos pais, adquirindo com a ajuda deles, certa autonomia, num processo de identificação (KUSNETZOFF, 1982).
De acordo com Papalia (2006) a adolescência é uma fase repleta de mudanças em que o pequeno jovem começa a descobrir quem é e o que quer ser. Para crescer e entrar no mundo dos adultos, o adolescente precisa, aos poucos, ir se separando dos pais o que, às vezes é insuportável para certos pais, pois estes deixam de ser as pessoas mais importantes do mundo para se tornarem “velhos caretas”. Nesse momento é comum que o adolescente busque grupos com os quais possa se identificar. Papalia (2006) explica a importância da influencia do grupo na vida dos adolescentes,
O grupo de amigos é uma importante fonte de apoio emocional durante a adolescência. Jovens que estão passando por rápidas transformações físicas sentem-se melhor na companhia de outros que estão passando por mudanças semelhantes. (PAPALIA, 2006 p. 500).
Mas isso não quer dizer que a família perdeu a importância na vida dele, pelo contrário é nessa fase que eles mais precisam do apoio da família, pois são os pais que dirão o que eles podem ou não fazer. Ferrari (2000) afirma:
“[...] é a família que propicia os aportes afetivos e sobretudo materiais necessários ao desenvolvimento e bem estar dos seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e humanitários onde se aprofundam os laços de solidariedade. É também em seu interior que constroem as marcas entre as gerações e são observados valores culturais.” (apud GONÇALVES, 2001, p. 10).
Sendo assim, o bom relacionamento entre pais e filhos é fundamental para a formação de uma identidade saudável, mesmo que na fase da adolescência os ensinamentos dos pais pareçam não ter importância para eles, nesse sentido é preciso que os pais os compreendam. Os pais que transmitem afeto, atenção e orientação, respeitando as escolhas do filho, estarão reforçando sua auto-estima, fazendo com que se sintam valorizados e seguros para enfrentar os desafios do mundo real.

A religião na vida do homem

Religião é uma maneira que o homem encontrou de se aproximar de Deus, estabelecendo com ele uma inteira dependência. Essa dependência se manifesta através da fé e também das obras que são os cultos ou reuniões solenes e festividades, mas muitas vezes se expressa através do medo daquilo que é diferente e desconhecido. Rubem Alves (1999, p. 62) afirma que:
“[...] o indivíduo [...] se descobre totalmente dependente de algo que lhe é superior. [...] O sagrado é o criador, a origem da vida, a fonte da força. [...] Sente-se dominado e envolvido por algo que dele dispõe e sobre ele impõe normas de comportamento que não podem ser transgredidas [...]” (ALVES, 1999, p. 62).
O homem na sociedade é dono de si mesmo e de muitas coisas, ele domina o mundo com suas invenções tecnológicas, mas no mundo sagrado ele se apresenta como servo para servir ao Senhor Supremo da criação, ele se torna totalmente submisso.
Schleiermacher, in Otto (1985 p. 14), enfatiza que esse sentimento de dependência na religião é mais intenso, “Isto acontece exatamente porque se trata de um dado cuja origem e fundamentos encontram-se na alma”, tornando o servir uma prioridade diante de quaisquer circunstâncias, mesmo que pareça loucura. Portanto o servir e obedecer a Deus torna-se prioridade na vida do cristão.
Temos hoje no Brasil uma diversidade de religiões e pessoas que defendem com afinco cada um a sua, discutem, brigam e tentam convencer o próximo a seguir o seu caminho. Os ideais são passados de geração a geração e aceitos de forma inquestionável, estando eles certos ou não, tendo como recompensa para o cristão um sentimento de fortaleza diante do sofrimento, isto é, mesmo nas piores situações da vida sente-se forte para vencê-las graças à força que vem de Deus. Assim, muitas vezes a religião torna-se o clamor daqueles que sofrem e almeja tranquilizar sua alma aflita, ou seja, o que deveria ser prazeroso se torna uma troca – adora-se a Deus para receber Dele o favor.

Pós Modernidade X Criação dos filhos de acordo com os valores e crenças - um desafio

Na era moderna o homem vem adquirindo novas maneiras de pensar e enxergar o mundo, a todo instante é coberto de novas informações e novas descobertas em todas as áreas afins. Nesse sentido, a sociedade se caracteriza como uma sociedade globalizada priorizando o poder de consumo, os valores deixaram de ser universais passando a ser, para muitos individuais e autônomos. E é neste contexto que a pós-modernidade chega trazendo consigo a formação de indivíduos cada vez mais mergulhados nas incertezas e medos, fazendo-o buscar respostas nos valores de uma "modernidade reflexiva" (GIDDENS, 1996).
Segundo McGrath (2007, p. ),
O pós-modernismo é geralmente entendido como algo de sensibilidade cultural sem absolutos, certezas fixas ou fundamentos [...] [...] O pós-modernismo declara que todos os sistemas de crenças devem ser vistos como igualmente plausíveis. Algo é verdadeiro se é verdadeiro para mim.
Sendo assim, todos são possuidores da verdade, isto é “vale tudo”, não existe mais um padrão de exposição da realidade, é o fim da proibição. Esses novos conceitos colocados diariamente afrontam os princípios cristãos despertando nos pais a insegurança de que não vão conseguir incutir no filho os ensinamentos bíblicos.
Desde cedo, filhos de pais cristãos começam a aprender que o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus e a obediência a Ele vem em primeiro lugar.
Quando falamos em educação de filhos cristãos entramos num dos principais problemas das famílias hoje em dia. “Ser criado numa família cristã e ensinado nas igrejas cristãs não garante que nossos filhos irão adotar a fé cristã” (MCDOWELL, 1994, p. 91). Enquanto as crianças são pequenas, são direcionadas e fazem o que os pais querem. À medida que crescem esses pais começam a entrar em conflitos, pois o crescimento e desenvolvimento causam mudanças e com as mudanças vem às crises. A primeira crise que se apresenta é a crise de autoridade, os pais acham que por deterem o total poder sobre o filho deve-se fazer obedecer e muitas vezes exercem o autoritarismo, prejudicando assim, o aprendizado. Alguns comportamentos são compreendidos pelos pais como rebeldia, fazendo-os agir de forma errônea buscando assegurar sua autoridade mostrando “quem é que manda”. Segundo McDowell, (1994) é preciso estabelecer um relacionamento real antes de estabelecer as regras para que estas não induzam a rebelião e não prejudiquem a autoimagem e autoestima do adolescente.
O relacionamento real é ao mesmo tempo estar ligado e diferenciado dos outros, possibilitando a auto-observação, disposição para autocrítica e consequentemente a mudança. Os filhos precisam reconhecer na relação com seus pais a verdade e segurança para o enfrentamento das próprias escolhas, buscando assim, o equilíbrio entre o respeito e obediência aos pais e a autonomia, proporcionando à família bases de respeito, amor e carinho, meios pelos quais a família se estrutura com saúde.
De acordo com Quirino, (2009) o objetivo de uma família cristã é construir um relacionamento saudável pautado num testemunho cristão, e isso é possível através dos direcionamentos bíblicos. É preciso que os pais não contradigam os ensinamentos, não adianta conhecer as Escrituras, ensiná-las aos filhos e não vivê-la, a criança não acreditará no ensino.É responsabilidade de todo pai cristão procurar conhecer a Palavra de Deus para falar sobre ela e comunicá-la com precisão aos seus filhos. Assim sendo, uma comunhão familiar é fundamental para o aprendizado sobre os fundamentos bíblicos sem pressão.
Diante do exposto, percebe-se que há uma necessidade de orientação a esses pais em como refletir sobre os seus filhos, proporcionando ajuda em como lidar com a angústia de não ter um manual ou treinamento para a criação dos filhos, mas que é na relação do dia a dia, na confiança no seu potencial que poderão ser pais sábios para promover um desenvolvimento adequado para seu filho. 

Discussão e Conclusão

Este trabalho buscou investigar possíveis ligações entre relações familiares e construção de identidade cristã. A revisão literária indicou que a família é o berço do desenvolvimento psíquico e, por conta disso, responsável pela transmissão de valores, costumes e conceitos acerca da vida (Soifer, 1982). Neste processo de transmissão, estão contidas fantasias, medos, anseios, crenças diversas, enfim, que são, na realidade, fruto de uma integração de costumes e valores, em partes pertencentes a uma figura paterna e, em partes, advindas de uma figura materna.   
Assim, é possível compreender que valores ligados à religião também serão transmitidos, e tais valores estarão, também, ligados à vivência religiosa dos pais. Se o objetivo da família é o de educar e formar o indivíduo, tal processo dar-se-á com base na formação que os pais deste tiveram anteriormente com seus familiares e responsáveis. O desenvolvimento da personalidade de um indivíduo, assim, está diretamente envolvido com as relações estabelecidas entre ele e seus familiares, e tais relações serão, então, determinantes também no processo da construção de sua identidade cristã, bem como no desenvolvimento de sua personalidade (Papalia, 2006).
No mundo pós-moderno há uma diversidade de pensamentos e religiões. As pessoas usufruem de seu livre arbítrio para viverem conforme suas crenças e ideologias, os valores deixaram de ser universais para se tornarem individuais e autônomos, cada um dita sua própria regra e assim, vale tudo.
Comumente se observa no meio cristão uma insegurança diante das dificuldades em relação aos ensinamentos bíblicos e com a rotina do dia a dia, da vida profissional, os pais não encontram tempo para conversar, brincar, enfim passar um tempo junto com os filhos e assim, fica difícil garantir que o filho seja alguém responsável, fiel e temente a Deus vivendo num mundo “contaminado” da pós-modernidade.
Há em certos pais uma fantasia de que existe um ensinamento privilegiado para os cristãos que parece ser diferente ao ensinamento secular, e um conflito quanto a esse ensinamento quando esse parece não ser internalizado por seus filhos, tendo que se colocar, o tempo todo, em contradição com a Bíblia. Esses pais consideram um desafio viver de acordo que a palavra de Deus num mundo todo “errado”, assim percebe-se um medo grande da influência desse mundo sobre seus filhos, colocando em cheque seu exemplo de cristão.
Muitos pais por não confiarem em si mesmos como instrutores da palavra de Deus, acabam agindo precipitadamente com castigos, chingamentos, instigando a ira em seus filhos. Em outro momento buscam respostas prontas para a educação dos filhos, demonstrando a incerteza de que são realmente capazes de instruir o filho como diz em Provérbios 22:6 : “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”, e que também podem fazê-lo através de seu exemplo como servos de Deus, ao contrário disso confirmam o tempo todo a sensação de não serem pais bons o suficiente para encaminhar e caminhar com o filho nesse ensinamento. A dúvida é a mesma para todos, como fazer com que os filhos saibam diferenciar o “verdadeiro certo” do “verdadeiro errado”, para realizarem escolhas certas, se eles – os pais, não conseguem entender as escolhas que fizeram? Assim fica difícil caminhar com o filho. Considerando o que diz McDowell, (1994) os filhos precisam ter convicções sólidas sobre a verdade para não aceitar facilmente as falsificações e fazerem escolhas erradas, trazendo assim sofrimento para a família.
É possível perceber que grande parte dos conflitos nos relacionamentos com os filhos são gerados pela incompreensão de qual o verdadeiro papel de pais cristãos na formação dos filhos. Em virtude de uma má interpretação de passagens bíblicas, surge a fantasia de que tudo é pecado, inclusive os conflitos vividos pela adolescência, não podendo enfrentá-la como um elemento importante no desenvolvimento do filho para o processo de tornar-se adulto.
Existe uma expectativa de uma educação cristã pautada em normas e valores cristãos, mas nem sempre o que é ensinado pelos pais é vivido pelos filhos, pois o inconsciente dos pais influencia a experiência consciente dos filhos e o que o filho aprende é através daquilo que não foi dito, mas foi sentido como verdade pela criança, levando os pais a colocar em dúvida sua própria fé. Exemplo disso é uma filha de pastor, criada com muito amor e carinho, na sã doutrina, sendo o orgulho dos pais por sua conduta, quando começou a namorar um jogador de futebol, fez sexo com ele logo no início do relacionamento e em pouco tempo dormira com toda a equipe de futebol, quando questionada o motivo de tal comportamento ela disse: “Eu queria me sentir amada. Nunca durava muito e sentia-me infeliz depois, mas pelo menos por breves momentos sentia como se alguém me amasse”. O pai ficou chocado com essa resposta, conta MCDOWELL (1994).
É fundamental que os pais não percam de vista os seus valores, os seus princípios, as suas crenças, estejam seguros do que buscam enquanto seres, enquanto sentido de vida, enquanto seu papel nesse mundo e que criem seus filhos com amor, respeito e compreensão, respeitando seus próprios limites e história de vida.   
Compreendemos que os valores ligados à fé cristã, bem como a formação da identidade cristã, estão estreitamente vinculados à família e aos valores estabelecidos por ela e também na segurança estabelecida através da confiança em si mesmo como cristãos autênticos, seguidores da palavra de Deus. É importante salientar que essa população precisa ser compreendida em suas necessidades reais para assim serem ajudadas a prevenir dificuldades relacionais, em um espaço de promoção da saúde familiar. E é exatamente esta a busca deste trabalho, alertar as famílias para prevenção e promoção da saúde no âmbito familiar e religioso.
Dessa forma este artigo procurou tecer considerações sobre a importância do relacionamento entre pais e filhos na formação da identidade cristã e chamar a atenção para futuros estudos nessa área.


Fonte: http://artigos.psicologado.com/atuacao/psicologia-da-familia/a-importancia-das-relacoes-pais-e-filhos-na-construcao-da-identidade-crista#ixzz2Wy1rL0Kn
Psicologado - Artigos de Psicologia 

A Privação do Vínculo Afetivo Materno pode Contribuir para o Ato Infracional do Adolescente na Atualidade?



Resumo: O estudo que se apresenta tem como objetivo principal entender a relação existente entre a privação do vinculo afetivo materno e os atos infracionais do adolescente na atualidade. As relações afetivas estabelecidas entre a mãe e seu bebê são fundamentais para assegurar a construção do psiquismo da criança, possibilitando um desenvolvimento saudável da personalidade e dos comportamentos sociais. É através do relacionamento seguro, continuo e intimo que a criança desenvolve a construção da sua auto-imagem e toma conhecimento do mundo exterior, que lhe é apresentado pela diferenciação do corpo materno. No entanto, a instituição familiar tradicional, composta pela triangulação, pai, mãe e filho sofreu inúmeras modificações ao longo do tempo que possibilitaram também mudanças nas relações parentais. No período atual, em virtude dos dinamismos sociais com a inserção da mulher no mercado de trabalho, a dedicação materna aos cuidados com a criança através de uma relação de proximidade e de afetividade ficou comprometida, devido à dupla jornada diária de trabalho que as absorve inteiramente em suas funções. Com a ausência da mãe e a privação do vinculo afetivo materno, as crianças e posteriormente, os adolescentes sentem dificuldades de se apresentar para o mundo social. É justamente, na atualidade que se verifica o aumento dos atos infracionais do adolescente, por isso, a partir da pesquisa bibliográfica com referenciais da psicanálise, etologia e da psicologia do desenvolvimento humano, pretende responder o objetivo principal desse estudo. No decorrer dos estudos, verificou-se que a privação do vínculo afetivo materno tem efeitos duradouros sobre a personalidade dos adolescentes que apresenta uma conduta antissocial buscando através do ato infracional, a reorganização do caos interior vivenciado pela falta do carinho, amor e da afetividade negligenciada pela privação materna.
Palavras-chave: privação, vínculo, adolescente, atualidade, atos infracionais.

1. Introdução

A família está no cerne do desenvolvimento humano e configura-se como a primeira instituição responsável pela socialização dos indivíduos, oferecendo através das interações familiares um suporte indispensável para o desenvolvimento físico, social, emocional, afetivo e psicológico de todos os membros que fazem parte desse sistema.
Na atualidade, a instituição familiar passa por inúmeras modificações em sua estrutura e no seu funcionamento. A estrutura tradicional da família composta por pai, mãe e filho cuja responsabilidade da socialização primária da criança era exclusivamente dos pais, entra em crise, devido à dificuldade de realizar satisfatoriamente suas funções sociais, deixando de se apresentar como um porto seguro que haveria de ampará-los de todos os seus infortúnios. Essas mudanças, em virtude dos dinamismos da sociedade juntamente com as novas relações sociais,
possibilitaram algumas transformações que interferiram no ciclo vital da família e nas relações parentais, configurando a concepção de uma sociedade fragmentada e pluralista. Dentre as mudanças ocasionadas na estrutura familiar, destaca-se a “emancipação feminina” com a ascensão da mulher no mercado de trabalho, que com uma participação mais efetiva e independente, busca através da atividade laboral o reconhecimento de direitos mais igualitários.
A participação ativa da mulher nas organizações de trabalho envolveu lutas sociais e de gênero a qual possibilitaram uma “revolução dos sexos” permitindo que a mulher pudesse realizar vários papéis sociais, como, profissional, estudante, dona de casa, mãe, entre outros, ademais, a mulher precisa dar conta dos afazeres domésticos, dos cuidados e da educação dos filhos, da sua capacitação profissional e dos cuidados estéticos. Dessa forma, o episódio histórico mencionado se configura como uma grande conquista em busca do reconhecimento da figura feminina, que viveu durante muito tempo subjugada e excluída da sociedade, tendo lhe sido negado a participação ativa nas decisões sociais. A partir da aquisição dos novos direitos e deveres, ela agrega em suas funções antigas, novas funções sociais, passando, a dividir com o homem, o lugar de provedora e mantedora do lar.
Com a maternidade, a mulher precisa se dedicar exclusivamente ao filho, porém, com a dupla jornada diária de trabalho que a absorve inteiramente em suas tarefas e o período curto da licença-maternidade, algumas delas encontram dificuldades em se dedicar satisfatoriamente as necessidades dos filhos, sendo delegado que outras pessoas ou outros agrupamentos sociais se responsabilizem por esta tarefa.
A relação da mãe com o bebê, em especial é fundamental na construção de um desenvolvimento psicológico e social saudável, além de contribuir para a formação dos relacionamentos posteriores. A mãe, na medida em que oferece uma base de apego seguro, através de um relacionamento caloroso, íntimo e contínuo, torna-se um suporte emocional imprescindível para garantir que os cuidados dispensados, sejam essenciais para a sobrevivência da espécie humana. Desse modo, a forma como as experiências são vivenciadas nos primeiros anos de vida, os tipos de vínculos estabelecidos entre mãe e filho e os comportamentos de apego tem efeitos duradouros sobre as condutas das crianças e dos adolescentes.
Dessa forma, os cuidadores, como as avós, as babás, ou professores de creches ou de berçários não possuem, ainda que tenha carinho pela criança, o envolvimento emocional necessário, para proporcionar a construção do psiquismo e a segurança necessárias para desempenhar no futuro, relações sociais satisfatórias. Em consequência, a ausência materna na relação afetiva e emocional com o filho, gera instabilidades emocionais na criança que podem trazer consequências nos relacionamentos posteriores. A atenção sobre o trabalho monográfico recai justamente sobre como a privação do vínculo afetivo seguro, causado pela negligência materna nas primeiras vivências familiares, que independente do nível sociocultural e econômico, pode interferir no desenvolvimento saudável da personalidade dos filhos.
Verifica-se que o vínculo afetivo materno é fundamental para garantir ao sujeito um desempenho satisfatório nas relações sociais e uma estrutura psíquica saudável, pois oferece a segurança necessária para a estabilidade psicológica e o equilíbrio emocional dos filhos. Em contrapartida, quando há ausência dos cuidados maternos, não é oferecida a essa criança a proteção adequada para o seu desenvolvimento, logo, o desamparo ocasionado pela privação da genitora gera instabilidade emocional, insegurança e o sofrimento futuro desses indivíduos que buscará algumas estratégias para compensar essa carência. Nesse sentido, impõe-se uma questão fundamental, qual seja, a privação do vínculo afetivo materno pode contribuir para o ato infracional do adolescente na atualidade?
Em virtude de possuir poucas pesquisas que abarcam o aumento dos atos infracionais cometidos por adolescentes na atualidade, a importância desse assunto justifica-se com o intuito de lançar luz aos conhecimentos da psicologia para que novas pesquisas sejam realizadas sobre o tema para que haja mais informações complementares acerca da relação existente entre a privação do vínculo materno e os atos infracionais do adolescente na atualidade.
Diante do exposto pretende-se analisar a relação entre a privação do vínculo afetivo materno e os atos infracionais do adolescente na atualidade. Para isso, têm-se como objetivos específicos: Propor uma análise sócio-histórica da família explicando as várias representações sobre a sua conceituação e entender as novas configurações desse sistema; enfocar a construção sócio-histórica da criança; analisar a importância das interações afetiva entre a mãe e o bebênos primeiros anos de vida e como os vínculos são estabelecidos; avaliar as características da adolescência e entender a relação existente entre a privação do vinculo afetivo materno e os atos infracionais do adolescente na atualidade.
Para ampliar o conhecimento sobre o assunto e atingir os objetivos propostos, a metodologia do trabalho desenvolveu-se a partir da pesquisa bibliográfica numa abordagem qualitativa, de natureza básica, cuja investigação consistirá na busca de referências por meio de livros, artigos, monografias e revistas nos quais se agregará informações e conhecimentos para responder a problemática que se propõe. Buscou-se como método de abordagem o indutivo, e em relação ao procedimento, o monográfico e histórico.
As técnicas de pesquisa baseiam-se na documentação indireta, por meio de pesquisas, revistas e artigos. É ainda, através da pesquisa explicativa, a partir do referencial de orientação psicanalítica, etológica e da psicologia do desenvolvimento humano que se pretenderá responder os objetivos dessa pesquisa.

2. Referencial Teórico

2.1 Análise Sócio-Histórica da Família e suas Mudanças

A família tem estado em destaque. Os estudiosos das ciências sociais e humanas tem ampliado seu olhar e dispensado atenção para este assunto, com o intuito de entender como essa instituição se mantém na atualidade. Estudos acerca das modificações ocorridas na estrutura familiar tem sido amplamente investigado na literatura, como também os efeitos que acometem o desenvolvimento dos membros familiares (REIS, 2006).
Entende-se que a instituição familiar é a principal responsável pelo processo de socialização primária dos membros desse sistema, apresenta-se como a mediadora entre o individuo e a sociedade sendo que é através dela que o sujeito adquiri os conhecimentos sobre a realidade objetiva e apreende os valores necessários para se preparar para a vida social. Para Forte (1996) sendo a família, a primeira instituição socializadora da criança, as interações afetivas construídas entre elas permitem que as figuras parentais exerçam certo controle sobre os relacionamentos que a criança estabelece dentro ou fora do âmbito familiar, assim ela desempenha como papel principal, a função de organizadora primária das relações sociais e da sexualidade do menor. Além disso, elas constroem entre si laços de dependência emocional que regulam o desenvolvimento das competências individuais, tanto a nível físico e social quanto psicoafetivo e emocional dos componentes desse sistema.
É também responsável pela apropriação da primeira identidade social do sujeito onde as figuras parentais se colocam como modelos de referência sendo as responsáveis pela transmissão psíquica, contribuindo assim para a estrutura da personalidade dos mesmos. Segundo Reis (2006) a família se constitui como o lócus privilegiado onde as primeiras relações se estabelecem, transmiti valores, crenças e ideologias além de influenciar também a vida afetiva, emocional e psíquica dos indivíduos, contribuindo para a formação da personalidade e a saúde mental deles.
É o sistema no qual se conjugam valores, crenças, conhecimentos e práticas, formando um modelo explicativo de saúde-doença, através do qual a família desenvolve sua dinâmica de funcionamento, promovendo a saúde, prevenindo e tratando a doença de seus membros (ELSEN, 2002 APUD SIMIONATO & OLIVEIRA, 2003, p. 57).
Embora a sociedade ofereça um modelo de família, cada uma delas tem a sua forma particular e específica de determinar as características que irão fazer parte do seu repertório comportamental a fim de agir como meio socializador dos seus membros (FORTE, 1996). Sendo assim, o ambiente familiar corresponde ao primeiro espaço de convivência que a criança tem acesso. Independente da estrutura da família e das relações que são estabelecidas entre os membros, positivas ou negativas, é nesse contexto que a criança cresce e desenvolve suas habilidades. A partir disso, a família demonstra-se como o espaço potencializador onde os membros desenvolvem suas capacidades físicas, mentais, sociais e emocionais necessárias à formação da personalidade e para estabelecer relações em outros agrupamentos sociais.
[...] é o primeiro ambiente no qual se desenvolve a personalidade nascente de cada novo ser humano. A família é vista como o primeiro espaço psicossocial, protótipo das relações a serem estabelecidas com o mundo. É a matriz da identidade pessoal e social (MINUCHIM, 1976 apud MACEDO, 1994, p. 63).
Abreu (2005) informa que o modelo de criação dos filhos tem uma importância expressiva porque fornece vivências interpessoais que incluem experiências, disciplinas e cuidados sobre os quais o desenvolvimento psicológico dos adolescentes se assentam. Essas experiências irão refletir nos posicionamentos posteriores adotados pelos adolescentes. O inverso se apresenta quando “as práticas de criação ajudam a formar um comportamento pró-social ou antissocial por atenderem ou deixarem de atender às necessidades emocionais básicas das crianças” (PAPALIA, 2006, p. 504).
O que caracteriza fundamentalmente o âmbito familiar são as relações de afeto, o compromisso estável e duradouro e a permanência como membro da convivência familiar (MACEDO, 1994). O propósito dela deve ser prover um contexto que supra as necessidades primárias dos seus membros, tanto relacionadas à sobrevivência quanto ao desenvolvimento, incluindo assim a relações de afeto e o sentimento de pertencimento.
As trocas afetivas na família imprimem marcas que as pessoas carregam a vida toda, definindo direções no modo de ser com os outros afetivamente e no modo de agir com as pessoas. Esse ser com os outros, aprendidos com as pessoas significativas, prolonga-se por muitos anos e frequentemente projeta-se nas famílias, que se formam posteriormente (SZYMANSKI, 2002 APUD PAIVA, 2008, p. 44).
As relações sociais estão imbricadas, as formas de criação adotadas na organização da estrutura familiar influenciam a conduta socializadora dos membros inseridos nesse contexto.  Petrini (2003, p. 43) diz que “[...] quanto mais frágeis os vínculos e os cuidados que a rede da solidariedade familiar oferece, tanto menores são as chances de integração social para os seus membros”. Dessa forma, quando os indivíduos vivenciam situações de vulnerabilidade, por meio de uma desestrutura no âmbito familiar, as possibilidades de desenvolver um quadro psicopatológico crescem progressivamente.
Bowlby (1981, p. 13) refere que “a qualidade dos cuidados parentais que uma criança recebe em seus primeiros anos de vida é de importância vital para a sua saúde mental futura”. Sendo assim, percebe-se que a qualidade das relações afetivas contribui de modo significativo na manutenção da saúde dos indivíduos desse sistema.
No que concerne à saúde mental do grupo familiar, ela só pode ser garantida se as interações estabelecidas levarem em consideração os aspectos biológicos, sociais e psicológicos do clico vital da família. Esse lugar deve promover a segurança necessária para garantir a identificação positiva da criança com os membros familiares. A saúde familiar é compreendida por meio das primeiras interações estabelecidas na formação do vínculo e da afetividade da criança na relação com os cuidadores. A importância da construção do vínculo afetivo proporciona a existência de uma base segura que garantirá uma boa qualidade de vida, mantendo assim o equilíbrio emocional dos familiares e o bem-estar dos mesmos.
Segundo Bock (2002), a família apresenta-se como uma construção sócio-histórica, pois possui várias significações em detrimento da influência do contexto social, político e culturala qual está inseridae passa por inúmeras variações que permitem uma nova configuração do que realmente, vem a ser a família.
Percebe-se que ao longo do tempo, a família passou por inúmeras mudanças em sua estrutura e no seu funcionamento. É evidente que as últimas modificações ocorridas ocasionaram transformações na capacidade da família desempenhar as suas funções primordiais.

2.1.1 As Várias Representações Acerca da Conceituação da Família

Buscar um conceito que aponte especificamente à representação que a família possui é uma tarefa difícil e complexa. Este termo não pode ter um conceito fixo e singular, portanto, o entendimento desse vocábulo só seria então possível a partir de uma descrição dos vários tipos de família, onde haveria características específicas decorrente de cada período histórico a que ela esteja intimamente relacionada. Dessa forma, entende-se que é possível “encontrar elementos comuns em algumas formas de composição familiar, mas nada que a defina ou a iguale e que permita reduzi-la a um único conceito” ZAMBERLAM (2001) APUD AZEVEDO (2008, p.19).
Não há no ordenamento jurídico, uma definição precisa sobre a família, pois seria difícil encontrar uma explicação que se adequasse a todas as épocas e culturas. Dito de outro modo, o importante é compreender que qualquer definição limitaria a compreensão da estrutura familiar, já que a mesma passa por inúmeras modificações ao longo do tempo (GOUVEIA, 2010).
Conforme a perspectiva sistêmica, a família é compreendida como um sistema aberto e dinâmico e que sendo afetada pelas mudanças sócio-históricas e culturais reage, adaptando-se as exigências suscitada pelo meio social a qual pertence, e assim, encontra novas possibilidades de reorganização modificando as funções sociais que permeiam o ciclo vital da família.
Ainda que a instituição familiar sofra variações no tempo e no espaço e passe por inúmeras modificações, ela ainda mantém a sua função primordial que consiste na socialização primaria ou no preparo para vida adulta e em sociedade dos sujeitos que fazem parte dela.  
De acordo com Gouveia (2010, p. 3) o “conceito de família é mutante e está em constante processo de transformação, desconstrução e nova formação”.
A família sofre fortes influências políticas, econômicas, sociais e culturais, ocasionando mudanças nos papéis e nas relações em seu interior, bem como alterando sua estrutura no que diz respeito à composição familiar. Graças a sua grande capacidade de ajustar-se às novas exigências do meio, a família tem conseguido sobreviver, a despeito das intensas crises sociais. Ela é ainda a matriz mais importante do desenvolvimento humano e também a principal fonte de saúde de seus membros (SIMIONATO & OLIVEIRA 2003, p. 59).
Frente às varias modificações sofridas, Paiva (2008, p. 45) enfatiza que “a família metamorfoseia-se simultaneamente ao movimento e dinâmica da realidade”. Embora, passe por inúmeras modificações, a família ainda mantém sua característica principal, simboliza a socialização dos indivíduos ensinando os comportamentos socialmente aceitos.
A metamorfose que a família vivência, ocasiona mudanças em sua estrutura, modificando os papéis parentais e as relações de convivência. Ao longo da história a família transformou-se profundamente a partir das relações de intimidade estabelecidas com a criança (ÁRIES, 2006).

2.2 O Enfoque da Construção Sócio Histórica da Criança

Na Idade média, após o desmame, com idade aproximada de 7 a 9 anos, as crianças deixavam suas casas e eram enviadas para outras famílias, onde deveriam aprender um oficio. A educação era pautada na aprendizagem dos serviços domésticos e a transmissão do conhecimento era baseada na inserção da criança no mundo do adulto, esta era chamada de aprendiz e tinha como obrigação aprender por meio do trabalho os valores de uma sociedade (ÁRIES, 2006).  
Não havia intimidade e nem tão pouco afetividade nas relações pai e filho, conforme Áries (2006, p. 158) “a família não podia, nessa época, alimentar um sentimento existencial profundo entre pais e filhos”. Logo, a sua função era segundo Áries (2006, p. 191) “assegurar a transmissão da vida, dos bens e dos nomes, mas não penetrava muito longe na sensibilidade”. Esta era a maneira que a sociedade medieval encontrou para preparar o individuo para a vida social.
A partir do século XVI ocorreram algumas transformações que modificaria essa realidade, já que com a extensão da frequência escolar, a educação passaria a ser fornecida pela escola. Os pais queriam seus filhos o mais perto de si possível, logo houve uma aproximação da criança com a família.
Segundo Áries (2006, p.189) nesse período, “a criança tornou-se um elemento indispensável da vida quotidiana, e os adultos passaram a se preocupar com a sua educação, carreira e futuro”.
Ao longo do século XVII, assinala Carneiro (1986) com a preocupação da educação das crianças, os pais tendem a manterem-se mais próximos delas e atentos aos seus comportamentos, havia assim uma maior afeição entre eles e o aparecimento de um sentimento de infância antes desconsiderado pela sociedade medieval. A criança ganha evidencia nesse novo cenário, e os pais desejavam participar de forma mais ativa da educação delas, tendo a preocupação com uma infância disciplinada.
No início do século XVIII, a burguesia entra em cena e conquista seu espaço, influenciando a organização da família que passa a ser um lugar privado, composta por pais e filhos. Havia uma divisão sexual nas funções parentais, a mulher burguesa se responsabilizava pelos cuidados com a casa e com a educação dos filhos e o pai era o responsável pelo provimento econômico. Desse modo, Áries (2006) enfoca que a família nuclear burguesa tinha como função garantir a educação e proteger a honra dos filhos.
A afeição tornou-se necessária entre os cônjuges, e entre os pais e os filhos. O “sentimento de família” nasce simultaneamente com o “sentimento de infância”: com o objetivo de melhor cuidar de suas crianças, a família recolheu-se da rua, da praça, da vida coletiva, em que antes se encontrava, para a intimidade fazendo desaparecer a antiga sociabilidade (PONCIANO & CARNEIRO, 2003, p. 60).
Em função da industrialização, com o êxodo rural e o encantamento pelas cidades, as famílias tendem a procurar novos espaços migrando para outras regiões a fim de assegurar a melhoria da qualidade de vida, isso proporcionou um distanciamento do convívio com os parentes e com a vizinhança, sendo assim, as mudanças ocorridas transformaram o lugar da família num espaço privado.
Nesse período, nasce à família moderna que se afasta das aglomerações e se coloca a parte, a fim de não se misturar com a coletividade, tornou-se assim, uma instituição privada e fechada, que tinha como função principal garantir a educação dos filhos e o bem-estar deles. Surge pela primeira vez à preocupação com a qualidade de vida dos membros familiares, que agora estavam unidos pelo sentimento, pelo vínculo afetivo intransponível e pela intimidade (ÁRIES, 2006).
No final do século XVIII e início do século XIX, a mulher em função da maternidade, que era vista como um ideal máximo de realização feminina reprime os desejos pessoais e se concentra no papel da “boa mãe” se dedicando afetivamente e integralmente aos cuidados dispensados as crianças, sendo também a responsável pelo lar (BRAGA & AMAZONAS, 2005).
A família em sua totalidade expressa seus conflitos, suas contradições e as novas possibilidades de agrupamento, já que desde a sua formação na sociedade medieval, vem transformando as idéias originárias da concepção do grupo familiar e transformando-se em uma nova configuração. Dessa forma, Petrini (2003) argumenta que às novas gerações por si só não conseguem suprir as necessidades imediatas, o que resulta em dificuldades para alcançar a estabilidade emocional e psicológica necessária para enfrentar a realidade social.
A família, nesta época de tantas modificações, muitas vezes vê-se confusa em suas próprias transformações. O ser humano, ao nascer em um sistema familiar, recebe todas as influências culturais do momento em que vive, acrescidas das informações transmitidas através das gerações por seus ascendentes. Necessita, então, poder elaborar em si mesmo os novos comportamentos, idéias, sentimentos, valores, etc. integrando-os adequadamente aos recebidos transgeracionalmente (HINTZ, 2001, p. 18).

2.3 As Novas Configurações Familiares

O modelo de família nuclear burguesa baseado na triangulação composta por pai, mãe e filhos, em respeito aos dinamismos político, cultural, ideológico e religioso da atualidade permitiram que essa instituição passasse por uma crise em virtude das concepções alternativas de convivência que promoveuuma reestruturação na conjuntura familiar, modificando o modelo antigo em moderno.
À medida que a família entra em crise, a ponto de não mais realizar satisfatoriamente as suas tarefas básicas de socialização primária e de amparo/serviço aos seus membros mais frágeis, prospecta-se no horizonte uma situação de carências que poderão desaguar na delinquência, na marginalização, na mendicância, no alcoolismo, no uso de drogas, na prostituição, na maternidade precoce, com sensível elevação dos índices de violência (PETRINI, 2003, p. 43).
Hintz (2001) realça que na atualidade, a família sofreu algumas transformações que resultaram na modificação das funções parentais. Nesse período, destaca-se a participação ativa da mulher no mercado de trabalho que segundo Gomide (2009) após a revolução sexual, ela passa a participar ativamente do mercado de trabalho, aliando ao papel de cuidadora, a função também de provedora do lar. Isso trouxe implicações na estrutura familiar como também nos papéis parentais. Em decorrência, da profissionalização da mulher em da busca de melhores oportunidades de trabalho e na autonomia alcançada ao longo das lutas sociais através da igualdade entre os sexos, a responsabilidade sobre o cuidado pela criança se torna meio a meio, dividida entre o pai e a mãe.
Bucher (1999) argumenta que ao saírem em busca de melhores condições de vida, e de independência financeira os pais correm o risco de prejudicar o desenvolvimento emocional e afetivo dos filhos, visto que o distanciamento físico, e a ausência das principais figuras de vinculação resultam na delegação de suas funções a outras instâncias. Em relação às necessidades de trabalhar fora, a falta de um suporte familiar, ou a própria rejeição ao filho, os pais precisam se ausentar das experiências diárias com as crianças, encontrando como possibilidades que outros cuidadores desenvolvam esse papel para suas crianças.
Embora, a figura materna seja a mais dedicada para realizar essa função, alguns cuidadores desde que sejam bem orientados podem colaborar para o desenvolvimento dessas crianças. Ainda que, essas crianças sejam cuidadas por outras pessoas, tendo as suas necessidades físicas supridas, como alimentação, higiene, entre outras, a questão que envolve a construção da subjetividade é responsabilidade insubstituída da mãe, é esta que tem a capacidade de desenvolver através da afetividade, dos carinhos, da satisfação das demandas, e da referência como suporte emocional contínuo, duradouro e íntimo, o psiquismo da criança.
A mulher tenta aliar a função materna com a profissional, de acordo com Papalia (2006), a busca da profissionalização feminina não a impede de realizar as questões relacionadas à maternidade e os afazeres domésticos, no entanto, torna-se uma tarefa árdua conciliar essas funções, já que as exigências sobre as mulheres são maiores, em virtude de ela ser a principal responsável por cuidar, educar e promover satisfatoriamente o desenvolvimento dos filhos, além de realizar as atividades do trabalho e de se envolver com os cuidados estéticos.
Por outro lado, existem ainda algumas mães que não conseguem aliar satisfatoriamente as funções sociais da maternidade e as profissionais e qualquer dificuldade ou falha em realizar esses papéis, podem provocar um sentimento de culpa nelas, principalmente no que diz respeito aos cuidados direcionados aos filhos.
Em virtude do exposto, algumas delas podem abrir mão do trabalho ou delegar os cuidados maternos a outras pessoas, como a parentes ou colocar em instituições que exerçam esses cuidados.
Uma mãe poderia também se ausentar dos cuidados maternos dedicados ao bebê, por meio das questões trabalhistas, delegando a outras pessoas a responsabilidade diária de cuidar do seu filho, embora o seu afastamento, em virtude da jornada diária de trabalho que a absorve em suas atividades, além do período curto da licença-maternidade, possa contribuir com a ocorrência de um desenvolvimento insatisfatório da personalidade e do desenvolvimento emocional da criança não se pode culpá-la.
Conforme, Winnicott (2006) isso se deve a uma falha do fator “mãe dedicada comum”, na presença de uma mãe suficiente boa que proporcionasse um ambiente seguro e protetor no qual ela estaria sempre próxima para assegurá-los de suas necessidades.
Averbuch, Anele e Arlaque (1995, p. 31) afirmam que a sociedade “vê com maus olhos o “abandono” dos filhos por causa do trabalho”, suscitando nas mães que trabalham fora o sentimento de culpa, “acreditando que qualquer problema apresentado pelos filhos deve-se diretamente à sua ausência”.
Algumas mães tem uma jornada diária excessiva de trabalho, são muito ocupadas e quando chegam em casa tarde, estão muito cansadas e não tem tempo e nem disposição para cultivar um bom contato com os filhos. Além de não conseguir desenvolver laços afetivos duradouros por não se manterem suficientemente próximas dos filhos quando estes a solicitam. Sendo assim, não amamentam, não seguram, não acariciam e não cuidam dos seus filhos.
Dessa forma, caracteriza-se a existência de uma “mãe negligente”, que pode ocorrer tanto em famílias de alto nível socioeconômico quanto em baixas condições aquisitivas, tanto com a ausência ou não da figura paterna (GOMIDE, 2009).
Nessas situações onde há uma “mãe negligente”, “os filhos crescem sem que as mães saibam o que eles pensam, sentem ou gostam. A falta de interação, de vínculo afetivo positivo, de demonstração de interesse gera a situação de negligência” (GOMIDE, 2009, p. 70).
Nesse sentido, a negligência é entendida como a desatenção, a ausência, a omissão e a privação materna.
Crianças negligenciadas e espancadas tornam-se adolescentes e adultos infratores, usuários de droga, agressivos, enfim com uma série de condutas antissociais que inviabilizam a sua adaptação à sociedade. A negligência impede o desenvolvimento da autoestima, que é o principal antídoto ao aparecimento do comportamento antissocial. A criança negligenciada é insegura, seu olhar não tem brilho. Por não ter recebido o afeto que alimentaria seu ser, ela é frágil (GOMIDE, 2009, p. 73).
A “privação parcial da mãe”, também pode ocorrer, onde a mãe mesmo estando em casa e por sentirem que seus sonhos foram frustrados, se encontra distante e ausente, não oferecendo os cuidados amorosos que a criança precisa. (BOWLBY, 1981).
A forma como a cuidadora exerce os cuidados sobre a criança tem importância significativa para o seu desenvolvimento, ainda que as primeiras relações estabelecidas com as babás, parentes ou professoras das creches possam oferecer um “suporte emocional seguro” para essas crianças, apresentando-se como uma “figura substituta” da mãe ausente, o sofrimento causado pela privação do vínculo afetivo materno pode até ser amenizado, o que não indica que a criança não sentirá a ausência desses cuidados.
É muito difícil a criança se apegar e confiar num “estranho”, ainda que ele ofereça uma relação carinhosa, em virtude de não ter estabelecido ainda a confiança no outro. A contrapartida se efetiva no sentido de que para estabelecer um elo afetivo e seguro, as “figuras substitutas” devem oferecer uma relação de intimidade, o que na maioria das vezes não acontece, porque as limitações dos cuidados oferecidos, além de satisfazer as necessidades fisiológicas, não proporcionam o envolvimento emocional indispensável para desenvolver as competências individuais, as crianças precisam acima de tudo de serem amadas. Segundo Bowlby (1981), as crianças precisam que suas mães ofereçam calor, intimidade, afeto, carinho e amor.
A família como suporte básico do desenvolvimento emocional e social da criança e do adolescente auxilia no desenvolvimento da saúde familiar por meio das primeiras interações estabelecidas na formação do vínculo e da afetividade da criança na relação com os cuidadores.
A família passa por profundas alterações na sua estrutura e dinâmica – separações e novos casamentos, ausência de um dos genitores, ausência prolongada de ambos os pais pela exigência do trabalho – o que provoca conseqüências, a serem pesquisadas, na criança e no adolescente. O efeito mais visível é o pouco contato e conhecimento deste filho e a ausência de controle sobre as rotinas e hábitos dele, o que pode ser vivido por este de inúmeras formas, inclusive como falta de cuidado e afeto (TEIXEIRA, 1994 APUD PAIVA, 2008, p.50).
No que concerne a saúde mental do grupo familiar, ela só pode ser garantida se as interações estabelecidas levarem em consideração os aspectos biológicos, sociais e psicológicos do clico vital da família. Dessa forma, esse lugar deve promover uma segurança necessária para garantir a identificação positiva da criança com os membros familiares.

2.4 A Importância das Interações Afetivas Entre a Mãe e o Bebê nos Primeiros Anos de Vida

As interações afetivas estabelecidas entre a mãe e seu filho, nos primeiros anos de vida, se configuram como uma relação primordial e necessária. O papel materno é compreendido em sua função estrutural, como um fator de proteção e segurança para o desenvolvimento emocional, social e psicológico saudável de crianças, adolescentes e adultos, sendo que, alguns elementos do aparelho psíquico deste, só podem ser constituídos pela presença da mãe que através dos cuidados, ao suprir as demandas de amor, oferece uma base segura e constrói a dimensão simbólica e imaginária da criança (BENHAIM, 2008).
Dessa forma, é a mãe quem exerce a principal função de cuidadora.
A mãe quem alimenta e limpa a criança, quem a mantém aquecida e que a conforta. É a ela que a criança recorre quando se sente aflita. Aos olhos da criança pequena, o pai desempenha um papel secundário, e seu valor cresce apenas à maneira que a criança se torna mais capaz de arranjar–se sozinha (BOWLBY, 1981, p. 15).
Ainda segundo Bowlby (1981), a qualidade dos cuidados, os padrões de comportamentos de apego e os tipos de vínculos frequentemente oferecidos pelo pai e pela mãe ao bebê não são encontrados em nenhum outro tipo de relação. Embora, a figura materna seja a principal cuidadora na organização psíquica e nos processos de desenvolvimento da criança, a sua ausência afeta drasticamente a conduta dos menores.
É importante salientar que os tipos de vínculos que são estabelecidos na primeira infância influenciarão de forma significativa os relacionamentos posteriores.
A ênfase dada à díade mãe e filho se deve de modo principal, pois, conforme, Bowlby (2002), ela é considerada a representante vital no processo de vinculação, estabelecendo com a criança um forte envolvimento emocional.
Nos primeiros anos, o bebê exerce uma relação de total dependência materna, sendo através da comunicação verbal e não verbal, do modo como ela o segura, das relações de intimidade e de afetividade que ele constrói o seu psiquismo.
É por meio do envolvimento emocional dessa relação de proximidade, que a criança sente a segurança do ambiente externo que lhe é apresentado pela figura materna (WINNICOTT, 2006).
O rosto da mãe é o verdadeiro referencial para a criança, sendo que é a partir das primeiras experiências subjetivas através de um “banho de afetos” que a genitora apresenta o mundo para criança de forma criativa, proporcionando o desenvolvimento da autoimagem e da visão de mundo da criança, é também através dessa interação que a mesma passa pelo processo de reconhecimento e de individuação (LEBOVICI, 1987).
Se essa relação perde a exclusividade materna, sendo delegada a outras pessoas, que não possuem o envolvimento afetivo e emocional necessário para oferecer o suporte seguro para o desenvolvimento emocional dessa criança, ela se sente desamparada e angustiada.
Para Winnicott (2006) e Bowlby (1981) os cuidados maternos estabelecidos nos primeiros anos de vida, são essências para assegurar a saúde mental dos filhos. Desse modo, quando essas relações são favoráveis o bebê amplia sua capacidade de estabelecer relacionamentos saudáveis e de desenvolver sentimentos.
Quando existem estas condições, “[...] o bebê pode desenvolver a capacidade de ter sentimentos, que de alguma forma, correspondem aos sentimentos da mãe que se identifica com o seu bebê” (WINNICOTT, 2006, p. 5).
A criança precisa ter a consciência de que é reconhecida e desejada pela mãe como um objeto de satisfação  e orgulho, e o desenvolvimento da sua personalidade baseia-se na personalidade da própria mãe, sendo um prolongamento, ou seja, “ela é o bebê, e o bebê é ela” (WINNICOTT, 2006, p. 4).
Bowlby (1981) acreditava ser necessário para a saúde mental do bebê que ele estabelecesse com a mãe, um relacionamento caloroso, íntimo e contínuo que fosse prazeroso para ambos. Nesse sentido, pode-se afirmar que:
[...] seres humanos de todas as idades são mais felizes e mais capazes de exercitar melhor seus talentos quando seguros de que, atrás de si, há uma ou mais pessoas em quem cofiam e que lhe darão ajuda em necessidade (BOWLBY, 1984, pp. 375). 
Segundo Peters (1999, p. 69), “a ênfase no relacionamento mãe-filho domina as atitudes maternas na forma de ‘teoria de vínculo afetivo’”. Diante disso, a forma de vinculação pode se configurar em duas vertentes, sendo um fator de segurança ou um fator de risco, podendo ser deflagradas condutas de natureza antisociais. É importante salientar que os tipos de vínculos que são estabelecidos na primeira infância influenciarão de forma significativa os relacionamentos posteriores.

2.5 O Desenvolvimento do Vínculo Afetivo e os Tipos de Apego

As condutas de apego estão presentes desde a mais tenra infância. As interações estabelecidas entre a criança e a mãe desempenharão um papel indispensável no desenvolvimento evolutivo da personalidade das crianças e dos adolescentes.
Essa vinculação afetiva permitirá o acesso a uma base pessoal segura que proporcionará uma organização saudável do repertório comportamental desses indivíduos frente às situações da vida (BOWLBY, 1997).
Cada ambiente familiar possui uma dinâmica de interação ao qual possibilitará de modo particular, o desenvolvimento emocional e social dos seus membros. Em virtude dessasinterações, a forma como foi estabelecida os primeiros padrões de comportamentos de vinculação na infância, tende a persistir por toda a vida (BOWLBY, 1997).
Os primeiros vínculos que são estabelecidos por um indivíduo na infância são cruciais para a definição dos tipos de padrão de apego, que serão desenvolvidos ao longo do ciclo vital nos agrupamentos sociais que ele se insere (BOWLBY, 1993).
A primazia dos primeiros relacionamentos representam então, protótipos para os relacionamentos que se seguirão por toda uma vida, particularmente àqueles que abarcam as mais variadas formas de intimidade e afeto (ABREU, 2005, p. 104).
A necessidade de uma figura de vinculação parental que seja uma fonte de segurança e conforto não se limita apenas a criança (BOWLBY, 1997). Embora, essa relação seja fundamental na infância, ela não é exclusiva dessa fase, sendo importante também para os adolescentes e adultos.
Dessa forma, os padrões de apego que foram desenvolvidos na infância com o objetivo de manter a proximidade com os cuidadores tende a se manter nas relações futuras, já que eles se colocam em situações que reforçam esse modelo de vinculação (SPERLING & BERMAN, 1994) APUD (DALBEN, 2005).
Portanto, pode-se afirmar que as crianças entenderão as novas situações a partir de certas preconcepções e vieses interpretativos extraídos de suas expectativas pregressas do comportamento em relação aos outros. Ou seja, somente podemos imaginar o futuro na exata medida em que nos recordamos o passado (ABREU, 2005 p. 104).
É importante salientar que as condutas de vinculação são destacadas como extremamente importantes para o bom desenvolvimento da saúde mental e qualquer tipo de fragilização na interação entre a criança e a mãe, potencializará situações que colocariam em risco a estabilidade emocional, gerando desconforto, tensão e crise (ABREU, 2005).
Diante disso, as experiências subjetivas das crianças com os relacionamentos interpessoais são de vital importância para o desenvolvimento psicológico humano. Em termos de experiência subjetiva, a formação de um vínculo é descrita como “apaixonar-se”, a manutenção de um vínculo como “amar alguém”, e a perda de um parceiro como “sofrer por alguém” (BOWLBY, 1997, p. 98).
Entende-se que os laços afetivos funcionam como um elo positivo e duradouro que serve para unir os genitores aos filhos e o vínculo afetivo como uma ligação de natureza emocional estabelecida nas relações sociais, interpessoais ou intrapessoais, conhecido também como um elo potencializador de mudanças (ZIMERMAN, 2001) APUD (RAMIRES, 2004).
Segundo Abreu (2005) os vínculos e os padrões de apego, são aspectos internos que fazem parte do comportamento de ligação de todos os indivíduos estabelecidos durante o processo de desenvolvimento do ciclo vital. Por meio de seus estudos ela adquiriu informações que permitem diferenciar essas formas de vinculação.
Entende-se que o vinculo é relativamente duradouro no qual o parceiro é importante como um indivíduo único, não podendo ser trocado por outro. Em um elo ativo, há um desejo de se manter proximidade com o parceiro. Um apego é uma subversão de vinculo emocional em que a sensação de segurança de uma pessoa está inseparavelmente ligada à relação (BEE, 1997, p. 165).
Os padrões de vinculação estabelecidos nas interações entre a mãe e o seu bebê, os comportamentos de ligação formados através das relações de cuidado propiciam uma base segura que permite que as crianças explorem confortavelmente o ambiente físico sentindo-se protegidas e amparadas nas demais situações (ABREU, 2005). A qualidade dessas relações auxilia na construção dos laços afetivos e garante as crianças um desenvolvimento físico, social, psíquico e emocional saudável.  Em seu estudo, Ainsworth et. al. (1978) apud Abreu (2005) enfatizou o Procedimento da Situação Estranha cujo interesse era medir a tensão acumulada pela criança diante da exploração de um ambiente desconhecido na ausência da mãe e pretendia assim, entender as relações de conforto e desconforto vivenciadas nessa situação.
Através do procedimento foram verificados os padrões de vinculação estabelecidos entre elas e percebeu-se que algumas crianças desenvolvem o apego seguro, outras o apego inseguro e evitativo ou o apego inseguro e ansioso (ABREU, 2005).
A capacidade da criança de usar o genitor como uma base segura para exploração depende da qualidade da ligação. Esta pode ser avaliada solicitando-se que os pais deixem a criança em uma sala de brinquedos desconhecida, a “situação estranha” (BERHRMAN, 2002, p. 37).
Tabela 1: Padrões do Comportamento da Interação da Criança com a Mãe no Procedimento da Situação Estranha
Apego Seguro
Apego Inseguro – Evitativo
Apego Inseguro - Ansioso
A mãe é uma base segura para exploração do ambiente (separa-se para brincar, partilha emoções enquanto brinca, estabelece relação com o estranho na presença da mãe; conforta-se rapidamente após a situação indutora de estresse). Busca ativa de contato e de interação com após a reunião (quando agitada, procura imediatamente o contato e este põe fim à agitação; quando não está agitada, mostra-se satisfeita por ver a mãe e dá inicio a interação).
Exploração independente da mãe (no inicio separa-se da mãe para explorar o ambiente; baixa partilha de afetos; estabelece relação com o estranho). Evitação ativa da mãe após a reunião (olha para o outro lado, movimenta-se em outra direção, ignora; não evita o estranho).
Comportamento exploratório pobre (dificuldade de se isolar para explorar o ambiente; necessita sempre de contato, mesmo antes da separação; receio de situações e pessoas diferentes). Dificuldade de estabelecer contato após a reunião (existência simultânea de procura e resistência ao contato, gritando, dando pontapés ou rejeitando brinquedos; pode continuar a chorar e gritar ou aparentar grande passividade).
Fonte: Ainsworth et al. (1978) apud Abreu (2005, p. 62).
Uma das características mais importantes em relação ao apego ocorre quando, se por alguma circunstância a conduta de apego for alterada, ela provocará mudanças na autoimagem dos respectivos filhos (ABREU, 2005).
As crianças que são identificadas como pertencentes ao padrão de apego inseguro e evitativo convivem num ambiente familiar instável marcado por conflitos nas relações parentais, que ora se apresenta de modo prestativo ora se mostra inacessível, inferindo ameaças constantes de abandono com alto grau de controle, utilizando a coerção como uma medida educativa para controlar os comportamentos dos filhos. É também comum neste padrão o aparecimento de comportamentos anti-sociais (ABREU, 2005). E na adolescência, demonstram uma autoimagem cheia de necessidades não supridas pelos cuidadores que são considerados os responsáveis por esses infortúnios, apresentam sentimentos negativos em relação à forma de funcionamento da família, por terem vivenciado as relações afetivas de modo angustiante, confuso e insatisfatório evitando contato com outras pessoas, pois julgam que elas não queiram se envolver emocionalmente com eles (KOBAK,1993) apud (DALBEM, 2005).
De acordo com Abreu (2005, p.107) “entende-se que as experiências associadas ao processo de apego ou vinculação oferecem uma contribuição significativa ao entendimento e a formação dos quadros de vulnerabilidade psicológica”.
Concomitantemente a carência vivenciada pela criança devido às dificuldades nas interações afetivas com as figuras parentais, proveniente de uma falha no desenvolvimento interpessoal estabelecido principalmente com a mãe, gera instabilidade e insegurança, comprometendo por vezes, a saúde mental e psicológica dos menores, sendo evidenciada de forma mais expressiva na conduta dos adolescentes. Dessa forma, Abreu (2005) acredita que os adolescentes que apresentaram padrões de apego negligente e inseguros estão mais propensos a apresentar transtorno de conduta, abuso de drogas, personalidade anti-social, podendo possuir também um transtorno afetivo ou de personalidade.
Por isso, entende-se a importância da organização dos padrões de apego que possuem consequências significativas nas condutas dos menores, que estão ainda em processo da formação da personalidade, podendo assim desenvolver uma personalidade pró-social ou anti-social. Condizendo, com os estudos entende-se que a vulnerabilidade psicológica dos adolescentes em conflito com a lei envolve traços de personalidade de natureza anti-social proveniente de várias experiências subjetivas com uma mãe negligente que estabeleceu um apego inseguro em sua relação, tendo privado o seu filho de ser uma “mãe dedicada” (ABREU, 2005).

2.6 Características Gerais da Adolescência

A adolescência é entendida como etapa do desenvolvimento humano situada entre a infância e a idade adulta, envolve mudanças cognitivas e biológicas com a puberdade, uma vez que a forma de elaborar o pensamento e compreender as situações envolve operações mais concretas da realidade, e psicossociais com a maior independência nas escolhas dos grupos sociais.
Alguns teóricos a definem, de acordo com bases biológicas e cronológicas, outros percebem a importância do meio social na conceituação do processo de adolescer.
Para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), conforme o artigo 2º “considera-se criança para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescentes aquela entre doze e dezoito anos de idade” (BRASIL, 2010, p. 7).
Em acordo com Papalia (2006, p. 440) “a adolescência dura aproximadamente 10 anos, dos 11 ou 12 anos até pouco antes ou depois dos 20 anos. Seu ponto de inicio ou termino não é claramente definido” e em geral pode-se anunciar o inicio da adolescência, com a puberdade definida como a capacidade de reprodução.
Diante do exposto, percebe-se que não há uma precisão acerca dos processos que definam a inscrição na adolescência, podendo crer que esse processo não é meramente biológico, mas precisa acompanhar uma maturidade psicológica.
A adolescência configura-se como um momento decisivo para vida dos indivíduos é absolutamente necessário passar por esse processo, para formar a personalidade.
De acordo com a abordagem psicanalítica, essa fase corresponde a uma etapa de total desprendimento ou da vivência de vários lutos ou perdas.
 Pode-se dizer que se realizam três formas de desprendimentos fundamentais para afirmação da identidade do adulto, a primeira o luto pelo corpo infantil devido às modificações biológicas e corpóreas suscitadas pela puberdade, a segunda o luto pelo papel e identidade infantil que trás o imperativo das responsabilidades e obrigações que às vezes, ele mesmo desconhece, e a terceira, os lutos pelos pais da infância cujo referencial era de segurança e aconchego, e nesse momento precisa haver uma maior independência das figuras parentais.
 As formas de luto correspondem a várias perdas da personalidade infantil, que faz com que o adolescente tenha que buscar uma nova identidade que possa assegurar a sua condição de adulto, juntamente há também a revivescência do Édipo (ABERASTURY & KNOBEL, 1981).
É a etapa da vida durante a qual o indivíduo procura estabelecer sua identidade adulta apoiando-se nas primeiras relações objeto-parentais internalizadas e verificando a realidade que o meio social lhe oferece, mediante o uso dos elementos biofísicos em desenvolvimento á sua disposição e que por sua vez tendem á estabilidade da personalidade num plano genital, o que só é possível quando consegue o luto pela identidade infantil (ABERASTURY & KNOBEL, 181, p.26).
Conforme Dantas (2002), a adolescência constitui uma fase de revivescência ou de resignificação edípica, que após o período de latência, na medida em que o corpo passa por transformações em virtude da puberdade tem que se adequar a uma nova realidade através disso poderá ressurgir o Édipo que se configura num lugar de repetições.
A perspectiva psicanalítica concebe a adolescência como uma fase natural do desenvolvimento e coloca a ênfase no biológico enfatiza as estruturas internas como propulsionadoras do desenvolvimento.
Em concordância, Aberastury & Knobel (1981, p. 10) propõe a existência de uma “crise essencial da adolescência” como um fator inerente ao desenvolvimento humano desconsiderando a influência do aporte social nas interações humanas. Sendo assim, as características fundamentais são:
Busca de si mesmo e da identidade; tendência grupal; necessidade de intelectualizar e fantasiar; crises religiosas, que podem ir desde o ateísmo até o misticismo mais fervoroso descolarização temporal, onde o pensamento adquire as características de pensamento primário; evolução sexual manifesta, que vai do autoerotismo até a heterossexualidade genital adulta; atitude social reivindicatória com tendência anti ou associais, de diversa intensidade contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta, dominada pela ação e constitui a forma de expressão conceitual mais típica deste período da vida; na separação progressiva dos pais; e constantes flutuações do humor e do estado de ânimo (ABERASTURY & KNOBEL, 1981, p.29).
Segundo Erickson (1968) apud Papalia (2006) a principal tarefa na adolescência é confrontar a crise de identidade versus confusão de identidade, a fim de se tornar um adulto único com um senso de identidade condizente e valorizado pela sociedade. Para formar a sua identidade é necessário que o adolescente resolva algumas questões importantes, como escolher uma ocupação, adotar valores nos quais acredita (segui-los como critérios de vida) e desenvolver uma identidade sexual satisfatória.
A confusão de identidade ocorre porque os adolescentes não tomam outras pessoas como modelo de referencias, mas sim adéqua as vivencias passadas para formar a identidade do adulto. O autor citado enfatiza que os adolescentes procuram se comprometer com fidelidade em suas ocupações, isso significa também identificar-se com os valores sociais e serem fieis a eles, além de buscar uma ideologia baseada naquilo em que ele acredita ao invés de aceitar as escolhas parentais, a isso Erickson (1968) denominou moratória social.
A sociedade atual apresenta algumas questões que não podem ser desconsideradas para a compreensão do que se passa na adolescência, constitui-se assim uma era de complexidade onde há a superficialidade das relações, individualismo exacerbado, consumismo exagerado, falta de interesse e de um elo que auxiliem a construção de um saber sobre si e sobre o mundo.
Aberastury & Knobel (1981) consideram que o período atual da nossa sociedade, projeta suas próprias falhas nos assim chamado excessos de juventude, responsabilizando-os por comportamentos que transgridem a lei, utilizando as condutas antissociais como representação da delinquência, pela aderência às drogas, pela prostituição, pela prática de infrações, entre outros.
Da criança, espera-se que ela seja o futuro; do adulto, esperasse que ele cumpra o passado. E do adolescente, o que se espera?(...). Espera-se talvez, que ele conteste. Que ele não precise estar submetido a uma ordenação. Que ele possa ser aquele que escape da alienação que a transmissão da língua, da cultura, impõe. Ou seja, talvez se espere exatamente aquilo que ele tenta cumprir sendo um pequeno transgressor (COSTA, 1999) apud (PAIVA, 2008, p. 40).
A adolescência é um “período marcado por contradições, ambivalência de sentimentos, caracterizados por conflitos com o meio familiar e social” ABERASTURY & KNOBEL (1981, p. 13). Por conseguinte, Souza e Schnelder (2008, p. 153) acreditam que quando o ambiente social não proporciona aos sujeitos alternativas para satisfazer seus desejos, ele pode utilizar da violência como uma tentativa, ainda que momentânea,  para atrair para si aquilo que lhe falta, e que ele tanto quer.
No entanto, Osório (1992) apud Ozella (2002, p. 19) diz que “sem rebeldia e sem contestação não há adolescência normal... O adolescente submisso é que é a exceção à normalidade”.  Isso indica que a conduta rebelde, nada mais é do que uma expressão da insatisfação com o ambiente externo e que faz parte do repertorio comportamental dos adolescentes, sendo que a ausência deste comportamento seria indícios de preocupações, pois estaria fora do padrão de normalidade. A rebeldia do adolescente está intimamente alicerçada na lógica da sociedade atual, intitulada também como a sociedade do consumo, da satisfação imediata, ou seja, essa aparente rebeldia consiste numa reprodução da interação com a sociedade pós-moderna, onde não há lugar para a falta, baseada na lógica do prazer individual absoluto (MELMAN, 1997 APUD COUTINHO, 2005).
Quando o social não oferece ao sujeito gozo que lhe é direito, este o busca através da violência, que propicia este gozo por um momento, sendo isto permitido pela sociedade atual, pela cultura do excesso e do consumo (SOUZA & SCHNELDER, 2008, p. 153).
Sendo assim, afirma-se que “o processo da adolescência não ocorre isoladamente, a família é a primeira expressão da sociedade que influi e determina grande parte da conduta dos adolescentes” (KNOBEL,1981 apud MANESCHY e IKETANI, 2002  p.13).
As identificações do adolescente com as figuras parentais permitem a significação de um conjunto de comportamentos que correspondem como um produto final da estabilidade psicobiológica frentes as experiências conflitivas.
A construção do individuo está completamente imbricada ao ambiente no qual ela se desenvolve. Assim, falar sobre o ser humano, e mais particularmente sobre o adolescente, implica perceber o ambiente e as relações que o circundam, o amparam e falam sobre ele mesmo (PAPALIA, 2000 apud JARRA, 2010, p. 19).
A adolescência não deve ser compreendida apenas em termos biológicos ou cronológicos, mas deve levar em consideração a realidade social a qual sofre influencias. 
Como pontua Bock (2002) a adolescência na nossa sociedade não pode ser definida com base num critério cronológico ou com base na aquisição de determinadas habilidades como ocorre no desenvolvimento infantil.
Conforme a abordagem sócio histórica, a adolescência é entendida como um período da vida que marca a transição para a vida adulta sendo artificialmente criada pela cultura ocidental devido aos aspectos socioeconômicos da industrialização que como alternativa aumentaram o tempo de aprendizagem dos adolescentes na escola a fim de que eles pudessem adquirir os conhecimentos necessários para participar da vida adulta.
Nota-se que a adolescência é um período de transição do desenvolvimento humano característico de algumas sociedades. Nas sociedades industriais, por exemplo, essa fase não se demarca por um rito de passagem, é entendida como um longo período de preparação da vida social do adulto, conhecida também como um período de latência social, e envolve a ocorrência de múltiplas modificações biológicas, cognitivas e psicossociais.
Bock (2002, p. 91) acredita que “[...] a adolescência refere-se, assim, a esse período de latência social construída a partir da sociedade capitalista, gerada por questões de ingresso no mercado de trabalho e extensão do período escolar, da necessidade do preparo técnico”.
Os adolescentes são obrigados a suportar um tempo de espera, de adiamento da entrada no mundo público, justamente porque não há um lugar predeterminado a ser ocupado por cada indivíduo na sociedade, tendo em vista a complexificação do processo de formação profissional, o declínio da ética do trabalho e da produção, bem como dos ideais ligados ao casamento e à família (COUTINHO, 2005, p.17).

2.7 A Privação do Vínculo Afetivo Materno e ps Atos Infracionais do Adolescente

A formação dos vínculos é eminentemente necessária para o desenvolvimento global da criança. Nesse sentido, o distanciamento, a omissão e a negligência de um cuidador nesse processo dificultam a garantia de um ambiente equilibrado, comprometendo a saúde física e mental dos indivíduos.
A fragilidades dos vínculos familiares negligenciam as condições vitais de um desenvolvimento saudável para as crianças (BOCK, 2002).
Conforme, Abreu (2005, p. 37) “a ausência sistemática das interações emocionais seguras cria um espaço de vulnerabilidade e desenvolvimento da insegurança”.
As condutas ilícitas dos menores podem emergir em função de um desordenamento interno, a partir também da vivência de um conflito deflagrado no âmbito familiar.
Segundo Winnicott (2005) quando o ambiente familiar deixa de proporcionar as características essências para a sobrevivência da criança, ela sofre privação e então passa por um processo chamado de “complexo de privação”.
Quando há a ausência da figura materna, o distanciamento da mãe no processo de desenvolvimento do filho manifesto pela sua omissão em cuidar, acariciar, brincar, segurar, enfim, em estimular o desenvolvimento psíquico e emocional da criança, pode ser acometido em suas capacidades físicas, cognitivas, sociais e emocionais, devido ao afastamento dessa mãe de sua rotina. A isso se dá o nome de “privação materna”.
Conforme, Bowlby (1981) existem vários tipos de privação, uma criança sofre privação quando não lhe é ofertado pela mãe ou pela mãe substituta, os cuidados e afetos necessários para o desenvolvimento do bem-estar psíquico e social dos filhos ou quando ela precisa ser afastada de sua mãe.
A “privação parcial” ocorre quando a mãe mesmo convivendo no mesmo ambiente que a criança, se ausenta e negligencia os cuidados, delegando a outras pessoas os cuidados que seriam de sua responsabilidade, isso pode acontecer por questões de trabalho, falta de tempo, ou por inconscientemente não perceber a importância dos afetos.
A “privação quase total” ocorre onde a criança fica institucionalizada, sendo difícil ter uma figura que lhe proporcione segurança, e também, a “privação total”, onde há uma ruptura na relação materno-filial, a mãe morreu ou abandono o filho, e este não tem nenhuma figura substituta que possa lhe assegurar os cuidados necessários.
Chama-se “privação da mãe” a situação na qual uma criança não encontra este tipo de relação. É uma expressão ampla, que abrange um grande numero de situações diferentes. Assim, uma criança sofre privação quando, vivendo em sua casa, a mãe é incapaz de proporcionar-lhe os cuidados amorosos de que as crianças pequenas precisam. E ainda, uma criança sofre a privação se, por qualquer motivo, é afastada dos cuidados de sua mãe [...] (BOLWBY, 1981, p. 14).
Destarte, é a “mãe simbólica” quem vem ao socorro do bebê quando esta lhe pede algo, é ela quem amamenta, quem toca e quem garante os primeiros cuidados para a sobrevivência do mesmo.
Quando suas demandas não são supridas, a criança se sente desamparada, a falha sofrida nessa interação poderia ser suprida pelo ato infrator, que viria como uma possibilidade de recuperar a falta de uma palavra que não foi dita a “coisa-criança”, que teria sido negligenciada, sem antes ocupar para a mãe um lugar simbólico e imaginário que o ajudasse a desenvolver sua estrutura psíquica (FREUD 1973 apud BENHAIM, 2008).
A mãe, de algum modo “desiludindo-o sem suporte, não o permitiu habitar um lugar, o da ilusão, o do objeto achado-criado, que ele então teria podido abandonar” (BENHAIM, 2008).
O sentimento de abandono vivenciado pelos adolescentes é explicado por meio das interações familiares que apontam dois aspectos, físicos e afetivos. O primeiro relaciona-se a ausência dos cuidados por parte de um dos genitores, que negligenciam os cuidados higiênicos, e também no que concerne ao amparo, o segundo, faz menção ao abandono afetivo que trata da negligência de carinho, amor e de um equilíbrio emocional (BOCCA, 2009).
A partir do experimento de Harlow citado por Gomide (2009) verificou-se que o “calor materno” é mais importante do que o “alimento materno”. Por isso, este estudioso constatou que a mãe que não delega cuidados aos filhos, que não toca, não escuta, não motiva e que não informa o que é certo ou errado, era considerada uma mãe negligente, que com esses comportamentos, privavam os filhos de estabelecer um vínculo afetivo capaz de promover segurança.
Nesse sentido, ocorrem vários fatores que contribuem para a negligência materna que podem se tratar das ocupações profissionais que não permitem manter um contato satisfatório com os filhos ou as mães que decidem viver o seu próprio mundo e não conseguem satisfazer as necessidades dos filhos.
A negligência é considerada um dos principais fatores, senão o principal, a desencadear comportamentos antissociais nas crianças, e está muito associada à história de vida de usuários de álcool e outras drogas e de adolescentes com comportamento infrator (GOMIDE, 2009, p. 69).
A privação materna nos primeiros anos de vida devido ao desamparo, a negligência ou o abandono faz com que as crianças não recebam os cuidados maternais adequados para o desenvolvimento das suas capacidades, isso pode trazer consequências posteriores tendo efeitos duradouros e danosos sobre o desenvolvimento da personalidade dos adolescentes.
De acordo com os estudos de Bowlby (1981), as privações sofridas pela criança nos seus primeiros relacionamentos permitiram a construção de autoimagem desvalorizada e de um ego grandioso capaz de utilizar de alguns artifícios aprendidos socialmente para compensar os cuidados que lhe foram negligenciadas na primeira infância (LARANJEIRA, 2007).
Bowlby (1981) verificou claramente que as vivências em um ambiente familiar desfavorável suscitam nas crianças, angústias. Notou-se ainda, que a maior parte das situações de angústia precoce entre elas eram evidências específicas da “privação parcial” materna. Para Bowlby (1981, p. 14), “A privação parcial traz consigo a angústia, uma exagerada necessidade de amor, fortes sentimentos de vingança e, em consequência sentimento de culpa e depressão”.
As crianças foram privadas de todas as carícias e brincadeiras, da intimidade da amamentação através da qual a criança conhece o conforto do corpo materno, dos rituais do banho e do vestir com os quais através do orgulho e carinho materno para com seus pequenos membros, o bebê apreende o seu próprio valor. O amor e o prazer que a mãe tem com ele representam seu alimento espiritual (BOWLBY, 1981, p. 17).
Os adolescentes que passaram por padrões de apego evitativo que foram negligenciados, apresentam-se mais vulneráveis a condutas transgressoras que infringem os padrões moralmente aceitos, apresentando comportamentos, como o uso e abuso de substâncias psicoativas, o furto, a mentira, enfim atos antissociais (ABREU, 2005).
A rejeição materna na fase inicial do desenvolvimento humano pode levar o adolescente a procurar os caminhos ilícitos, através da prática de delitos e de condutas infracionais, como uma tentativa para buscar o seu reconhecimento e para contestar o modo como se configuraram as suas relações familiares.
Para Calligaris (2009, p. 33) “o adolescente na procura de reconhecimento, é culturalmente seduzido a engajar por caminhos tortuosos onde, paradoxalmente, ele se marginaliza logo no momento em que viria a se integrar”.
A infração ou o delito consiste numa tentativa acionada pelo adolescente de chamar atenção e obter reconhecimento. Ele força a sua inserção no convívio social mesmo burlando ou transgredindo aquilo que é socialmente aceito.
Em concordância, Oliveira (2001) apud Bocca (2009, p. 176) afirma que o “adolescente dito infrator está desalojado e busca, de forma exacerbada, um atalho para o reconhecimento”.
A criança que sofreu privação materna precoce pode ser acometida por transtornos do ego como profundo masoquismo, dependência excessiva e caráter delitivo e estado depressivos do adulto. Além disso, pode apresentar forte tendência às relações sexuais promiscuas e furtos (SCHMITZ, 2005, p. 48).
Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no que concerne, o Art. 103 “considera-se o ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal” (BRASIL, 2010, p. 63). Diz respeito, aos atos que transgridem as normas de convivência social, para os quais se prevê uma pena.
Segundo Paiva (2008) não se tem uma teoria que explique a prática de ações infracionais com base em fatores genéticos. A compreensão das condutas dos sujeitos só pode ser justificada se levar em consideração a realidade biopsicossocial a partir da inserção deste sujeito num determinado momento histórico.
Estudos realizados acerca da origem dos comportamentos infracionais permitem entender que existem múltiplos fatores que podem culminar na conduta antissocial. Porém, um dos fatores mais significativos consiste nas interações familiares, principalmente no que concerne a privação materna, vivenciada como um “abandono”.
Segundo Laranjeira (2007), a relação entre a adolescência e os atos infracionais tem sido analisadas a partir de uma estratégia normal do desenvolvimento sendo um comportamento necessário para a socialização dos indivíduos, dessa forma as condutas ilícitas são consideradas como normativas já que condiz a uma tentativa de reorganização de um conflito intrapsíquico.
As infrações podem surgir como estratégias de organizar a desordem interior, vivida com medo. Este perigo interno é projetado em objetos externos precisos: os pais, os professores, os policiais, ou outros vividos como representantes da autoridade (LARANJEIRA, 2007, p.223).
A problemática dos atos infracionais na adolescência trata-se de uma situação da atualidade. Embora Aberastury & Knobel (1981) postulem a existência de uma “crise normal da adolescência”, onde a conduta patológica estaria dentro do padrão da normalidade decorrente do processo normativo de socialização, a estrutura psíquica do adolescente está em processo de formação e encontra-se em situações de vulnerabilidade. O fenômeno do adolescente em conflito com a lei que prática atos de natureza anti-social, apresentando condutas infratoras tem concordância baseada em uma sociedade do consumo, a qual ora percebe o adolescente como vítima desse sistema ora como um agente que opta por essa prática para satisfazer suas necessidades (BOCCA, 2009).
O limiar que separa as condutas normativas das patológicas perpassa uma linha tênue, em vista de que nessa fase do desenvolvimento, o individuo passa por um processo de intensas crises, instabilidades e conflitos (SOUZA & SCHNEIDER, 2008).
Portanto Freud (1958) apud Aberastury & Knobel (1981) acreditava ser difícil assinalar na adolescência uma limitação entre o que é normal ou patológico, por se tratar de um período transitório, essa definição seria um tanto difícil de ser demarcada, pois toda a resposta eliciada pelo adolescente, nesse período seria pontuada como normal.
Ainda que, Aberastury & Knobel (1981) evidenciem que possa haver uma predisposição para uma determinada conduta, o papel da família é imprescindível para assegurar um desenvolvimento saudável nas relações do adolescente. Para Oliveira (2001), o adolescente dito infrator não é somente o efeito de uma história pessoal, mas também um representante do conflito vivenciado na realidade social. “Assim, o adolescente que se encontra em conflito com a lei expressa, através de seus atos, o “mal-estar” de sua época, seus desassossegos, suas angústias, seus abandonos vividos em tempos de globalização” (OLIVEIRA, 2001) apud (BOCCA, 2009).
O sofrimento, a contradição, a confusão, os transtornos são destes modos inevitáveis; podem ser transitórios, podem ser elaboráveis, mas devemos perguntar-nos se grande parte da sua dor não poderia ser suavizada mudando estruturas familiares e sociais (ABERASTURY & KNOBEL, 1981, p. 17).
Os adolescentes frente aos conflitos intrapsíquicos não elaborados, da necessidade de reconhecimento do ego e da busca de uma identidade que lhe garanta a condição de adulto, utiliza do mecanismo de atuação, acting out, para ir em busca de um objeto transicional que satisfação o seu desejo(SOUZA & SCHNEIDER, 2008).
A prática de atos infracionais representa um sintoma caracterizado por uma dificuldade na capacidade para estabelecer as relações de vínculo afetivo, devido a uma falha ocorrida num determinado momento do período do desenvolvimento infantil em virtude da convivência dentro de um ambiente familiar desfavorável (BOWLBY, 1997).
Segundo Winnicott (2005) a privação da vida familiar tem uma forte relação com as condutas infratoras dos adolescentes apresentadas como comportamentos considerados anti-sociais como: uso abusivo de drogas, rebeldia, furtos, roubos e prostituição. Segundo o autor citado, em relação ao furto da criança entende-se que:
A criança que furta um objeto não está desejando o objeto roubado, mas a mãe, sobre quem ela tem direitos. Esses direitos derivam do fato de que (do ponto de vista da criança) a mãe foi criada pela criança. A mãe satisfaz a criatividade primária da criança, e assim, converteu-se no objeto que a criança estava disposta a encontrar (WINNICOTT, 2005, p. 141).
Para tanto, os indivíduos que praticam ações delitivas, expressam de alguma forma a história que vivenciam ou que vivenciaram.
Os jovens, quando cometem algum tipo de infração, trazem em seus atos violentos suas histórias, seus projetos de vida e muitos deles o projeto de morte, agressões sofridas e outros fatos negativos que marcam suas vidas e as de seus familiares, fatos esses que se somam às inúmeras violências de um mundo onde a existência é marcada pelo ter, em face ao ser (BOCCA, 2009, p. 169).
Destarte, segundo Leal (1998) apud Paiva (2008, p. 42) “estes adolescentes vivem com baixa autoestima, agressividade acentuada, frustrações, dificuldades de estabelecer vínculos afetivos e de aceitar as normas e regras sociais, apresentando uma ameaça para si e para a sociedade”.
Os estudiosos constataram que as crianças que cometeram diversos crimes, que pareciam não ter sentimento por ninguém e com as quais era muito difícil lidar, tinham tido um relacionamento profundamente perturbado com suas mães nos primeiros anos de vida. O roubo contumaz, a violência, o egoísmo e a má conduta sexual são algumas de suas características menos agradáveis (BOWLBY, 1981,35).
Dessa forma, entende-se que "quanto mais forem atendidas as necessidades básicas da criança, tanto mais positivo será o ego e sua emotividade. Não basta cuidar, fazer coisas: é preciso falar, tocar, acariciar, estimular" (SCHIMITZ, 2005 p.182).
A criança que não obteve o sentimento de segurança em sua casa busca fora do seu lar, recorrer à sociedade, ao invés da família ou à escola para encontrar a estabilidade que necessita, a fim de seguir o curso do seu desenvolvimento e crescimento emocional (WINICOTT, 2005).
Entende-se que a prática da infração consiste na busca exagerada para encontrar o reconhecimento que lhe foi negado devido à privação da figura materna no desenvolvimento das potencialidades do menor. Diante disso, “o fracasso do desenvolvimento da personalidade nas crianças que sofrem privação é, talvez, melhor compreendido quando se considera que é a mãe que, nos primeiros anos de vida da criança, funciona como sua personalidade” (BOWLBY, 1981, p. 61).
Para tanto, é necessário (re) pensar o adolescente considerado autor de uma conduta infratora, sob a visão de uma condição de vida e não de uma natureza infratora, pretende-se com isso, que ele próprio possibilite a elaboração dos seus atos, objetiva-se assim que ele possa dar um novo sentido para sua existência (BOCCA, 2009).
Nesse sentido, o art.101 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê: “(...) a autoridade competente poderá determinar (...) requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatório” (BRASIL, 2010, p.37). De acordo com isso, o adolescente dito infrator tem por direito o acesso ao acompanhamento psicológico. É importante salientar que para esses adolescentes infratores a psicoterapia pessoal se faz necessária no sentido de permitir que ele seja capaz de repensar o sofrimento causado pela privação a fim de possibilitar o seu desenvolvimento saudável, proporcionando através da escuta terapêutica uma possibilidade de elaboração das suas questões individuais e a sua reinserção na sociedade.

3. Considerações Finais

A análise sóciohistórica da família permite entender as mudanças sociais que envolveram a família e como essa instituição se mantém na atualidade. Percebe-se que ao longo da história vários conceitos e funções da família foram arquitetados, no entanto, alguns permaneceram e outros foram reajustados como resultado das circunstâncias históricas, sociais e ideológicas. Dessa forma, as modificações nas estruturas familiares também modificaram as funções parentais que acompanharam o processo evolutivo e metamórfico da família.
Na atualidade, a estrutura familiar não segue o modelo triangular, composta pelo pai (provedor), mãe (socializadora) e filhos. Com a ascensão da mulher no mercado de trabalho, as atividades profissionais aliadas com a função provedora da mulher além da socialização dos filhos, sobrecarregaram a mulher e contribuíram para o afastamento materno no processo de socialização dos filhos, no envolvimento emocional e afetivo que passou a ser delegado a outras instâncias.
A privação parcial do vínculo afetivo materno, em virtude das ocupações, da falta de tempo, da possível negligência e ausência dos cuidados maternos interferem de modo satisfatório no desenvolvimento global da criança. Essa privação ocorre, quando as mães convivendo no mesmo lar da criança, não tem tempo para se dedicar aos filhos, delegando essas funções as babás, a creche, a parentes, outras instituições.
Embora, a mãe ofereça um cuidador substituto para essa criança, esse, não oferece a segurança e a proteção necessária para o seu desenvolvimento. Os cuidadores nem sempre possuem o envolvimento emocional necessário para o desenvolvimento do psiquismo dessa criança.
Os cuidados maternos são essenciais para o desenvolvimento futuro das crianças, pois essas relações são vitais para o desempenho das potencialidades e da personalidade das crianças e adolescentes.
A qualidade do vínculo afetivo proporciona uma base segura para o desenvolvimento da personalidade e das potencialidades dos indivíduos, estes se sentem seguros e potencialmente capacitados para fazer suas escolhas. A ocorrência de vínculos inseguros e ansiosos geram instabilidades emocionais e acometem a conduta futura dos adolescentes.
Embora, a adolescência seja uma fase caracterizada por desequilíbrios e instabilidade em busca de sua personalidade, o adolescente passa por vários processos, como rebeldias, transgressões e condutas delituosas, que fazem parte do processo normativo de socialização.
O desenvolvimento da personalidade ocorre a partir das interações estabelecidas entre o individuo em formação e o ambiente social que ele está inserido. Através das experiências vivenciadas, este sujeito internaliza alguns aspectos dessa realidade objetiva e adquiri os comportamentos pertinentes para a vida social.  Porém, quando há a privação da figura materna na primeira infância, as crianças sentem falta de uma base segura que lhe resguarde os cuidados necessários para desenvolver suas potencialidades, em virtude do exposto, ocorre uma falha no desenvolvimento físico, mental, psicossocial e emocional do adolescente o que possibilita a inserção do mesmo como membro infrator, que por não conseguir assimilar as regras de convivência social vêem na transgressão um ato de compensar a angústia da ausência da mãe real.
Por conta disso, os adolescentes convivendo com todos os seus conflitos internos e também direcionado a cultura do imediatismo, precisam de um suporte que lhe ensinem aquilo que é correto, por meio das relações afetivas e de intimidade.
Logo, havendo a privação do vínculo materno o adolescente sente dificuldades em lidar com as exigências sociais, encontrando possivelmente no ato infracional a possibilidade de adquirir o que ele realmente deseja o objeto transional de amor que lhe foi ausente.
Portanto, a privação do vínculo afetivo materno possivelmente contribua para as condutas infratoras dos adolescentes na atualidade. Em vista de que o suporte seguro e protetivo foi ausente quando este era criança, suprimindo o objeto que ele mais queria, a sua mãe. Dessa forma, as condutas infratoras possivelmente são utilizadas como uma tentativa de reorganizar o caos interior deflagrado pela ausência materna.
Assim, não se culpabiliza a família e nem a mãe, imputando-lhe a responsabilidade pelo ato infracional do adolescente, mas sim se esclarece que com a privação dos cuidados maternos pode-se acarretar na identificação do adolescente como sujeito infrator.   Pois, não se pode ter uma visão linear diante das influências da estrutura familiar na formação da conduta do adolescente e não se pode eximir a sociedade da sua responsabilidade. Diante do exposto, percebe-se que o imediatismo seguido do consumismo da atualidade impõe ao adolescente a satisfação absoluta de suas necessidades, e quando o social não lhe oferece também o suporte necessário, ele busca na infração aquilo que ele deseja.
Entende-se que a ausência materna na relação afetiva, se configura como uma realidade social, o imediatismo da sociedade atual, impõe que o adolescente, que foi acometido pela privação na infância, não tenha tempo para ressignificar essas vivências buscando, uma alternativa que supra a sua necessidade.
Esta pesquisa consiste na busca de agregar informações no campo da psicologia com o intuito de lançar luz aos conhecimentos para que novas pesquisas sejam realizadas sobre o tema e para que haja informações complementares acerca da privação do vínculo afetivo materno como um fator contribuinte para a adesão do adolescente ao ato infracional na atualidade.

Sobre o Artigo:



Fonte: http://artigos.psicologado.com/atuacao/psicologia-da-familia/a-privacao-do-vinculo-afetivo-materno-pode-contribuir-para-o-ato-infracional-do-adolescente-na-atualidade#ixzz2Wy0fPLxb
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